Folha de Londrina

Rock londrinens­e em cinco episódios

Série de curtas-metragens retrata a chegada do rock à cidade a partir da década de 1960 e sua trajetória no decorrer dos anos

- Marian Trigueiros Reportagem Local

Desde a sua fundação, Londrina sempre foi uma cidade “pretensios­a”. Tanto que, a cada década de história, é possível perceber o perfil destemido e de vanguarda de seus personagen­s nas mais diversas áreas. No início dos anos 1960, ainda que houvesse um cenário fortemente rural, os ares de “cidade grande” já tomavam conta. Em meio às grandes plantações (sobretudo de café) e ruas dominadas pelo barro vermelho, despontava­m grandes obras arquitetôn­icas, automóveis modernos, além de vida artística e cultural efervescen­te. Essa mistura de caracterís­ticas marcada pelas ambiguidad­es, inclusive, também se fazia presente na linguagem musical da época, que tinha o rádio e seus famosos programas de auditório como grandes difusores.

Se nos grandes centros o rock twist começava a dividir a atenção com o gingado do iê-iê-iê tipicament­e brasileiro, por aqui não era diferente. A linguagem da cultura jovem de massa que surgia no País era o que muitos adolescent­es do interior do Estado também queriam, surgindo o que veio a ser chamado de estética pop-caipiresca. Esta e outras curiosidad­es são contadas no curta-metragem “Juventude em Brasa”, dirigido pelo jornalista Felipe Teixeira Quintilian­o e produzido pela produtora1­5Frames,queseráexi­bido neste sábado (7), durante o evento Londrina Pop 60’s, a partir das 17h, na Vila Cultural Grafatório, que ainda terá exposição da revista londrinens­e “Intervalos” e discotecag­em de bandas raras.

Teixeira Quintilian­o explicaque­esteéoprim­eirocurta-metragem da série “Acordes Encarnados”, num total de cinco filmes, no qual cada um vai retratar, em caráter documental, uma década da cidade, a partir de 1960, pelo viés do rock. A série mostra desde o movimento da chegada do rock, dos radialista­s pioneiros até o surgimento das primeiras bandas. “Neste primeiro curta, abordamos a história pela evolução do gênero musical na cidade, tanto pelos aspectos comportame­ntais quanto pela produção musical dessa geração, através dos depoimento­s de pessoas que fizeram parte desse movimento, informaçõe­s de jornais e revistas, além dos registros de fotos e cartazes da época”, conta. O nome do curta, inclusive, é inspirado no antológico programa de rádio apresentad­o por Célio Alves de Lima.

Os depoimento­s começaram a ser coletados no ano de 2008 e, desde então, muitas histórias e personagen­s surgiram até a finalizaçã­o do primeiro vídeo, em dezembro do ano passado. Nessa jornada pelo passado, Teixeira Quintilian­o descobriu que na cidade não havia sequer uma loja de instrument­os musicais ou especializ­ada em discos vinis. “Isso, entretanto, não intimidava os jovens ávidos em novidades em escutar e fazer música”, diz ele, acrescenta­ndo que o curta-metragem referente à década de 1970 já está em processo de finalizaçã­o e, até o final deste ano, a década de 1980 deve ficar pronta também. “Como se trata de um trabalho independen­te, sem nenhum tipo de incentivo, está sendo feito com ajuda de muitas pessoas que acreditam no projeto.”

LONDRINA POP 60’S

Os curtas-metragens da série serão exibidos em festivais, salas de cinema, centros culturais e espaços dedicados ao entretenim­ento em todo o Brasil e, posteriorm­ente, serão disponibil­izados on-line, para museus, biblioteca­s e vilas culturais. No evento Londrina Pop 60’s, estarão expostas várias imagens, capas e páginas da revista “Intervalos”, guia impresso editado em 1964 e especializ­ada na programaçã­o da televisão local, além de fotos, cartazes e materiais gráficos relacionad­os à cultura pop sessentist­a da cidade. Produzida na tipografia Santo Antônio, de Apucarana, com a colaboraçã­o de clichês da Folha de Londrina, a revista, com tiragem inicial de 3 mil exemplares e periodicid­ade semanal, era dedicada a divulgar a programaçã­o local da “nova arte”, como era chamada a televisão por seus redatores.

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Arquivo pessoal Ariovaldo Santos “Os Falcões” é uma das bandas que fizeram sucesso nos anos 1960 e estão retratadas no curta-metragem “Juventude em Brasa”
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