Folha de Londrina

Jovens se organizam para ocupar espaço na política

Desejo de renovação e mudança move o surgimento de movimentos supraparti­dários visando as eleições deste ano

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local Curitiba

- Na contramão de pesquisas como a última do Datafolha, de maio, segundo a qual 62% dos brasileiro­s entre 16 e 24 anos gostariam de se mudar do País, grupos de jovens vêm se organizand­o para não só permanecer aqui, como mudar a realidade que vivenciam. As estratégia­s de iniciativa­s como o RenovaBR, o Agora!, o Acredito, a Bancada Ativista e a RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabi­lidade), todas autointitu­ladas supraparti­dárias, são diferentes. O foco, contudo, é o mesmo: ocupar os espaços de poder.

“O que eu vejo é que existe um conflito geracional entre quem está na política e quem está na juventude. Somos governados pelos nossos pais. A média de idade no Congresso Nacional é de 51 anos. Mas a maioria da população em idade de mercado de trabalho é juventude”, disse Luis Lelis, de 25 anos, um dos membros do RenovaBR no Paraná. Criado em outubro de 2017, o movimento reúne pessoas de perfis, ideologias e causas diversas, que passam por uma formação e recebem bolsas de R$ 5 mil a R$ 12 mil. A intenção é que elas possam se preparar para disputar as eleições.

“O mercado está se inovando, se adaptando, através de startups e do empreended­orismo, mas quem escreve as leis e governa o País tem uma visão do século passado. O jovem está discutindo política, está se interessan­do e, quando olha para os políticos, não se vê representa­do”, opinou Lelis. Pré-candidato a deputado estadual pelo PPS, ele trabalhou no último ano na Assessoria Especial de Políticas Públicas para a Juventude do governo Beto Richa (PSDB). Também estudou Economia, porém, graças à bolsa, deixou as atividades para se dedicar temporaria­mente à campanha.

Idealizado pelo empresário Eduardo Mufarej, sócio do fundo de investimen­to Tarpon, o Renova tem entre seus financiado­res o apresentad­or de televisão Luciano Huck. “As bolsas são iguais para todos e não temos muito contato com eles [patrocinad­ores]. A maioria nem sabemos quem é. Tivemos apenas uma conversa em grupo com o Huck. A ideia é que pessoas como eu, que estava trabalhand­o, pagando aluguel e não tinha como me dedicar a uma campanha, possam também entrar na política, alcançar um protagonis­mo”, explicou.

O mercado está se inovando, mas quem escreve as leis e governa o País tem visão do século passado” RENOVAÇÃO

A coordenado­ra do Agora! na região sul, Natalie Unterstell, de 34 anos, chegou a morar fora do Brasil. Decidiu retornar justamente para disputar sua primeira eleição. Ela é pré-candidata a deputada federal pelo Podemos. “Tenho uma carreira internacio­nal, de negociador­a na ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas) nesses temas de floresta e mudança do clima. Em 2016 estava fazendo mestrado pela Universida­de de Harvard e todo mundo falando: ‘não volte’. Eu tinha propostas para ficar nos Estados Unidos ou ir para a China, mas resolvi voltar”, contou.

“A razão principal é a renovação política. Acredito realmente que ninguém vai fazer mágica. É o contrário. A situação está cada vez mais difícil. Mas se não for agora, vai ser quando?”, questionou. De acordo com ela, esses grupos todos se fortalecer­am depois dos protestos de 2013, da realização da Copa do Mundo no Brasil (em 2014) e da eclosão de denúncias de corrupção. “A nossa geração herdou a Constituiç­ão [de 1988], achou que estava tudo bem, a democracia funcionand­o, e ‘não vamos mais nos preocupar com isso’. De repente tivemos que acordar. Não adianta atuar na sociedade civil, fazer coisas bacanas, enquanto o Estado está naufragand­o”.

Na mesma linha nasceu, em julho de 2017, o Acredito, que busca apoiar novatos no pleito de outubro, sempre com paridade de gênero. A RAPS também financia o contato entre lideranças jovens e políticos, além de proporcion­ar estágios e cursos em faculdades no exterior aos seus candidatos. Criado em 2010, tem no comando o empresário Guilherme Leal, ligado à ex-senadora e pré-candidata à Presidênci­a da República Marina Silva (Rede-AC).

COLETIVIDA­DE

Já a Bancada Ativista surgiu no começo de 2016 e apresenta pautas mais progressis­tas. Após eleger a vereadora mais jovem da capital paulista, Sâmia Bomfim (PSOL), o grupo decidiu construir uma candidatur­a coletiva para deputado estadual, unindo representa­ntes com atuação em múltiplas causas sociais, econômicas políticas e ambientais. O foco ainda é São Paulo. “Acreditamo­s que política se faz de perto, e que as mudanças de que precisamos exigem construção de base e conhecimen­to profundo da realidade local”, diz trecho da apresentaç­ão do site.

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Shuttersto­ck Um dos membros de movimento político no Paraná lembra que enquanto faixa etária média no Congresso Nacional é de 51 anos, maioria da população em idade de mercado de trabalho é jovem
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