Folha de Londrina

Além de levar sua Croácia à final, Modric deu lição aos ídolos egocêntric­os do futebol moderno

- BOLA PRO MATO

A Copa do Mundo acabou e com ela vejo que alguns mitos que o futebol cultiva se vão, como o de que camisa e tradição é que mandam em campo. Tudo bem que a França ficou com a taça e não tivemos uma nova campeã, mas só o fato de termos na decisão uma seleção novata já é de se comemorar. Sou a favor das novidades e das surpresas boas. Uma das coisas que mais me deixam pistola é o argumento de que tem que ganhar quem tem mais camisa. Ou seja, por esta visão, Argentina, Brasil ou Alemanha e suas desorganiz­adas seleções mereciam mais do que a Croácia. Me poupem. Os croatas chegaram à final jogando muito e deixando para trás campeões mundiais, times de camisa.

Tem que vencer quem é melhor e quem tem mais competênci­a naquele momento e a Croácia mostrou isso. Além disso, tem um grande time, com jogadores que se destacam nos principais times da Europa. É uma equipe bem organizada, com jogadores técnicos e comprometi­dos com o resultado. Uma seleção sem egos e com muita vontade de vencer.

O símbolo dessa seleção foi eleito o melhor jogador da Copa com justiça. Modric é um gigante dentro de campo e mostra uma humildade semelhante fora dele. Por mais que tenha sido o grande motor dessa Croácia, nunca chamou a atenção para si, fez sempre questão de ressaltar o trabalho da comissão técnica e dos companheir­os e o símbolo disso foi sua postura ao ser eleito melhor do torneio. Não veio um sorriso e sim a evidência de que a derrota de sua seleção doía muito mais do que a satisfação pelo troféu que empunhava.

Em tempos em que os popstars da bola pensam mais nos prêmios individuai­s, essa postura é uma verdadeira lição. Mostra que as conquistas chegam mais facilmente se forem conjuntas. Que no futebol não se ganha sozinho e que ninguém é mais importante que um time, que uma seleção, que um país.

Ele foi muito criticado antes da Copa por supostamen­te jogar mais no Real Madrid do que na seleção. Ao invés de atacar os críticos e se fechar numa bolha, mudou sua postura em campo e deu essa bela resposta que vimos na Copa do Mundo. Além de levar sua Croácia à histórica final, Modric deu uma verdadeira lição aos ídolos egocêntric­os do futebol moderno.

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