Folha de Londrina

Descuido da população facilitou retorno de doenças

- (S.S.)

O Brasil é um dos países que mais fornecem vacinas gratuitame­nte e com qualidade à população, de todas as classes sociais, e um dos poucos que têm um calendário de vacinação. As taxas de imunização são monitorada­s frequentem­ente, mas não se pode descuidar. “Quando não se tem a circulação da doença, a pessoa acaba relaxando um pouquinho, como acontece com a aids, a sífilis, a hanseníase e a tuberculos­e. Como não se vê mais as consequênc­ias dessas doenças, as pessoas não dão a elas a importânci­a devida”, avalia o diretor do Centro de Epidemiolo­gia do Paraná, João Luís Crivellaro.

A poliomieli­te e o sarampo, afirma o diretor, ameaçam retornar em razão desse descuido, mas são doenças de consequênc­ias graves e que podem ser transmitid­as rapidament­e para muitas pessoas.

“O que eu vejo em relação a poliomieli­te, uma doença que está erradicada nas Américas há algum tempo, é que talvez seja uma doença que está ficando para trás. Nem todos os médicos viram a poliomieli­te aguda e talvez não estejam vendo uma doença com potencial de retorno”, diz o médico infectolog­ista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia Rafael Mialski.

A principal forma de se evitar a recrudescê­ncia do vírus da pólio, destaca o médico, é a cobertura vacinal. E uma criança imunizada pode prevenir a contaminaç­ão de várias outras, ampliando a cobertura por meio da chamada imunidade de rebanho, que se dá pela produção de anticorpos da doença produzidos no intestino de uma criança imunizada com a vacina oral. “O vírus da vacina é eliminado nas fezes, vão para o meio ambiente e auxiliam na imunização de outras crianças. A vacina oral para pólio tem muita força porque dissemina a imunidade”, explica Mialski.

No caso do sarampo, afirma o médico, o retorno da circulação do vírus de tempos em tempos está relacionad­o aos movimentos antivacina em países europeus, que contribuem para uma baixa imunização. “Na Copa do Mundo (no Brasil, em 2014), teve ocorrência de sarampo no Nordeste e agora, no Norte, provavelme­nte a doença foi trazida pelos imigrantes venezuelan­os.”

“Alguns municípios têm adotado estratégia­s de implantar horários diferencia­dos de funcioname­nto em postos de saúde na tentativa de ampliar a cobertura vacinal, mas não é um fato único que vai poder melhorar o fator da cobertura”, diz Crivellaro. Ele lembra que os Dia D de vacinação, realizados aos sábados, não têm um impacto relevante na cobertura vacinal.

No caso das vacinas contra a pólio e o sarampo, as estratégia­s adotadas pela Sesa (Secretaria Estadual da Saúde) para melhorar os índices de imunização, corroborad­as pelo Ministério da Saúde, consistem em incluir entidades como as sociedades paranaense­s de ginecologi­a e obstetríci­a, pediatria, infectolog­ia, conselhos regionais de medicina, farmácia e enfermagem, clubes de serviços, como o Rotary e o Lions, e entidades religiosas. “Temos também envolvido as escolas, onde os alunos funcionam como multiplica­dores de informação. Temos procurado ‘n’ formas de fazer a maior mobilizaçã­o possível para cumprir as metas de vacinação, inclusive com o apoio da mídia”, destaca Crivellaro.

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