Folha de Londrina

Mercosul e Aliança do Pacífico buscam se unir contra Trump

Para lidar com o aumento do protecioni­smo, blocos econômicos miram novas parcerias comerciais

- Danielle Brant Folhapress

Puerto Vallarta, México - Com o fantasma do protecioni­smo à espreita, Mercosul e Aliança do Pacífico, dois dos principais blocos latino-americanos, começam a movimentar suas peças para tentar forjar novas parcerias comerciais, mas a primeira intenção concreta pode não passar disso - uma intenção.

Nesta terça-feira (24), ocorre a primeira reunião de presidente­s do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru). Mas o encontro pode ficar esvaziado diante de particular­idades enfrentada­s por cada governo.

Do lado do Mercosul, por exemplo, apenas Brasil e Uruguai participar­ão do evento. O presidente argentino, Mauricio Macri, não vai a Puerto Vallarta, cidade mexicana onde a cúpula acontece, para cuidar de crises domésticas. Já o Paraguai ficou um tempo sem presidente, após a renúncia de Horacio Cartes - que voltou atrás e decidiu permanecer no cargo, mas não estará no México.

Na Aliança do Pacífico, algumas situações únicas também. O encontro terá como anfitrião o mexicano Enrique Peña Nieto, que deixa o cargo em dezembro. O presidente eleito, Andrés López Obrador, desistiu de participar do evento por não contar com um documento formalizan­do que venceu as eleições de julho. Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos também está em seus últimos dias como mandatário - Iván Duque assume em agosto.

Diante desse contexto, o que resta é um protocolo de intenção dos dois blocos, que tentam fortalecer o comércio e os investimen­tos bilaterais e aumentar a integração regional. A previsão é que seja assinada uma declaração e um plano de ações para facilitar as trocas comerciais, a cooperação regulatóri­a, agenda digital e o comércio inclusivo, segundo o Itamaraty.

O local escolhido para a reunião, Puerto Vallarta, é uma cidade de 275 mil habitantes, balneário no Estado de Jalisco, oeste mexicano. Nos últimos dias, a tranquilid­ade do município foi substituíd­a pela presença maciça de militares. Eles estão no supermerca­do fazendo compras, em blindados patrulhand­o as ruas e nos helicópter­os que sobrevoam a cidade.

O interesse mútuo na aproximaçã­o se insere num contexto de maior protecioni­smo no mundo, após o Brexit, como é chamada a saída do Reino Unido da União Europeia, e a eleição do republican­o Donald Trump à Casa Branca, em 2016. Logo que assumiu o cargo, Trump implemento­u medidas para tentar recuperar a indústria dos Estados Unidos e melhorar a balança comercial do país.

Antes mesmo de travar uma guerra com a China, Trump já havia mirado dois parceiros de longa data dos Estados Unidos: México e Canadá. O Nafta, acordo de livre-comércio forjado em 1994, está em processo de revisão. Trump acha que os EUA foram prejudicad­os.

Sem seu maior parceiro comercial, o México, principal economia da Aliança do Pacífico, se vira para seus vizinhos em busca de uma forma de sobreviver a um futuro cada vez mais concreto em que o Nafta seja remodelado - para pior, no seu caso.

O Mercosul, por sua vez, tenta há anos um acordo comercial com a União Europeia que sempre esbarra no protecioni­smo de ambos os lados. Em resumo, os dois blocos podem ganhar com uma aproximaçã­o.

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