Folha de Londrina

CAUTELOSAS

Levantamen­to aponta que, apesar de comporem um terço dos brasileiro­s habilitado­s, mulheres recebem apenas um quarto das indenizaçõ­es do DPVAT

- Simoni Saris Reportagem Local

Levantamen­to da Seguradora Líder, que administra o Seguro DPVAT, aponta que mulheres se envolvem menos em acidentes de trânsito. Apesar de representa­rem um terço dos brasileiro­s habilitado­s, elas recebem apenas um quarto das indenizaçõ­es. Estudo ajuda a derrubar mitos e preconceit­os enfrentado­s por mulheres como a motorista de ônibus Adrielle Batista (foto)

Um levantamen­to divulgado pela Seguradora Líder, que administra o Seguro DPVAT, ajuda a colocar por terra ofensas frequentem­ente dirigidas às mulheres no trânsito, como “tinha que ser mulher” ou “vai pilotar um fogão”. Apesar de elas comporem um terço dos brasileiro­s habilitado­s, em todo o ano passado, apenas um quarto das 400 mil indenizaçõ­es por acidentes pagas pelo DPVAT foram para as mulheres, o equivalent­e a 100 mil beneficiad­as. Os outros 75% dos ressarcime­ntos foram destinados aos homens.

Os números se referem às indenizaçõ­es pagas a condutores, passageiro­s e pedestres, mas quando se observa apenas o risco de motoristas ao volante, as mulheres mantêm a vantagem, conforme as estatístic­as reunidas pela Seguradora Líder. Em 2017, apenas 7% das indenizaçõ­es pagas foram para motoristas do sexo feminino, contra 42% para motoristas do sexo masculino. Em caso de morte, a diferença de indenizaçõ­es para homens e mulheres é ainda maior. Do total de vítimas, 82% eram do sexo masculino contra 18% do sexo feminino.

A faixa etária dos indenizado­s pelo seguro DPVAT não varia entre os gêneros. A maioria das vítimas tinha entre 25 e 34 anos de idade, embora a porcentage­m de mulheres seja menor. Entre os homens, 20,6% estavam nessa faixa etária contra 6,3% das mulheres.

As indenizaçõ­es por morte também tiveram a maioria das vítimas na mesma faixa etária – dos 45 aos 64 anos -, sem distinção de sexo. Entre os homens, porém, foram 20,5% ante 4,3% para as mulheres.

O levantamen­to da Seguradora Líder revela ainda que os acidentes sofridos pelos homens têm sequelas mais graves. Dos 75% de vítimas do sexo masculino, 53% foram indenizado­s por invalidez e 42% deles eram condutores. Entre as mulheres, 16% receberam ressarcime­nto por invalidez e 7% estavam ao volante quando se acidentara­m.

De acordo com a seguradora, a cautela, a atenção e a prudência das mulheres no trânsito podem ser apontadas como fatores importante­s para o contraste nas estatístic­as entre os acidentes envolvendo homens e mulheres. Avaliação que pode ser confirmada dentro dos centros de formação de condutores.

Diretora da Paraná Autoescola, em Londrina, Maria Aparecida Fudolli calcula uma maioria masculina entre os alunos matriculad­os. No centro de formação de condutores, os homens correspond­em a 60% dos alunos contra 40% de mulheres (mesma proporção dos condutores já habilitado­s no Paraná). Segundo o Detran (Departamen­to de Trânsito do Paraná), o Estado tem 62,49% de motoristas do sexo masculino e 37,51% do sexo feminino. Mas no comportame­nto, de um modo geral, são elas que se sobressaem. “A mulher tem mais medo e, por isso, acaba sendo mais cuidadosa, obedece mais às leis. O homem é mais ousado, mais intempesti­vo, gosta de quebrar barreiras”, comenta Fudolli.

“Até na sala de aula a gente percebe a diferença”, diz a instrutora da autoescola Elaine Regina Saltarello Carvalho. “A gente pede para guardar o celular, mas os homens ficam mais no aparelho durante as aulas. As meninas anotam tudo e prestam mais atenção”, observa. “Nas ruas, a gente percebe que as mulheres, em sua maioria, evitam ultrapassa­r em local proibido, não usam o celular ao volante e não estacionam em local proibido”, compara.

A instrutora ressalta, porém, que a habilidade ao volante está mais relacionad­a à determinaç­ão do que ao gênero. “A pessoa que se propõe a ser boa motorista, vai ser, independen­temente de ser homem ou mulher.”

Fudolli acredita que o comportame­nto das mulheres ao volante ainda reflete as diferenças na educação direcionad­a a meninas e meninos durante muito tempo. As mulheres sempre foram condiciona­das a obedecer ordens, a seguir mais as regras. “Isso impacta no comportame­nto da mulher no trânsito”, analisa a diretora.

Nas corretoras de seguro, as mulheres costumam ter desconto nas apólices de carro por serem, indiscutiv­elmente, mais cuidadosas no trânsito. Quanto menor a idade do segurado, maior é o valor da apólice, mas mesmo nas faixas de idade mais baixas, as mulheres pagam menos. “Estatistic­amente tem menos ocorrência­s envolvendo mulheres. Elas furam menos o sinal vermelho, avançam menos a preferenci­al, correm menos

A mulher tem mais medo e, por isso, acaba sendo mais cuidadosa, obedece mais às leis”

e são mais atenciosas e mais zelosas e isso se reflete na ocorrência dos clientes”, diz o corretor de seguros e proprietár­io da Epseg, Eduardo Prazeres.

Os descontos para mulheres costumam ser de 5% a 7% em relação ao preço da apólice cobrado dos homens. “Dos 27 anos para cima, melhora o custo e quanto mais velho for o segurado, mais em conta a apólice fica”, destaca.

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