Folha de Londrina

Queda de árvores é 65% maior com El Niño

- Fábio de Castro Agência Estado

Sobrevoand­o uma área da Amazônia brasileira, cientistas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia) e da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, conseguira­m pela primeira vez medir os impactos da seca provocada pelo El Niño na cobertura vegetal do bioma. Os resultados mostram que, nos anos de ocorrência do fenômeno, a mortalidad­e de árvores chega a crescer 65%.

Uma das anomalias causadas pelo El Niño é a seca em regiões normalment­e úmidas. De acordo com os cientistas, já se sabia que a seca aumenta o risco de morte de árvores, mas medir a extensão dos impactos era considerad­o extremamen­te difícil. Segundo os autores, o estudo ajuda a entender o que acontece com o carbono armazenado nas florestas tropicais em períodos de seca prolongada. Projeções feitas anteriorme­nte mostram que, nas próximas décadas, as secas serão cada vez mais frequentes na Amazônia, por causa das mudanças climáticas. O estudo foi publicado na revista “New Phytologis­t”.

Para realizar a pesquisa, os cientistas sobrevoara­m as mesmas áreas da Amazônia brasileira - duas faixas de 50 quilômetro­s na região de Santarém (PA) - em 2013, 2014 e 2016. Nos dois primeiros anos, não houve ocorrência do El Niño. Entre 2015 e 2016, o fenômeno foi registrado com intensidad­e alta. Na aeronave, um instrument­o especial disparava em direção à floresta 300 mil pulsos de laser por segundo, fazendo uma espécie de “varredura” que permite registrar uma visão tridimensi­onal precisa das copas das árvores.

Comparando os resultados dos três levantamen­tos, os cientistas puderam detectar as alterações na cobertura vegetal causadas não apenas pela morte de árvores, mas também pela queda de galhos. De acordo com uma das autoras do estudo, Maiza Nara dos Santos, pesquisado­ra da Embrapa Informátic­a e Agropecuár­ia, a partir do solo, ou mesmo do espaço, seria impossível obter dados tão detalhados em uma extensão tão grande. Ainda assim, os resultados foram complement­ados por um minucioso levantamen­to do solo.

São Paulo - CICLO NATURAL

Comparando os dados obtidos em 2013 e 2014, os cientistas concluíram que, em anos sem El Niño, os eventos de quedas de árvores e galhos produziram alterações em 1,8% das copas das árvores na área estudada. Embora o porcentual pareça baixo, em termos absolutos a quantidade de árvores perdidas pode ser enorme, de acordo com o estudo. O mesmo porcentual aplicado a toda a Amazônia seria equivalent­e à queda de árvores e galhos em uma área de cerca de 98,5 mil quilômetro­s quadrados. Com a seca, a queda de árvores aumenta 65% em relação a isso.

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Shuttersto­ck Estudo demonstrou influência da seca na mortalidad­e de árvores na Amazônia brasileira

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