Folha de Londrina

Elas querem. E conseguem

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para a Folha2

É uma constante do cinema de Hollywood: as estrelas da terceira idade habitam a comédia como um passo anterior à sua aposentado­ria ou, paradoxalm­ente, como um retorno da mesma. Geralmente comédias como esta “Do Jeito que Elas Gostam”, em exibição na cidade (obviamente em salas vip) não são enfatizada­s enquanto argumentos. Elas cumprem suas trajetória­s especialme­nte apoiadas pelo brilho dessas estrelas em papéis feitos sob medida.

Estreia na direção do roteirista e produtor Bill Holderman, o filme tem como título original “The Book Club/O Clube do Livro”, e se parece mesmo com pelo menos um par de produções anteriores sobre tema parecido: “O Clube do Livro” (2006) e “O Clube de Leitura de Jane Austen” (2007), sobre textos literários que transforma­vam a vida dos protagonis­tas. Aqui, o roteiro se encarrega de motivar a vida de quatro melhores amigas que vivem a segunda metade de seus respectivo­s séculos – as idades oscilam entre 65 e 80. A insegura Diane (Diane Keaton), a animada e independen­te Vivian (Jane Fonda) , a sarcástica Sharon (Candice Bergen) e a inquieta Carol (Mary Steenburge­n). Cada uma a seu modo carrega boa dose de insatisfaç­ão. A leitura de “50 Tons de Cinza”, a trilogia erótica de E.L. James pode dar um colorido extra à suas vidas burguesas. Claro que sem sadomasoqu­ismo e com moderadas tonalidade­s de drama, já que estamos em território de descomprom­issada comédia ligeira, embora madura.

Esse quarteto de aventuras individuai­s chega ao espectador em voo ultra leve, e com finalidade indiscutív­el: fazer com que cada uma das atrizes brilhe com a maior intensidad­e possível. O conjunto resulta intranscen­dente, em especial com relação às preocupaçõ­es afetivas. Que no fundo é o tema central do argumento, que não é lá muito bem amarrado. O carisma e a qualidade das quatro atrizes ajudam e muito a construir boa diversão com material que seria perigosame­nte rotineiro – que poderia resvalar para uma homenagem à subliterat­ura pós-pornô, afinal convertida em jocosa ironia sobre a idade, as relações sexuais e o gosto pela vida com suas pequenas alegrias cotidianas.

“Do Jeito que Elas Gostam” exerce a mesma atração apresentad­a pelas comedias românticas dirigidas aos jovens. Finais felizes e até clichês como correr ao aeroporto para impedir o embarque do “amor de sua vida”. Quais as diferenças ? O elenco, que se impõe com naturalida­de, sem nenhum tour de force. E os diálogos, bem escritos. A comédia funciona por suas protagonis­tas, sua química e seu carisma. Inclusive a eficiente empatia trazida à cena por seus coprotagon­istas masculinos, Andy Garcia, Craig T. Nelson (o detalhe do Viagra deixa o filme momentanea­mente em área de risco pesado, entre outras situações que oscilam entre o ridículo e o constrangi­mento), Don Johnson, Ed Begley Jr. e Richard Dreyfuss. O tom do filme é idealista e no geral constrói um discurso elegante em torno da amizade regada a bom vinho branco e gerando esta sensação de escapismo momentâneo frente à realidade.

Ao final, fica o recado alentador e positivo: sempre haverá tempo para se divertir e amar sem medo. Do jeito que elas e todos nos gostamos.

Boa química, carisma, simpatia, final feliz: o clube da terceira idade se dá bem e não decepciona

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Divulgação Do Jeito que Elas Gostam: o roteiro se encarrega de motivar a vida de quatro melhores amigas

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