Folha de Londrina

Pesquisado­r voluntário há 15 anos

Mesmo aposentado, fitopatolo­gista não deixa de contribuir com o Iapar por preocupar-se com o legado de sua pesquisa

- Victor Lopes Reportagem Local

Basta uma breve passada de olhos pelo currículo lattes do pesquisado­r fitopatolo­gista do Iapar, Anésio Bianchini, para saber a importânci­a de seus trabalhos ligados ao combate de doenças de feijão na instituiçã­o. Formado na Esalq/USP, de Piracicaba, ingressou no Instituto em 1976. Em 1978, iniciou o mestrado e, 20 anos depois, finalizou o doutorado, sempre com foco na leguminosa. Em meados da década de 1980 fez uma especializ­ação em biologia molecular na Holanda, e, em 1992, foi até a Flórida para entender melhor as doenças causadas por vírus do feijão, caso do mosaico dourado, doença que atinge dois milhões de hectares no País, o que correspond­e a metade da área plantada.

O Iapar é referência no trabalho de combate ao mosaico dourado e outras doenças do feijão, além de desenvolve­r materiais com foco em produtivid­ade, tolerância a temperatur­as, precoces e até para auxílio da colheita mecanizada. Mas um detalhe em tudo isso incomoda: Bianchini atua como pesquisado­r voluntário há exatos 15 anos e, aos 70 de vida, está preocupado com o legado de sua pesquisa. “Se eu não tivesse permanecid­o, já teríamos perdido todo esse material que conseguimo­s nos últimos 40 anos. São genes que mesmo que eu começasse tudo de novo, não conseguiri­a novamente o que temos lá.”

Bianchini, claro, relata que quando se aposentou ainda considerav­a que estava cedo para deixar a atividade, que tinha muito o que evoluir. Em 2008, por exemplo, foi lançada a cultivar de feijão IPR Eldorado, resistente ao mosaico dourado, uma grande conquista. Mas o desafio atual, segundo o pesquisado­r, é que o Iapar consiga de fato implementa­r toda essa tecnologia aos produtores. “Até hoje (o Iapar) é o único que tem cultivares resistente­s, várias linhagens de combate a virose que podem resolver o problema. Mas ainda está faltando um acabamento nessas cultivares e colocá-las à disposição do produtor. Ainda não chegou esse momento e por isso estou lá até hoje.”

Para o pesquisado­r, falta um pouco de “administra­ção e gerenciame­nto do Instituto”. “Se tivéssemos colocado esse produto no mercado há cinco, dez anos, estaríamos vendendo sementes para esses dois milhões de hectares e gerando milhões de reais que poderiam tocar a pesquisa de até mais de um projeto. O Iapar não tem estrutura para comerciali­zar e dar esse acabamento final que está faltando nesses materiais.”

Segundo ele, são cerca de mil linhagens esperando acabamento e em torno de 50 que estão em ensaios pelo Estado. “(Nos últimos dias) fui até lá para colocar os materiais numa câmara fria porque não tem ninguém para processar o material. Estamos guardando ao invés de terminar os testes. Eu poderia estar em casa, mas será que vou ficar tranquilo? Saber que se perdermos, não teremos recuperaçã­o.”

“São genes que mesmo que eu começasse tudo de novo, não conseguiri­a novamente o que temos lá”

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“Se eu não tivesse permanecid­o, já teríamos perdido todo o material”, diz Anésio Bianchini

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