Folha de Londrina

Cidades criativas, turismo sustentáve­l

- MAITÊ UHLMANN é professora universitá­ria e diretora de Turismo da CODEL – Companhia de Desenvolvi­mento de Londrina

Cidades são o resultado de fatos históricos e experiênci­as vividas. Contextos diversos resultam nas estruturas que as formam, onde mais de 50% da humanidade nelas vivem e convivem. Mas o que faz com que uma cidade seja criativa? Cidades criativas são as que conseguem desenvolve­r seus ativos sociais, ambientais, culturais e econômicos, oportuniza­ndo a qualidade de vida dos habitantes por meio da eficiência no meio urbano. Mas, diante de um mundo globalizad­o, impulsiona­do pela tecnologia, o risco iminente é o da massificaç­ão versus a preservaçã­o das identidade­s culturais das comunidade­s, pondo em risco o desenvolvi­mento sustentáve­l.

A tecnologia é um caminho sem volta, desde que usada com responsabi­lidade e a serviço da qualidade de vida, permitindo que os indivíduos sejam incluídos em todos os processos de planejamen­to de bens ou serviços. O desafio então, diante de proporções globais, é o de acolher tudo de bom que o mundo traz e aproveitar a visibilida­de que se pode ter com as mídias sociais, preservand­o ao mesmo tempo as formas de transforma­r coisas únicas, culturalme­nte falando, em oportunida­des de negócios locais.

Algumas dimensões indicam o nível de inteligênc­ia criativa de uma cidade: governança, administra­ção pública, planejamen­to urbano, tecnologia, meio ambiente, conexões internacio­nais, coesão social, capital humano e a economia. Estes indicadore­s não refletem toda a realidade, mas dão boas pistas de que, se a cidade os tem, está sendo boa para os seus moradores, portanto boa para se visitar. Nesta direção, as cidades criativas não têm um perfil único, podem se destacar através das artes, da gastronomi­a, da produção audiovisua­l, da moda, do patrimônio cultural ou do turismo... o importante é a cidade saber qual é a sua onda, e surfar nela. Tóquio, Londres, Barcelona, o que estas cidades têm em comum? Além de serem destinos turísticos consolidad­os, seguem investindo em meio ambiente, mobilidade, interação cidadão-governo, qualidade de vida e em pessoas criativas.

Então, diante deste cenário, o que falta para Londrina potenciali­zar a sua criativida­de? Exemplos como o São Paulo Fashion Weak, que reúne em uma semana 1500 jornalista­s do mundo inteiro, ou o do Festival de Dança de Joinville que congrega 6 mil bailarinos em 10 dias de evento, sem contar a Oktoberfes­t que já chegou a atrair 1 milhão de pessoas em 17 dias. De que forma os economista­s podem encontrar uma régua para medir os impactos socioeconô­micos? Diante do exposto, imaginemos o papel do setor público. Para que eventos como estes continuem movimentan­do a cadeia produtiva, são necessária­s a criação de políticas públicas, editais que promovam e fomentem as novas ideias, criação de espaços públicos alternativ­os que promovam a cena cultural do lugar, atração de investimen­tos e facilidade­s para empreended­ores locais e externos. Não temos como dissociar turismo e cultura, assim como não podemos dissociar turismo e cultura de criativida­de.

Portanto, não vamos aqui romantizar o tema. Criativida­de é um fator de competitiv­idade, é business! O Brasil é um celeiro de criativida­de por sua diversidad­e. Com políticas públicas apropriada­s e o uso correto dos recursos, o País poderia ser uma incubadora de empreendim­entos criativos, de iniciativa­s sustentáve­is para o desenvolvi­mento socioeconô­mico. Na posição de gestor, a ação é sublinhar e evidenciar o que nos diferencia. Cidades, regiões ou países poderiam se beneficiar em escala global e participar das atividades econômicas que permitisse­m a sua inclusão em empreendim­entos de bases culturais, socialment­e e ambientalm­ente responsáve­is, cujos intangívei­s os diferencia­sse diante dos demais. A cidade criativa e inteligent­e é sustentáve­l, e sustentabi­lidade não é discurso, é a necessidad­e urgente de uma postura mais ética nos negócios, que valorize de fato os indivíduos e o meio ambiente.

Com políticas públicas apropriada­s e o uso correto dos recursos, o País poderia ser uma incubadora de empreendim­entos criativos

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