‘Vejo que não é gentileza, é preocupação’
A motorista de ônibus urbano Adrielle Kelly Batista, 33, ingressou na empresa como cobradora e há pouco mais de dois anos trocou o controle da catraca pelo volante. Mas ela sofre todos os dias com o preconceito por ser mulher. As atitudes machistas não vêm apenas dos colegas de profissão, mas também de motoristas com os quais cruza nas ruas e dos passageiros.
“Os motoristas de carros baixos fazem coisas erradas e culpam o ônibus quando veem que é uma motorista e muitos passageiros, quando o ônibus atrasa, culpam a motorista pelo atraso”, conta. “E os colegas da empresa costumam perguntar se eu quero que eles tirem o carro da vaga onde está estacionado para eu começar a trabalhar. Vejo que não é gentileza, é preocupação. Eles acham que não vou conseguir tirar o carro do estacionamento”, comenta a motorista.
Batista diz que aprendeu a tirar de letra a maioria dos comentários ofensivos que infelizmente são corriqueiros no dia a dia dela, mas ainda fica chateada com algumas situações. “Saio de casa para fazer o meu melhor, mas a toda hora tem uma atitude preconceituosa. E as mulheres são as que mais reclamam por ter outra mulher ao volante”, lamenta.
Para evitar mais comentários machistas, ela toma alguns cuidados. “Penso duas vezes antes de ligar para a empresa para falar que o carro está com problema porque vão pensar que o problema sou eu”, diz.
Batista também gosta de ressaltar seu desempenho no teste que lhe garantiu uma vaga de motorista. “Eram 59 homens e duas mulheres concorrendo. Dos 59, passaram 30, incluindo as duas mulheres. Tenho qualificação para exercer a função. Não tem diferença no modo de dirigir de homens e mulheres. Ser bom não depende de gênero. Eu nunca me envolvi em um acidente.”
Dos 900 motoristas da TCGL ( Transportes Coletivos Grande Londrina), apenas 20 são mulheres. Oitenta por cento deles foram treinados na escolinha da empresa e, segundo o instrutor Marco Antonio Soncini, não há privilégios nem discriminação entre os funcionários. “Elas dirigem os ônibus de 14 metros (convencionais) e os articulados também. Dá orgulho de ver a competência delas dentro de uma profissão que é machista”, reconhece. “Elas são determinadas. Quando se propõem a fazer uma coisa, elas fazem.”
Soncini confirma que, na empresa, as mulheres causam menos acidentes do que os homens e não por serem minoria. “Proporcionalmente, elas se envolvem menos em acidentes. E reclamam menos também.”(S.S.)
Dá orgulho de ver a competência delas dentro de uma profissão que é machista”