Elas querem. E conseguem
É uma constante do cinema de Hollywood: as estrelas da terceira idade habitam a comédia como um passo anterior à sua aposentadoria ou, paradoxalmente, como um retorno da mesma. Geralmente comédias como esta “Do Jeito que Elas Gostam”, em exibição na cidade (obviamente em salas vip) não são enfatizadas enquanto argumentos. Elas cumprem suas trajetórias especialmente apoiadas pelo brilho dessas estrelas em papéis feitos sob medida.
Estreia na direção do roteirista e produtor Bill Holderman, o filme tem como título original “The Book Club/O Clube do Livro”, e se parece mesmo com pelo menos um par de produções anteriores sobre tema parecido: “O Clube do Livro” (2006) e “O Clube de Leitura de Jane Austen” (2007), sobre textos literários que transformavam a vida dos protagonistas. Aqui, o roteiro se encarrega de motivar a vida de quatro melhores amigas que vivem a segunda metade de seus respectivos séculos – as idades oscilam entre 65 e 80. A insegura Diane (Diane Keaton), a animada e independente Vivian (Jane Fonda) , a sarcástica Sharon (Candice Bergen) e a inquieta Carol (Mary Steenburgen). Cada uma a seu modo carrega boa dose de insatisfação. A leitura de “50 Tons de Cinza”, a trilogia erótica de E.L. James pode dar um colorido extra à suas vidas burguesas. Claro que sem sadomasoquismo e com moderadas tonalidades de drama, já que estamos em território de descompromissada comédia ligeira, embora madura.
Esse quarteto de aventuras individuais chega ao espectador em voo ultra leve, e com finalidade indiscutível: fazer com que cada uma das atrizes brilhe com a maior intensidade possível. O conjunto resulta intranscendente, em especial com relação às preocupações afetivas. Que no fundo é o tema central do argumento, que não é lá muito bem amarrado. O carisma e a qualidade das quatro atrizes ajudam e muito a construir boa diversão com material que seria perigosamente rotineiro – que poderia resvalar para uma homenagem à subliteratura pós-pornô, afinal convertida em jocosa ironia sobre a idade, as relações sexuais e o gosto pela vida com suas pequenas alegrias cotidianas.
“Do Jeito que Elas Gostam” exerce a mesma atração apresentada pelas comedias românticas dirigidas aos jovens. Finais felizes e até clichês como correr ao aeroporto para impedir o embarque do “amor de sua vida”. Quais as diferenças ? O elenco, que se impõe com naturalidade, sem nenhum tour de force. E os diálogos, bem escritos. A comédia funciona por suas protagonistas, sua química e seu carisma. Inclusive a eficiente empatia trazida à cena por seus coprotagonistas masculinos, Andy Garcia, Craig T. Nelson (o detalhe do Viagra deixa o filme momentaneamente em área de risco pesado, entre outras situações que oscilam entre o ridículo e o constrangimento), Don Johnson, Ed Begley Jr. e Richard Dreyfuss. O tom do filme é idealista e no geral constrói um discurso elegante em torno da amizade regada a bom vinho branco e gerando esta sensação de escapismo momentâneo frente à realidade.
Ao final, fica o recado alentador e positivo: sempre haverá tempo para se divertir e amar sem medo. Do jeito que elas e todos nos gostamos.
Boa química, carisma, simpatia, final feliz: o clube da terceira idade se dá bem e não decepciona