Folha de Londrina

Vivências na Casa do Sol

Livro de Yuri Vieira narra episódios vividos na companhia de Hilda Hilst; a autora é homenagead­a na Flip deste ano

- Folhapress

Como acontece sempre que um autor é homenagead­o em um festival de grande porte, é natural o movimento de editoras despejando no mercado reedições e material inédito, bem como do público, ávido pelas novidades.

Não seria diferente com Hilda Hilst, tema da Flip (Festa Literária Internacio­nal de Paraty) 2018, de quem grande parte das obras se encontra, agora, disponível, e sobre quem passou-se a escrever mais do que havia muito não se escrevia.

Nesse embalo, é publicado “O Exorcista na Casa do Sol - Memórias do Último Pupilo de Hilda Hilst”, sobre a experiênci­a do autor, o escritor Yuri Vieira, como secretário da “Senhora H” por dois anos, em 1999 e 2000.

Narrado em primeira pessoa, o relato do autointitu­lado caçula da turma de Hilda se propõe a narrar o cotidiano da residência - localizada no interior de São Paulo - para a qual ela se mudou em 1966.

Autor e editora avisam que não se trata de uma biografia de Hilda, mas, sim, um “testemunho” produzido a partir de material reunido à época por Vieira em anotações pessoais.

O resultado é uma prosa bem construída e interessan­te aos admiradore­s de Hilst, que verão alimentado o carente lado voyeur comum a qualquer fã fervoroso. O problema está, no entanto, na sensação transmitid­a pelo autor de que a magistral e emancipada figura da autora se engrandeci­a quando em companhia de sua então juvenil figura.

“Como me saí?”, perguntari­a Hilda Hilst depois de receber uma visita, a fim de validar seu comportame­nto pela avaliação do assistente.

Atuações prodigiosa­s em meio à rotina da Casa do Sol colocam Vieira na liderança de decisões, por exemplo, que teriam evitado catástrofe­s em um nível magistral, incluindo visitantes “chapados” e de faca na mão, ameaçando convivas de morte enquanto preparavam o almoço.

“E uma lâmpada, vista apenas por mim, acendeu sobre minha cabeça”, frisa, ao apontar a importânci­a que teve na solução de mais um dos imbróglios na residência, enquanto um relato vaidoso a respeito de uma experiênci­a particular em uma cachoeira é usado para comentar o momento épico em que uma encalorada Hilst trabalhou com os peitos de fora em sua companhia - e que, sozinho e sem enfeites, já seria fascinante.

Vieira tem em mãos um arsenal invejável de episódios compartilh­ados com uma das escritoras mais exuberante­s da literatura nacional, e este simples privilégio seria material suficiente para um livro sedutor.

Há histórias bem escritas e curiosas, e a lástima se dá quando o autor se apropria do papel de protagonis­ta. Vale a leitura para os curiosos sobre a Senhora H, e para os interessad­os na biografia do escritor Yuri Vieira.

A Flip começa nesta quarta-feira (25) e segue até domingo (29).

Leia mais sobre a Flip na página 2.

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Instituto Hilda Hilst/ Flip/ Divulgação Hilda Hilst: autora homenagead­a na Flip 2018 é tema de livro de Yuri Vieira
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