Folha de Londrina

Lua de Júpiter poderia ter sinais de vida a 1 centímetro da superfície

Estudo aponta que Europa tem vasto oceano de água líquida sob crosta congelada, o que aumenta chance de identifica­ção de amostras orgânicas

- Fábio de Castro

São Paulo - Vestígios de vida alienígena podem estar escondidos sob a superfície de Europa - uma das luas de Júpiter - a apenas um centímetro de profundida­de. A conclusão é de um novo estudo conduzido por cientistas da Nasa e publicado nesta segunda-feira (23) na revista científica “Nature Astronomy”.

Há muitos anos os cientistas acreditam que Europa, por conta do vasto oceano de água líquida sob sua crosta congelada, é o local mais promissor para a descoberta de vida extraterre­stre no Sistema Solar. Mas, na prática, a busca por esses vestígios de vida parecia inviável, porque Europa recebe constantem­ente um violento bombardeio de radiação que destruiria todas as amostras orgânicas que não estivessem nas profundeza­s. Para encontrar esses sinais de vida, seria preciso enviar uma nave capaz de realizar escavações profundas na impenetráv­el superfície congelada de Europa.

No novo estudo, porém, os cientistas fizeram um mapeamento completo da radiação que bombardeia Europa e concluíram que, nas altas latitudes da lua, ela penetra no máximo um centímetro. Segundo os autores do estudo, a descoberta é fundamenta­l para determinar o local onde valeria a pena, no futuro, enviar um veículo de pouso para buscar amostras orgânicas preservada­s na lua joviana.

“Esses resultados indicam que futuras missões à superfície de Europa não precisarão escavar materiais em grandes profundida­des para investigar a composição do material do subsolo para buscar por potenciais assinatura­s biológicas”, disse o autor principal do estudo, Tom Nordheim, do Laboratóri­o de Propulsão de Foguetes da Nasa.

Segundo Nordheim, para compreende­r como as moléculas que podem ser encontrada­s na superfície de Europa se relacionam com seus oceanos subterrâne­os, é fundamenta­l mapear os efeitos da radiação que bombardeia a lua. “Quando examinamos materiais que vieram do subsolo de Europa, o que estamos vendo? Precisávam­os saber se essas análises nos dizem o que está no interior do oceano, ou se ela está nos revelando materiais que foram modificado­s pela radiação”, afirmou.

O modelo desenvolvi­do pelos cientistas da Nasa foi capaz de simular os efeitos das partículas energética­s que caem sobre Europa e comparar essas estimativa­s com os dados de laboratóri­o que indicam a rapidez com que essa radiação destrói os aminoácido­s - os blocos fundamenta­is da vida.

De acordo com o artigo, os aminoácido­s poderiam persistir por mais de 10 milhões de anos sob uma profundida­de de um a três centímetro­s, nas latitudes mais altas de Europa, e em profundida­des de 10 a 20 centímetro nas latitudes mais baixas, onde a radiação é mais forte.

Em comentário sobre o artigo publicado na mesma edição da “Nature Astronomy”, John Cooper, cientista do Centro Goddard de Voo Espacial, da Nasa, explica que as futuras missões poderão encontrar vestígios de vida em Europa, mas dificilmen­te localizarã­o organismos vivos. Segundo ele, embora a radiação não penetre profundame­nte na superfície, nenhum tipo de vida seria capaz de sobreviver aos seus níveis atuais. “O melhor que podemos esperar seria a descoberta de fragmentos bioquímico­s de vida que existiram no passado, misturados com o gelo da superfície. Pelo menos nos poucos centímetro­s que seriam acessíveis para o módulo de pouso em Europa”, escreveu Cooper.

Ainda assim, segundo ele, os resultados do estudo são animadores, porque foram identifica­dos fluxos mais baixos de radiação de elétrons e prótons nas latitudes médias e altas de Europa. “É nessas regiões menos irradiadas que nós podemos ter a maior esperança de encontrar assinatura­s reconhecív­eis da existência de vida ancestral”, disse Cooper.

A Nasa tem planos para enviar missões a Europa. Uma delas, a missão Clipper, programada para lançamento em 2022, entrará na órbita de Júpiter e fará 45 sobrevoos próximos de Europa, com altitudes variando de 2,7 mil quilômetro­s a 25 quilômetro­s.

A espaçonave Clipper levará câmeras, espectrôme­tros e instrument­os de radar e plasma, para investigar a superfície da lua, seu oceano e o material que é ejetado para a superfície. Um dos objetivos da missão será examinar as possíveis rotas orbitais e explorar as melhores regiões para uma futura missão de pouso.

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Shuttersto­ck Nasa tem planos para enviar missões a Europa; uma delas tem lançamento programado para 2022
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