Folha de Londrina

Le grandeur de la France

- Pe.JOSÉ RAFAEL SOLANO DURÁN, teólogo pároco da Catedral de Londrina

Não sei se a França será a campeã da Copa 2018, mas a grandeza desta nação no século XXI, se percebe na força migratória. Desde a época de Maria Antonieta a migração tomou uma tal força neste país que o próprio Luís XIV teve que estabelece­r leis exigentes para todos aqueles que desejavam passar uma temporada na terra do galo ‘francés.’

Olhando para a seleção francesa fico maravilhad­o ao ver a capacidade de integração e interação entre os jogadores. A forma linguístic­a ocular e verbal com a qual os jogadores dão a conhecer uma sincroniza­ção quase impecável.

Durante um bom tempo da minha vida de estudante morei em Paris. Visitei a Borgonha constantem­ente e a região de Provence. Percebi que pouco a pouco esta grande nação investia fortemente na formação dos seus cidadãos para aprender a conviver com os outros, laços de comunhão que permitisse­m abrir não só a cabeça, mas também o coração entre uns e outros. E, por incrível que possa parecer, onde todos se sentissem franceses.

Na França jamais fui detido ou assaltado por perguntas um tanto incômodas e imprudente­s como aquelas que ouço ainda por razão do meu sotaque: “De onde você é?”

Dos 23 jogadores desta seleção, 17 nasceram em outras terras, sem contar os extraterri­toriais. Que seria do nosso mundo sem a beleza da migração, sem o espírito do encontro, sem a grandeza do outro que vem. É evidente que para aqueles que viemos de outros países e nos estabelece­mos em novas terras nada mais estranho do que depois de um longo tempo você ainda ser identifica­do como alguém que veio de fora. Na nossa cidade de Londrina os grupos étnicos são cada vez maiores; as ex- pressões linguístic­as que se misturam com a língua portuguesa assim como as manifestaç­ões religiosas, culturais e gastronômi­cas; as mentalidad­es e modalidade­s do ser que se dão a conhecer por aquilo que somos e não por aquilo que fomos antes de aqui chegar.

Uma nação maravilhos­a e imensa como o Brasil habituada ao fenômeno migratório não pode negar às novas gerações a oportunida­de de acolher a quem por diversas razões hoje está aqui. Temos que investir na formação de quem está chegando, sim; mas também na formação de quem aqui está. Evitar a construção de muros e mais muros físicos ou imaginário­s na experiênci­a da migração.

Todos os escritores dos primeiros séculos cristãos concordava­m numa clara manifestaç­ão da bondade de Deus que nos trata a todos como filhos e filhas muitos amados, onde as fronteiras são inexistent­es e, mais ainda, onde temos clareza de que a nossa passagem por este mundo é rápida demais para ficarmos parados observando a nossa cidadania. Somos cidadãos e cidadãs do infinito!

Abramos nosso espírito ao novo, ao que está chegando ao que está por vir. Não destratemo­s o que vem de fora; nem nos sintamos agredidos por aqueles que estão chegando. Acolher é o verbo e a atitude mais urgente na experiênci­a migratória, acolher quantas vezes for necessário.

Quem vai ganhar a Copa não sei. Só sei que se for a França a Copa será do mundo todo, pois na seleção francesa todos temos um pouco da nossa raça, das nossas raízes, do nosso ser de cidadãos do céu.

Dos 23 jogadores da seleção francesa, 17 nasceram em outras terras”

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