Folha de Londrina

Ex-presidente uruguaio visita Lula em Curitiba

Ex-presidente uruguaio visitou Lula ontem na sede da PF, em Curitiba, na condição de amigo do líder petista

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local

O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica demonstrou preocupaçã­o ontem com a situação política e econômica da América Latina. Em entrevista coletiva na saída da Superinten­dência da Polícia Federal (PF) em Curitiba, após visitar o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que segue preso desde 7 de abril, ele frisou que seu país é pequeno, no meio dos gigantes Brasil e Argentina. “Então, quando algum vizinho nosso se resfria, o Uruguai se gripa”, afirmou.

De acordo com Mujica, a conversa foi muito cordial. “Fazia tempo que eu não o via. Eu o encontrei com bom ânimo, bom temperamen­to, com alguns quilos a menos, lendo muitos livros e preocupado, como não podia ser de outra maneira, com o futuro do Brasil e da América latina”, contou. “De que podemos conversar? Sobre tanta coisa... A preocupaçã­o com o que se passa na América... E futebol também”, prosseguiu. Ambos tinham se visto pela última vez em março deste ano, na fronteira entre a cidade uruguaia de Rivera e Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, um dos pontos de passagem da caravana “Lula pelo Brasil”.

O uruguaio chegou à sede da PF às 15h30. Primeiro, se dirigiu à militância, concentrad­a a poucos metros do prédio, na chamada “Vigília Lula Livre”. “A causa dos que lutam nunca será presa, porque caminha com as pernas e os braços dos companheir­os. Lula somos todos; todos os que têm problema na imensidão da América Latina”, discursou.

Pepe estava acompanhad­o da senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Na sequência, ele entrou na Superinten­dência, na condição de amigo pessoal do petista, e permane-

Curitiba -

ceu no local por aproximada­mente uma hora. As visitas de familiares e mais dois amigos a Lula acontecem sempre às quintas. Os nomes são informados previament­e à corporação.

Segundo o ex-presidente do Uruguai, durante todo o tempo em que esteve no Palácio do Planalto, de 2003 a 2011, o petista teve muita consideraç­ão pelas nações vizinhas, algo que ele reconhecer­á sempre. “O Brasil se comportou como uma espécie de irmão mais velho”, destacou. Mujica também falou que seu desejo de que o Brasil supere seus problemas não é gratuito, “porque se o Brasil anda bem, nós andamos bem. Mas se anda mal, nós também andamos mal. Não há como desvincula­r as economias. Por isso que minha pátria se chama América Latina”.

Questionad­o se pensa que enfrentamo­s uma crise na democracia, Pepe respondeu que não pensa, e sim vê o que está acontecend­o. “O que mais me preocupa é como o povo brasileiro pode direcionar seu futuro para enfrentar as contradiçõ­es, não perder sua alegria e não cair em uma confrontaç­ão penosa (…) Tenho mais de 80 anos.

Não vou ver, mas o mundo que vai vir necessita que nós, latino-americanos, tenhamos atitude e grandeza de nos darmos conta de que temos de ter um forte vínculo, porque senão, nós não existiremo­s”, acrescento­u.

GLEISI

A senadora deixou a PF um pouco depois de Pepe Mujica e também conversou com jornalista­s e correligio­nários. Segundo ela, o encontro dos dois ex-presidente­s foi emocionant­e. “O Mujica falou para ele [Lula] da época em que foi preso, das condições, o Lula contou a sua experiênci­a e eles também falaram da América Latina, sobre fazer uma ofensiva ao que está acontecend­o com a direita, os processos de destruição dos direitos dos trabalhado­res e da nossa democracia”, relatou.

Ainda conforme a petista, o ex-mandatário uruguaio reconheceu a liderança do brasileiro. “Ao final, ele disse para o Lula o que o Lula tem dito para nós: ‘te prenderam no físico, mas não prenderam a sua cabeça e o seu coração”. Gleisi também afirmou que conversou com Lula sobre a pré-campanha. “Foi um despacho que fizemos . O presidente está muito animado, fez um manifesto que lemos no lançamento da pré-candidatur­a dele em Minas”. O documento, completou, será impresso e distribuíd­o para a população, assim como as principais propostas que integrarão o plano de governo do PT.

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Everson Bressan/Futura Press/Estadão Conteúdo Aos 80 anos, José Mujica afirmou desejar que as nações latinoamer­icanas mantenham um forte vínculo entre si “porque senão não existiremo­s”
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