EDUCAÇÃO
Consultor que participou da elaboração de diretrizes da educação, Lino Macedo diz que o ensino tem que desenvolver competências úteis para depois da escola
Nova Base Nacional Comum Curricular prepara o aluno “para a vida”, aponta especialista
ABNCC (Base Nacional Comum Curricular) determina conteúdos que devem ser ensinados em todas as escolas do País. Até 2020, gestores de educação e professores do ensino infantil e fundamental devem elaborar os currículos com base na nova diretriz, que já está em vigência desde dezembro de 2017. Embora a base seja única e se refira a toda educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), somente as duas primeiras etapas foram homologadas pelo MEC (Ministério da Educação) até agora.
A nova base define que, ao longo da educação básica, os alunos desenvolvam competências gerais que assegurem uma formação humana para a construção de uma “sociedade justa, democrática e inclusiva”. O professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), Lino Macedo, foi consultor do MEC para a criação da nova base. Presente em Londrina na última sexta-feira (20) para participar de congresso de apresentação da BNCC para os professores da região, ele resumiu as ideias principais do novo currículo: educar para o mundo novo, com temas integradores, com ênfase nos direitos humanos e formas de viver em sociedade.
Com aspectos alusivos às relações humanas, empatia, autocuidado e o saber de cooperar, foi formada a BNCC. “Não é como você prepara o aluno para a escola seguinte, mas para a vida que segue. O jovem se torna adulto e o adulto se torna velho. A escola tem que oferecer oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento para as competências da vida”, disse Macedo. Ainda que a base busque uma formação mais humanitária com ideias de responsabilidade social, em 2017, o MEC retirou do texto menções a “identidade de gênero” e “orientação sexual”.
Não é só a forma que os professores lecionam que terá de ser adaptada a partir da nova base. “Agora a gente praticamente não tem livros didáticos sobre muitos aspectos da BNCC”, expressou o professor. A nova base é adequada ao mundo tecnológico, propondo relações com o meio digital. Não se trata de alfabetizar pela tela do smartphone, mas levar em questão o aparelho no aprendizado. “É mais do que usar o celular”, alertou. Para Macedo, é importante que os alunos saibam o motivo de estar fazendo ou aprendendo tal conteúdo. “Um aluno aborrecido está falando algo para os professores”, explicou.
“A base é uma referência, espera-se que os professores levem em conta o que está proposto nela”, pontuou Macedo, que se define como um leitor criterioso do novo currículo. Uma crítica que se faz à base é que ela é analítica demais, com muitos detalhes. Segundo ele, a base comum em outros países é mais sintética. “Poderia ser mais enxuta, por outro lado, se não é pormenorizado podem pairar dúvidas”, acrescentou.
A BNCC estabelece para a primeira etapa da educação básica – a educação infantil – condições de aprendizado para interações e brincadeiras de acordo com as faixas etárias. Para a palestrante Mara Bergamo, tais interações nos anos iniciais devem ser pensadas com base na equidade: dar mais a quem tem menos.
Já o consultor educacional Lauri Cericato destacou as competências específicas para a matemática no ensino fundamental. Segundo o docente, é importante reconhecer a matemática também como uma ciência humana, fruto das necessidades e preocupação de diferentes culturas. “A nova base contempla mais da aplicação da matemática no cotidiano”, expõe. A BNCC torna obrigatório o ensino da educação financeira e educação para consumo, o que para Cericato é de extrema importância já que grande parte dos brasileiros estão endividados.
APRESENTAÇÃO
O congresso de exposição da BNCC, promovido pela Somos Educação, reuniu 50 professores da Secretaria Municipal de Educação de Londrina e representantes das cidades de Arapuã, Colombo, Guapirama, Jardim Alegre, Lunardelli, Nova Fátima, Nova Olímpia, São Carlos do Ivaí e Sertanópolis.
A rede municipal de Londrina voltou às atividades nesta semana após o recesso escolar e os professores já podem aplicar as técnicas aprendidas. Aliny Perrota trabalha com a formação pedagógica dos professores na Secretaria Municipal de Educação e participou do evento, que reuniu cerca de 400 professores. “Acredito muito nessa nova perspectiva [da BNCC] de oportunizar todos de uma maneira igualitária”, disse.
“Vamos conseguir unificar o ensino. Quando muda de um Estado para outro se sente muito essa mudança”, disse a professora de educação infantil Patrícia Rodrigues, de Guapirama (Norte). “Acredito que a nova base vai melhorar o desempenho da educação no Brasil porque será falada uma língua só.”
Cristiane Queiroz, assessora pedagógica da Somos Educação, que organizou o evento, relata que a troca de experiência e de informações faz a diferença no dia a dia do professor. “Faz com que o aprendizado seja melhor desenvolvido”, declarou.
ENSINO MÉDIO
Uma possível alteração em textos da BNCC para o ensino médio foi suscitada nos últimos dias. O documento ainda passará por audiências públicas no próximo mês em Belém e em Brasília antes de ser encaminhado para aprovação do CNE (Conselho Nacional de Educação).
A previsão era para que a aprovação do texto ocorresse ainda em 2018. Segundo o MEC, a discussão da etapa final da educação básica foi postergada devido à reforma do ensino médio. Além disso, a parte do ensino médio tem sido criticada por não apresentar detalhadamente conteúdos das áreas de ciências humanas e da natureza, já que algumas disciplinas seriam optativas.
A revisão do ensino médio define que 60% das 3.000 horas de aula que os estudantes devem ter em três anos seja destinada para disciplinas obrigatórias estabelecidas na BNCC. As outras 40% ficariam flexíveis.
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A gente praticamente não tem livros didáticos sobre muitos aspectos da BNCC”