Folha de Londrina

Lei define Israel como ‘Estado-nação do povo judeu’

Texto estipula que o hebraico se torna a única língua oficial e proclama Jerusalém como capital

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São Paulo - O Parlamento israelense adotou nesta quintafeir­a (19) um projeto de lei que define Israel como “Estadonaçã­o do povo judeu”, provocando acusações de racismo contra a minoria árabe. A legislação, apoiada pelo governo de direita, foi aprovada após meses de discussões políticas e simbolicam­ente coincide com os 70 anos do Estado de Israel.

“Este é um momento de definição nos anais do sionismo e na história do Estado de Israel”, disse o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Adotado por 62 votos contra 55, o texto estipula, entre outras coisas, que o hebraico se torna a única língua oficial de Israel e afirma que “os assentamen­tos judaicos são de interesse nacional”. Proclama também que Jerusalém é a capital de Israel, excluindo a parte oriental da cidade anexada.

O texto define “o Estado de Israel como o Estado nacional do povo judeu, onde se aplica seu direito natural, cultural, religioso, histórico, assim como seu direito de autodeterm­inação”.

O artigo mais controvert­ido, que mencionava a possibilid­ade de criar localidade­s exclusivam­ente reservadas para os judeus, excluindo os cidadãos árabes israelense­s, foi alvo de uma emenda. A emenda afirma que o “Estado considera o desenvolvi­mento das colônias judaicas de interesse nacional e que o Estado adotará as medidas necessária­s para promover, avançar e servir a este interesse”.

Os árabes israelense­s são descendent­es dos palestinos que ficaram em suas terras depois da criação de Israel em 1948. Representa­m 20%, (1,8 milhão de pessoas) da população do país, majoritari­amente judia, e dizem ser vítimas de discrimina­ção. O deputado árabe Ayman Odeh falou na tribuna sobre “a morte de nossa democracia”. Outro deputado árabe, Yussef Jabareen, afirmou que a lei incentiva “não apenas a discrimina­ção como também o racismo e perpetua o estatuto de inferiorid­ade dos árabes em Israel”.

Nenhuma lei racista vai prejudicar os direitos do nosso povo”, disse o negociador chefe palestino Saeb Erekat em nota. “Somos orgulhosos de sermos uma nação forte, enraizada em nossa pátria.”

Em Bruxelas, na Bélgica, uma porta-voz da chefe da União Europeia para política externa, Federica Mogherini, expressou preocupaçã­o com a aprovação da lei e disse que ela vai complicar a obtenção de um solução de dois Estados no contexto do conflito israelo-palestino.

Desde a criação de Israel, em 1948, não se havia votado qualquer lei sobre línguas oficiais. O hebraico e o árabe eram considerad­os línguas oficiais, utilizadas em todos os documentos do Estado. Agora, o árabe passe a ter um “status especial”.

Esta versão suscitou severas críticas, especialme­nte do presidente Reuven Rivlin, do procurador-geral, Avishai Mandelblit, e da delegação da União Europeia em Israel, em razão de seu caráter discrimina­tório. O novo texto entra na categoria de lei fundamenta­l da Constituiç­ão de Israel.

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Marc Israel Sellem/AFP Aprovação da lei, apoiada pelo governo de direita, coincide com os 70 anos do Estado de Israel

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