Folha de Londrina

Mais um golpe na economia

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Não bastassem a crise política, agravada desde que a Operação Lava Jato desnudou a roubalheir­a na Petrobras e investigaç­ões subsequent­es apontaram que a corrupção na esfera pública é apartidári­a, geral e irrestrita, e a recessão dos últimos anos, a economia nacional vem sofrendo um duro golpe que, a rigor, une as duas situações.

Estudo da CNI (Conferênci­a Nacional da Indústria) aponta que a violência no País é mais do que um problema crônico social. As dimensões são enormes. Diz o levantamen­to que o custo da falta de segurança em todo o Brasil chegou a R$ 365 bilhões no ano passado, prejudican­do sobremanei­ra a competitiv­idade de toda a economia brasileira porque consome 5,5% do PIB. Isso equivale a um imposto anual de R$ 1,8 mil recolhido de cada brasileiro. Não há setor produtivo imune. Não há setor produtivo que aguente.

Não por acaso, o documento “Segurança pública: a importânci­a da governança” embasa as propostas da indústria para as eleições de 2018 e foi entregue pela CNI aos pré-candidatos à Presidênci­a da República. Pela primeira vez, a violência e seus impactos na sociedade e na economia figuram no Mapa Estratégic­o da Indústria 2018-2022.

Segundo o gerente de pesquisa e competitiv­idade da CNI, Renato da Fonseca, a falta de segurança impacta a produtivid­ade do trabalhado­r e vem forçando a mudança de local dos investimen­tos. Há empresas que se viram obrigadas a mudar suas plantas de uma cidade para fugir de áreas violentas e em rotas de quadrilhas de roubo de carga.

Para piorar esse quadro, o governo federal não dispõe de um sistema de monitorame­nto que permita compilar, comparar e identifica­r os índices medidores de violência nos Estados. Cada unidade federativa tem sua própria metodologi­a. Dessa forma, ainda conforme o diagnóstic­o da CNI, é impossível mensurar as taxas de resolução de homicídios, por exemplo.

Por isso, a entidade que representa os industriai­s propõe a criação do Inesp (Instituto Nacional de Estudos sobre Segurança Pública) de modo a organizar e manter os dados sobre segurança pública, apoiar a avaliação de política de segurança e coordenar a avaliação da formação de profission­ais. A lógica é simples: as táticas de segurança bem-sucedidas devem ser replicadas nos Estados, cabendo ao governo federal fazer essa governança.

O estudo da CNI também mostra que o Paraná registra um prejuízo anual de R$ 60 milhões com roubo de cargas. No País, a situação só piora. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes passou de 26,6 para 30,3 (aumento de 14%) entre 2006 e 2016. E a de roubos de carga por 100 mil habitantes saltou de 10,1 para 13,2 entre 2007 e 2016 – aumento de 31%.

De nada adiantam discursos de tolerância zero para combater a violência, tão fáceis de serem assimilado­s por eleitores menos consciente­s, tão difíceis de serem cumpridos se não houver uma política pública integrada, eficiente e duradoura. Os presidenci­áveis que se colocaram na disputa de outubro ainda não apresentar­am suas propostas. O compromiss­o deles deve nortear o nosso, primeiro nas urnas, depois no exercício diário da fiscalizaç­ão.

De nada adiantam discursos de tolerância zero de combate à violência se não houver uma política pública integrada, eficiente e duradoura

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