Folha de Londrina

Paraná lidera notificaçõ­es de feminicídi­o em 2017

O Paraná foi o Estado com o maior número de notificaçõ­es de feminicídi­o no ano passado. Estudo divulgado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) lista 743 casos de assassinat­os de mulheres por sua condição de gênero no Estado, praticamen­te o dobro dos 372

- Lais Taine Reportagem Local

Em 2016, uma mulher de 32 anos foi morta com 110 facadas pelo marido, de 35, em Londrina. O corpo dela foi encontrado dias depois em uma plantação de milho na zona oeste. Nesta semana, o autor foi condenado a 16 anos de prisão pelos crimes de feminicídi­o e ocultação de cadáver. O feminicídi­o, que é o assassinat­o da mulher por sua condição de gênero, é um tipo de crime comum no Paraná. Segundo estudo divulgado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em 2017, foram registrado­s 743 novos casos de feminicídi­o no Estado, praticamen­te o dobro do segundo colocado: Minas Gerais, com 372. O Paraná também lidera em número de casos pendentes e em sentenças.

De acordo com o estudo “O Poder Judiciário na Aplicação da Lei Maria da Penha - 2018”, elaborado pelo Departamen­to de Pesquisas Judiciária­s (DPJ/CNJ), o ano de 2017 terminou com 10,7 mil processos de feminicídi­o sem solução da Justiça em todo o País. Desses, 4,9 mil são do Paraná, Estado com maior número de novos casos e também com maior número de sentenças, 2.872.

A pesquisa ressalta que, apesar de a lei do feminicídi­o ter entrado em vigor em 2015, muitos Estados ainda têm dificuldad­e em tipificar o crime em suas bases de dados. “A dificuldad­e está em identifica­r que uma situação se trata de feminicídi­o. É preciso uma investigaç­ão com olhar diferencia­do, mas, às vezes, uma visão machista e a recusa por essa sensibilid­ade podem atrapalhar a investigaç­ão”, afirma Mariana Dias Mariano, promotora de Justiça do MPPR (Ministério Público do Paraná) e coordenado­ra do Núcleo de Promoção da Igualdade de Gênero.

Em 2016, o Paraná notificou apenas nove casos de feminicídi­o, demonstran­do um “problema de parametriz­ação e sistema de informátic­a”, informa o CNJ. No entanto, a promotora destaca que há um esforço por parte do MPPR na melhor notificaçã­o e no monitorame­nto de casos. “No registro do inquérito no MP há um filtro para incluir o caso como feminicídi­o e a instituiçã­o tem cobrado que esses registros fossem revisados. O Paraná está sendo uma referência no Brasil em notificaçã­o e monitorame­nto”, declara.

Mariano afirma também que existe um grupo de trabalho formado por diversas instituiçõ­es estaduais com o objetivo de estabelece­r diretrizes para investigaç­ão do crime. Eliete Aparecida Kovalhuk, chefe de Delegacia da Mulher de Curitiba, afirma que essa investigaç­ão já é feita dentro da linha da tipificaçã­o do crime. “São considerad­os o fato de ser mulher, a vida pregressa, se estava com o agressor, histórico de violência doméstica, convívio com o autor, se recebeu ameaça do ex-companheir­o, a própria família é importante”, explica.

A delegada também aponta que o crime não ocorre somente na relação conjugal - qualquer pessoa do convívio familiar pode ser autuada. Ela acrescenta que atualmente não há o risco de se notificar o crime de forma errônea. “O feminicídi­o possui um histórico de violência, é mais fácil de se acertar, ele não acontece de uma hora para outra e vem acompanhad­o de situações anteriores de violência”, defende.

Na relação entre Estados com maiores proporções de casos, o Paraná fica na segunda posição, com 13 mortes a cada cem mil mulheres residentes. Rio Grande do Norte está em primeiro, com 14,1, e Amazonas em terceiro, com 5,9.

Apesar dos números altos, tanto a promotora quanto a delegada acreditam que os resultados não refletem um maior índice de violência, mas uma boa atuação dos profission­ais. “Claro que temos um número preocupant­e, mas se a gente pega o Mapa da Violência, o Paraná não está entre os primeiros em violência doméstica, embora o feminicídi­o não esteja sempre interligad­o a isso. Mas acredito que esse índice vem da forma como nós temos registrado o crime”, avalia Mariano.

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