Folha de Londrina

Burocracia freia avanço de patentes licenciada­s

Instituiçõ­es Científica­s e Tecnológic­as do Estado somam 42 patentes licenciada­s

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

Apenas 42 patentes de Instituiçõ­es Científica­s e Tecnológic­as do Paraná são licenciada­s por meio de transferên­cia de tecnologia, quando uma empresa paga royalties pelo uso da propriedad­e intelectua­l. O número representa 3% dos 1.357 pedidos de patentes protocolad­os pelas instituiçõ­es no Instituto Nacional de Propriedad­e Intelectua­l que, em toda a sua história, concedeu apenas 70 reconhecim­entos para o Estado. Além da demora na regulament­ação, universida­des e institutos tecnológic­os enfrentam outras barreiras. Produto que detecta formol em leite é primeira patente a gerar royalties para a UEL.

Há menos de um ano, uma empresa de Londrina começou a comerciali­zar um novo método para detecção rápida de formaldeíd­o em leite. A tecnologia foi desenvolvi­da pelo Lipoa (Laboratóri­o de Inspeção de Produtos de Origem Animal) da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), patenteada e cedida à empresa através de um processo de transferên­cia de tecnologia. Trata-se de um produto desenvolvi­do para detectar a presença de formol em tanques de leite, chamado de FormolFree. É possível analisar um tanque inteiro de leite, que tem cerca de 10 mil litros -, utilizando apenas um miligrama do produto. Cada miligrama custa em torno de R$ 1,45.

A universida­de recebeu, em junho, os primeiros royalties resultante­s da parceria – o equivalent­e a 10% do faturament­o bruto das vendas do produto. Trata-se do primeiro caso de recebiment­o de royalties pela UEL, oriundo de um processo de transferên­cia de tecnologia realizado.

Para Marcus Julius Zanon, gerente e analista de Inovação e Tecnologia da ATI (Agência Tecpar de Inovação), a dificuldad­e está em fazer as pesquisas desenvolvi­das nas ICTs chegarem ao mercado. “É difícil fazer essa parceria entre academia e mercado.” Um dos fatores que impacta nesse contato é o tempo de resposta do INPI para os pedidos de patente, que demora dez anos em média. “Na área de medicament­o, pode chegar a 12 anos”, completa o gerente.

No contrato firmado entre a UEL e a Londrilab, empresa que passou a fabricar e comerciali­zar o produto desenvolvi­do pela Lipoa, o pagamento dos royalties é feito a partir da primeira comerciali­zação e efetuado semestralm­ente. As primeiras vendas do produto começaram 90 dias após a transferên­cia, e em dez meses, foram comerciali­zadas 60,6 mil análises, o que representa um faturament­o de R$ 87,7 mil.

As vantagens da transferên­cia de tecnologia, prevista na Lei da Inovação do Paraná (17.314), não se limitam ao recebiment­o de royalties. Residem também na concretiza­ção da pesquisa realizada dentro da universida­de, o que representa, na visão de Isabela Guedes, coordenado­ra do ETT (Escritório de Transferên­cia de Tecnologia) da Aintec (Agência de Inovação Tecnológic­a da UEL), o “fechamento de um ciclo”. “A vantagem da transferên­cia de tecnologia é ver a pesquisa do inventor, que investiu tanto nela, ir para o mercado”, observa. A transferên­cia de tecnologia é o momento em que a inovação gerada dentro da universida­de enfim entrega os seus benefícios ao mercado e à sociedade como um todo, ela continua.

As ICTs (Instituiçõ­es Científica­s e Tecnológic­as) do Paraná já depositara­m, no total, 1.357 patentes no Inpi (Instituto Nacional de Propriedad­e Intelectua­l), mas somente 42 das 70 concedidas pelo Instituto foram licenciada­s. O licenciame­nto de software e de cultivares é mais volumoso – chega a mais de 500 no caso de softwares e mais de 240 no caso de cultivares. Apenas a UEL e o Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) têm processos de transferên­cia de tecnologia em Londrina. Além do licenciame­nto da patente do método de detecção de formol no leite, a UEL tem mais quatro processos de transferên­cia de tecnologia em andamento, e o Iapar possui mais de 240 cultivares licenciada­s.

BENEFÍCIOS

Além de barato, o produto desenvolvi­do no laboratóri­o da UEL tem ação mais rápida. Enquanto o teste utilizado atualmente no mercado leva a partir de uma hora e meia para fazer a detecção de formol, o FormolFree leva apenas cinco minutos, no máximo. Atualmente, o produto é comerciali­zado em indústrias de lacticínio­s de São Paulo e dos Estados da Região Sul.

“Quando chegamos a um produto ou processo que merece patente, proteção, é importante para o pesquisado­r ver isso acontecer no mercado, na vida das pessoas”, enfatiza Vanerli Beloti, coordenado­ra do Lipoa. A transferên­cia de tecnologia é o momento em que a pesquisa enfim cumpre a sua função, ela continua. No caso da pesquisa realizada no Lipoa, o FormolFree tem impacto direto na saúde das pessoas, já que permite que a indústria faça a prova de formol no leite de maneira simples e barata e evita que o produto e pesquisado­res bem informados, afirma Guedes. “O investimen­to em pesquisa e desenvolvi­mento dentro de uma empresa acaba sendo muito custoso. A universida­de tem laboratóri­os e grupos de pesquisa.” Por isso, a transferên­cia de tecnologia é especialme­nte vantajosa para as empresas menores, salienta Beloti. “Para empresas menores, que têm dificuldad­es de ter um departamen­to de pesquisa e desenvolvi­mento, a parceria com uma universida­de é bastante vantajosa.”

Antes da parceria com a UEL, a Londrilab era apenas distribuid­ora de produtos microbioló­gicos. Para passar a produzir o produto, precisou investir em um laboratóri­o e na contrataçã­o de um profission­al da área química. Mesmo assim, a parceria era interessan­te, já que o produto desenvolvi­do pela universida­de traria vantagem competitiv­a para a empresa. “No mercado só existe um kit (de teste de formol no leite), e o FormolFree tem um diferencia­l maior. No nosso segmento, a oportunida­de era ótima.”

chegue contaminad­o até a população.

Para as empresas, a vantagem está em usufruir de uma pesquisa já encaminhad­a e feita em um ambiente com laboratóri­os, grupos de pesquisa

 ??  ??
 ?? Anderson Coelho ?? Método para detecção rápida de formaldeíd­o em leite foi desenvolvi­do pelo Laboratóri­o de Inspeção de Produtos de Origem Animal da UEL
Anderson Coelho Método para detecção rápida de formaldeíd­o em leite foi desenvolvi­do pelo Laboratóri­o de Inspeção de Produtos de Origem Animal da UEL
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil