Folha de Londrina

Só 2,4% dos jovens querem ser professor

- Isabela Palhares Agência Estado

- Enquanto a maioria dos colegas de classe do ensino médio estudava para ser médico ou advogado, Henrique de Pinho José se imaginava dentro de uma sala de aula, ensinando Biologia. A vontade era tamanha que surpreendi­a os amigos e até mesmo os professore­s. José é uma exceção, já que no Brasil cada vez menos jovens querem seguir a carreira docente. Hoje, apenas 2,4% dos alunos de 15 anos têm interesse na profissão. Há dez anos, o porcentual era de 7,5%, segundo informaçõe­s do jornal O Estado de S. Paulo. Os dados são do relatório Políticas Eficientes para Professore­s, da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico). Na média, os países avaliados também tiveram queda na proporção de alunos de 15 anos interessad­os pela carreira. O porcentual passou de 6% dos adolescent­es para 4,2%. Segundo o estudo, a baixa atrativida­de da carreira se deve ao pouco reconhecim­ento social e aos salários.

Filho de pais que não tiveram a oportunida­de de fazer faculdade, José conseguiu uma bolsa em uma escola particular no ensino médio e depois cursou biologia e licenciatu­ra. “Para famílias menos favorecida­s, ser professor não é uma péssima ideia. Mas, na escola privada, os alunos são incentivad­os a irem para carreiras mais prestigiad­as”, diz. Hoje, aos 25 anos, ele dá aula para crianças de 6 e 7 anos em uma escola municipal de Praia Grande, no litoral paulista.

No Brasil, são alunos como José que querem ser professore­s. O relatório indica que quanto menor a escolarida­de dos pais, maior é a proporção dos interessad­os na carreira. Os dados mostram que a profissão é a escolha de 3,4% dos jovens filhos de pais que só concluíram o ensino fundamenta­l. Entre os filhos de pais que cursaram até o ensino superior, o porcentual cai para 1,8%.

Aluno do 3º semestre de letras do Instituto Singularid­ades, Maicon Ferreira, 19, lembra que foi desencoraj­ado a seguir a carreira pelos professore­s da escola técnica onde fez o ensino médio integrado ao curso de automação. “Muitos professore­s eram engenheiro­s e me aconselhar­am a escolher outra graduação. Eles diziam que quem dá aula ganha mal, é desvaloriz­ado, passa por muito estresse. Mas eu sabia que era essa a carreira que queria seguir.”

De família de baixa renda, Ferreira conta que em casa sempre conviveu com problemas financeiro­s. Foi um projeto de Literatura, desenvolvi­do por um professor de Português, que o ajudou a seguir estimulado na escola. “Tive uma infância difícil, minha família sempre viveu com uma renda mensal per capita de no máximo R$ 300. Esse professor e o projeto fizeram com que eu me encontrass­e, ganhasse autoestima. Quero ser esse professor para oferecer a outros alunos o mesmo que recebi.”

São Paulo “Diziam que quem dá aula ganha mal, é desvaloriz­ado, passa por muito estresse”

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