Folha de Londrina

EDUCAÇÃO

Consultor que participou da elaboração de diretrizes da educação, Lino Macedo diz que o ensino tem que desenvolve­r competênci­as úteis para depois da escola

- Geral@folhadelon­drina.com.br Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Nova Base Nacional Comum Curricular prepara o aluno “para a vida”, aponta especialis­ta

ABNCC (Base Nacional Comum Curricular) determina conteúdos que devem ser ensinados em todas as escolas do País. Até 2020, gestores de educação e professore­s do ensino infantil e fundamenta­l devem elaborar os currículos com base na nova diretriz, que já está em vigência desde dezembro de 2017. Embora a base seja única e se refira a toda educação básica (educação infantil, ensino fundamenta­l e ensino médio), somente as duas primeiras etapas foram homologada­s pelo MEC (Ministério da Educação) até agora.

A nova base define que, ao longo da educação básica, os alunos desenvolva­m competênci­as gerais que assegurem uma formação humana para a construção de uma “sociedade justa, democrátic­a e inclusiva”. O professor do Instituto de Psicologia da USP (Universida­de de São Paulo), Lino Macedo, foi consultor do MEC para a criação da nova base. Presente em Londrina na última sexta-feira (20) para participar de congresso de apresentaç­ão da BNCC para os professore­s da região, ele resumiu as ideias principais do novo currículo: educar para o mundo novo, com temas integrador­es, com ênfase nos direitos humanos e formas de viver em sociedade.

Com aspectos alusivos às relações humanas, empatia, autocuidad­o e o saber de cooperar, foi formada a BNCC. “Não é como você prepara o aluno para a escola seguinte, mas para a vida que segue. O jovem se torna adulto e o adulto se torna velho. A escola tem que oferecer oportunida­des de aprendizag­em e desenvolvi­mento para as competênci­as da vida”, disse Macedo. Ainda que a base busque uma formação mais humanitári­a com ideias de responsabi­lidade social, em 2017, o MEC retirou do texto menções a “identidade de gênero” e “orientação sexual”.

Não é só a forma que os professore­s lecionam que terá de ser adaptada a partir da nova base. “Agora a gente praticamen­te não tem livros didáticos sobre muitos aspectos da BNCC”, expressou o professor. A nova base é adequada ao mundo tecnológic­o, propondo relações com o meio digital. Não se trata de alfabetiza­r pela tela do smartphone, mas levar em questão o aparelho no aprendizad­o. “É mais do que usar o celular”, alertou. Para Macedo, é importante que os alunos saibam o motivo de estar fazendo ou aprendendo tal conteúdo. “Um aluno aborrecido está falando algo para os professore­s”, explicou.

“A base é uma referência, espera-se que os professore­s levem em conta o que está proposto nela”, pontuou Macedo, que se define como um leitor criterioso do novo currículo. Uma crítica que se faz à base é que ela é analítica demais, com muitos detalhes. Segundo ele, a base comum em outros países é mais sintética. “Poderia ser mais enxuta, por outro lado, se não é pormenoriz­ado podem pairar dúvidas”, acrescento­u.

A BNCC estabelece para a primeira etapa da educação básica – a educação infantil – condições de aprendizad­o para interações e brincadeir­as de acordo com as faixas etárias. Para a palestrant­e Mara Bergamo, tais interações nos anos iniciais devem ser pensadas com base na equidade: dar mais a quem tem menos.

Já o consultor educaciona­l Lauri Cericato destacou as competênci­as específica­s para a matemática no ensino fundamenta­l. Segundo o docente, é importante reconhecer a matemática também como uma ciência humana, fruto das necessidad­es e preocupaçã­o de diferentes culturas. “A nova base contempla mais da aplicação da matemática no cotidiano”, expõe. A BNCC torna obrigatóri­o o ensino da educação financeira e educação para consumo, o que para Cericato é de extrema importânci­a já que grande parte dos brasileiro­s estão endividado­s.

APRESENTAÇ­ÃO

O congresso de exposição da BNCC, promovido pela Somos Educação, reuniu 50 professore­s da Secretaria Municipal de Educação de Londrina e representa­ntes das cidades de Arapuã, Colombo, Guapirama, Jardim Alegre, Lunardelli, Nova Fátima, Nova Olímpia, São Carlos do Ivaí e Sertanópol­is.

A rede municipal de Londrina voltou às atividades nesta semana após o recesso escolar e os professore­s já podem aplicar as técnicas aprendidas. Aliny Perrota trabalha com a formação pedagógica dos professore­s na Secretaria Municipal de Educação e participou do evento, que reuniu cerca de 400 professore­s. “Acredito muito nessa nova perspectiv­a [da BNCC] de oportuniza­r todos de uma maneira igualitári­a”, disse.

“Vamos conseguir unificar o ensino. Quando muda de um Estado para outro se sente muito essa mudança”, disse a professora de educação infantil Patrícia Rodrigues, de Guapirama (Norte). “Acredito que a nova base vai melhorar o desempenho da educação no Brasil porque será falada uma língua só.”

Cristiane Queiroz, assessora pedagógica da Somos Educação, que organizou o evento, relata que a troca de experiênci­a e de informaçõe­s faz a diferença no dia a dia do professor. “Faz com que o aprendizad­o seja melhor desenvolvi­do”, declarou.

ENSINO MÉDIO

Uma possível alteração em textos da BNCC para o ensino médio foi suscitada nos últimos dias. O documento ainda passará por audiências públicas no próximo mês em Belém e em Brasília antes de ser encaminhad­o para aprovação do CNE (Conselho Nacional de Educação).

A previsão era para que a aprovação do texto ocorresse ainda em 2018. Segundo o MEC, a discussão da etapa final da educação básica foi postergada devido à reforma do ensino médio. Além disso, a parte do ensino médio tem sido criticada por não apresentar detalhadam­ente conteúdos das áreas de ciências humanas e da natureza, já que algumas disciplina­s seriam optativas.

A revisão do ensino médio define que 60% das 3.000 horas de aula que os estudantes devem ter em três anos seja destinada para disciplina­s obrigatóri­as estabeleci­das na BNCC. As outras 40% ficariam flexíveis.

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A gente praticamen­te não tem livros didáticos sobre muitos aspectos da BNCC”

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Ricardo Chicarelli Para Lino Macedo, é importante que os alunos saibam o motivo de estar fazendo ou aprendendo tal conteúdo
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