Folha de Londrina

PRESIDENCI­ÁVEIS

Emedebista também propõe acelerar elevação da idade mínima para aposentado­ria; ele acredita ser possível obter superavit primário em quatro anos

- Nelson Bortolin Reportagem Local

A partir de hoje, a FOLHA traz série de entrevista­s com propostas econômicas de candidatos. Henrique Meirelles (MDB) promete aprofundar visão liberal do Estado

Apartir do dia 26 de agosto, os brasileiro­s serão bombardead­os no rádio e na televisão pelas promessas dos candidatos das eleições gerais de outubro. Devido ao ritmo lento de recuperaçã­o do País após uma das maiores recessões de sua história, as propostas para a economia devem ganhar mais importânci­a.

Mas, é possível implantar uma política econômica muito diferente da atual? Pelo menos nos discursos dos pré-candidatos, a resposta é afirmativa. A FOLHA resolveu adiantar essa discussão e enviou algumas perguntas para as assessoria­s dos presidenci­áveis. E, a partir de hoje, publica as propostas daqueles que atenderam à reportagem. A ordem das entrevista­s é a mesma do envio das respostas.

Candidato oficial do governo, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (MDB), naturalmen­te é o que menos mudaria a política econômica que ele mesmo implantou. Mas promete aprofundar uma visão liberal do Estado. “Será necessário reduzir a estabilida­de do funcionali­smo apenas para aquelas ocupações que exercem funções de Estado, como diplomatas, procurador­es, juízes, etc.”, diz ele. Também promete “legalizar a autonomia operaciona­l do Banco Central”.

Em relação à reforma da Previdênci­a, o pré-candidato defende a proposta enviada ao Congresso pelo governo Michel Temer (PMDB) do qual participou até abril. Mas quer algumas mudanças no texto para tornar a reforma “mais efetiva, devido à deterioraç­ão fiscal ocorrida desde que a proposta inicial foi enviada”.

No relatório que está na Câmara, a proposta é elevar gradativam­ente a idade mínima de aposentado­ria até 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. No momento da aprovação do projeto, a idade mínima para homens seria de 55 anos e para mulheres, de 53 anos. E a cada dois anos, subiria um ano. Assim, levaria 20 anos para estabiliza­r em 65 e 62 anos.

Meirelles quer apressar essa convergênc­ia. No momento da aprovação da reforma, a idade mínima seria de 60 anos para homens e 57 para mulheres. E, a cada dois anos, aumentaria um ano. De modo que a transição duraria apenas dez anos.

TRIPÉ

Para o pré-candidato, não há por que alterar o tripé econômico, com câmbio flutuante, equilíbrio fiscal e metas para a inflação. “Este é o sistema que tem sido mais bem sucedido no mundo no sentido de gerar estabilida­de de preços e tem funcionado bastante bem no Brasil”. Para tornar o tripé “mais efetivo”, quer legalizar a autonomia operaciona­l do Banco Central, evitando influência­s políticas nas decisões da instituiçã­o.

Henrique Meirelles ressalta que, dificilmen­te, o Brasil vai conseguir manter os juros baixos, no patamar de hoje (Selic a 6,5% ao ano), se não fizer ajuste fiscal. “Como o País tem elevado deficit público (algo próximo de R$ 160 bilhões em 2018), a questão a ser respondida é qual a menor taxa de juros que os investidor­es estão dispostos a aceitar para comprar os títulos do governo e, desta forma, financiar a dívida pública”, afirma.

A experiênci­a internacio­nal, ressalta o emedebista, mostra que quanto maior a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto), maior é a taxa de juros. “Portanto, manter juros baixas depende, no longo prazo, de eliminar o déficit primário”, alega.

A alternativ­a para manter os juros baixos seria financiar o deficit público com emissão de moeda, o que gera inflação. “Nosso governo irá tomar todas as decisões necessária­s para atingir equilíbrio fiscal, com a reforma da Previdênci­a, a rediscussã­o das desoneraçõ­es e dos subsídios fiscais, etc.” Ele acredita ser possível obter superavit primário em quatro anos.

SEM ARTIFICIAL­ISMO

Meirelles não quer “artificial­ismo” no câmbio, que deve ser “totalmente flutuante”. “As intervençõ­es do Banco Central devem ter por objetivo não determinar o nível da taxa de câmbio, mas manter o mercado de câmbio funcionand­o de forma suave”, diz ele.

Na reforma do Estado, além de reduzir a estabilida­de do servidor público, o emedebista propõe redefinir as carreiras e estrutura de cargos e salários “de tal forma a gerar os incentivos corretos” para induzir o funcionári­o público a prestar “um bom serviço ao cidadão”. “O importante é atender adequadame­nte o cidadão”, diz o pré-candidato.

Defendendo seu legado no Ministério da Fazenda, Meirelles afirma, que nos últimos dois anos, com reformas e ganhos de credibilid­ade pelo Banco Central, foi possível manter a estabilida­de com taxas de juros médias dos títulos públicos próximas a 10% ao ano. “Este é o nível mais baixo desde o Plano Real e foi, em grande parte, o resultado da aprovação do teto para o cresciment­o do gasto público, da reforma trabalhist­a, da troca da TJLP pela TLP (taxas de juros), entre outras reformas”, declara.

Leia na edição de amanhã a entrevista com o pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos.

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Henry Milléo/Fotoarena/Estadão Conteúdo Henrique Meirelles: ”Nosso governo irá tomar todas as decisões necessária­s para atingir equilíbrio fiscal”

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