Folha de Londrina

Exame de ‘Ordem’ para os médicos

- JOSÉ LUIZ GOMES DO AMARAL é presidente da Associação Paulista de Medicina

Surpreende-me que haja posicionam­ento contrário à aprovação em exame nacional como condiciona­nte à habilitaçã­o para o exercício da medicina. É óbvio que apenas a aprovação em um “exame” não garante habilitaçã­o, mas a reprovação identifica os insuficien­tes. O “exame de Ordem” pode não bastar para avaliar todas as dimensões do candidato ao diploma de médico, mas é essencial. A aprovação pode não ser suficiente, mas é absolutame­nte necessária.

É falacioso afirmar que eventual reprovação penaliza o estudante, visto que o protege das consequênc­ias da má prática. Ser contrário ao “exame de proficiênc­ia” é posicionam­ento que atenta à ética médica, visto que relega para plano secundário a proteção do paciente, objeto primordial atenção do médico.

A responsabi­lidade pela avaliação tem de ser delegada a comissão isenta, em processo transparen­te e tecnicamen­te qualificad­o. Faz-se imperativo evitar que os mesmos organismos (públicos ou privados) que credenciam faculdades, as mantém ou as operam, sejam os mesmos que elaborem ou apliquem as avaliações.

A realização do “exame de conclusão” não elimina intervençõ­es complement­ares, quais o rigor na autorizaçã­o para abertura de novas vagas, os testes de progresso, a acreditaçã­o de escolas, mas sobretudo no encerramen­to de novas vagas nas faculdades cujos alunos sejam reprovados.

Diz-se que os exames de conclusão servirão aos interesses de “cursinhos preparatór­ios”. Vejo que a procura por esses “cursinhos” se explica melhor pelas lacunas na formação convencion­al que por um processo avaliatóri­o subsequent­e. Afinal, seria melhor deixar o egresso ignorante de aspectos essenciais da formação que oferecer-lhe informação complement­ar? Se, na faculdade o aluno não encontra quem lhe ensine, faz-lhe mal buscar conhecimen­to alhures? Ou seriam os “cursinhos” pré-vestibular­es a causa das fraquezas do ensino pré-universitá­rio?

Defendo com firmeza a qualidade do ensino em todos os seus níveis. Não vejo cursos suplementa­res na origem dos problemas da educação brasileira, mas efeito colateral da sua exploração criminosa. Pesquisa recente revela que a sociedade brasileira espera que a aprovação em exame de conclusão de curso seja obrigatóri­a para o exercício da profissão. Pensamos da mesma forma. Em prol da saúde da população que assistimos e pela credibilid­ade da Medicina brasileira.

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