O domingo no Domingos teve feijoada, final da Copa e uma partida de futebol entre amigos
1.
Domingo teve feijoada na casa do Domingos. O dia já configura uma certa licença poética, pois em geral dia de feijoada é sábado. Mas, ora, se a casa é do Domingos, que seja no domingo! E lá fomos nós — a Rosângela, o Pedro e eu. Cisco ficou em casa, porque senão brigaria com a Branquinha, uma dócil e carinhosa vira-lata que o Domingos e a Dalva adotaram. Branquinha, como diz o Domingos, e “carinhente”, carente de carinho.
O Cisco é mais arisco; por isso não foi.
Pensei em levar meu violão para tocar umas canções do Chico Buraco. Como há algum tempo quebrou uma das tarraxas do meu violão — a da primeira nota mi, que os violeiros chamam carinhosamente de “mizinho” —, tive de improvisar para afinálo. Fui até a caixa de ferramentas do Vô Briguet e peguei o seu velho alicate. Depois de afinar o “mizinho” com o auxílio do alicate, fiquei pensando em qual seria a idade da ferramenta. Talvez mais de 50 anos; portanto, mais velha do que eu. No metal está escrito: “Alloy Stell – Nº 41 – UTICA”. O Dr. Google me informa que Utica é um velho alicate americano...
A feijoada da Dalva estava deliciosa; as companhias, agradáveis; o domingo, belíssimo. Mas o que mais gostei foi de conhecer a nova casa do Domingos, que me lembrou a paz e a simplicidade de Atibaia, onde exatamente um ano eu estava escrevendo o livro “Coração de Mãe”. Em molduras na parede, leio dois sonetos do Domingos para a Dalva.
Enquanto a feijoada era servida, vimos a final da Copa. Quase todos estavam torcendo para a Croácia, mas a França ganhou com méritos. Foi emocionante ver a alegria dos bicampeões e a bravura dos vice-campeões. Pena que, na França, a festa tenha causado tumultos, com 800 carros queimados e 500 pessoas presas. Desconfio que seja um resultado daquela perigosa mistura de futebol com outras coisas...
Depois que terminou o jogo, fomos jogar futebol com as crianças. O Domingos não quis entrar em campo, ficou apenas dando orientações técnicas à sombra de uma árvore. Eu e o meu amigo Wilhan Santin formamos uma dupla de ataque.
2. 3. 4. 5.
Wilhan não é apenas craque das letras; também sabe jogar bola. Quanto a este cronista de sete leitores, mal conseguia se mover em campo. No final ganhamos, mas o Wilhan carregou o time nas costas. E eu caí no gramado; não era fingimento como uns e outros por aí; era cansaço.
Pedro e os netos do Domingos tomaram banho de mangueira — e almoçaram de novo. Enquanto Dalva e Rosângela conversavam, eu me lembrei da velha canção de Adoniran: “Com a corda mi do meu cavaquinho / Fiz uma aliança pra ela / Prova de carinho”. Licença poética, pois o cavaquinho não tem corda mi! No entanto, o mi do meu violão é real — tão real quanto a alegria de passar um domingo de sol na casa de amigos, tão real quanto as nossas famílias, tão real quanto a presença de Cristo. ( Vocês sete sabiam que domingo em russo quer dizer ressurreição?)
Chico Buraco acabou indo embora sem tocar nenhuma música. Mas isso é de menos; haverá outros domingos.
6. 7.