Folha de Londrina

A coragem dos pioneiros

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O porquinho de estimação, Chiquinho, foi morto às escondidas para as crianças não sofrerem e veio para Londrina em forma de carne frita guardada dentro da lata, na sua própria banha”

A menina Elvira nasceu no ano de 1926 em Rubião Junior, distrito de BotucatuSP. Era a caçula dos onze filhos. Passou a infância entre cafezais e pés de frutas, brincando e trabalhand­o, carregando a chaleira enorme, pesada, cheia de café com leite e o cesto carregado com polenta assada na chapa e pão com manteiga, tudo feito em casa, pela mãe, dona Rachel, para matar a fome do pai e dos irmãos que passavam o dia trabalhand­o na roça. A menina contava sempre com a ajuda dos primos por ser muito pequena.

Na década de 1930 o seu pai, sr. Geacomo Piccinin, veio conhecer o Norte do Paraná e na volta a Botucatu para provar que a terra era muito boa levou para sua esposa, dona Rachel, uma flor crista-de-galo bem grande que nascia em abundância na mata da região.

Comprou da Cia. de Terras Norte do Paraná vários alqueires situados na Gleba do Jacutinga, atrás da atual fábrica Cacique de Café Solúvel. Primeiro veio o pai com os filhos mais velhos, construíra­m um rancho e iniciaram o cultivo de café, algodão, frutas, legumes e a criação de galinhas e porcos. Depois vieram a mãe com os filhos mais novos.

Corajosame­nte deixaram tudo para trás: uma família grande de tios e primos; uma casa boa de alvenaria com água encanada e bem mobiliada. O porquinho de estimação, Chiquinho, foi morto às escondidas para as crianças não sofrerem e veio para Londrina em forma de carne frita guardada dentro da lata, na sua própria banha.

A viagem de trem, com toda a tralha, foi até Jataizinho, onde atravessar­am o rio Tibagi de balsa e depois prosseguir­am a viagem no caminhão do sr. Encrenca, apelido ganho por ser muito encrenquei­ro. A viagem demorou 15 horas de Botucatu a Londrina.

Foram morar no rancho de palmito que tinha frestas tão largas por onde se via a mata, os macacos, os passarinho­s, o céu cheio de estrelas e dormiram por um bom tempo, tendo como cama os montes de algodão.

Hoje, aos 91 anos, a pioneira continua cultivando flores, jabuticaba, acerola, manga, araçá, alecrim e capim-cidreira no alto do edifício onde mora, no centro da querida Londrina, e às seis horas da tarde seus olhos brilham e ela sorri feliz quando as andorinhas fazem revoadas entre os prédios.

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