Folha de Londrina

PRESIDENCI­ÁVEIS

Candidato do Psol também defende ‘duplo mandato’ para o BC, que teria de zelar pela atividade econômica, além de controlar a inflação

- Nelson Bortolin

Pré-candidato mais à esquerda, Guilherme Boulos (Psol) quer “algum controle” dos fluxos de capital

Pré-candidato mais à esquerda do cenário eleitoral, Guilherme Boulos, do Psol, é um crítico do tripé econômico implantado no governo FHC, que prioriza controle da inflação e das contas públicas, além do câmbio flutuante. Para ele, entre várias outras medidas, é preciso conter a volatilida­de do dólar. “Deve-se impor maior regulação no mercado interbancá­rio de câmbio e algum controle sobre os fluxos de capital de curto prazo, isto é, mecanismos que contenham a especulaçã­o”, afirmou ele, por meio da assessoria, em respostas a perguntas enviadas pela FOLHA.

Boulos acredita que, com isso, a taxa de câmbio terá um comportame­nto “menos errático”. Para ele, a moeda norte-americana não pode oscilar “dessa forma” em uma economia que se tornou grande importador­a de insumos industriai­s, como a brasileira. “Como a utilização de insumos importados foi muito ampliada desde os anos 1990, a alta do dólar produz efeitos inflacioná­rios, devido ao aumento dos custos”, alega. Ele defende mecanismo para que o risco cambial não seja repassado ao “consumidor apenas”.

BANCO CENTRAL

O pré-candidato diz ser necessário estabelece­r um “duplo mandato” para o Banco Central, que teria a responsabi­lidade pelo controle da inflação, mas também pela manutenção da atividade econômica. “Trata-se, na verdade, de uma questão de controle social sobre a execução da política econômica do País. Do ponto de vista mais técnico, deve-se reduzir o peso dos preços administra­dos, pouco sensíveis à política monetária, no cálculo do índice de inflação utilizado”, propõe.

Para Guilherme Boulos, existem distorções na execução da política de controle da inflação que “são extremamen­te prejudicia­is à ma- nutenção do nível de emprego”. “Elas precisam ser superadas.”

SUPERAVIT FISCAL

Estabelece­r como critério da política fiscal apenas metas crescentes de superavits primários anuais, na opinião do pré-candidato do Psol, é “algo desastroso” para o desenvolvi­mento do País. “O planejamen­to fiscal brasileiro tem que se estruturar a partir da definição de metas orçamentár­ias anuais ou plurianuai­s, de preferênci­a, visando a estabiliza­ção da relação dívida/PIB em uma perspectiv­a de médio prazo”, afirma.

Segundo ele, esperar resolver a questão fiscal para só depois, através da restauraçã­o da confiança, induzir o investimen­to tem se mostrado um modelo equivocado em todo o mundo “No curto prazo, precisamos reconstrui­r as condições de cresciment­o econômico, para que, aí sim, a questão fiscal seja equacionad­a através da recuperaçã­o das receitas fiscais principalm­ente”, alega.

PREVIDÊNCI­A

Boulos defende um modelo de Previdênci­a baseado “num sistema único, calcado nos princípios da repartição e da solidaried­ade”, sendo financiado por empregador­es, trabalhado­res e governo. E lembra que a Constituiç­ão prevê outras fontes para financiar a Previdênci­a.

Na visão do representa­nte do Psol, a reforma da Previdenci­ária tem pouca importânci­a na resolução do problema fiscal no curto prazo. “Temos que colocar em discussão os efeitos que os benefícios previdenci­ários possuem sobre a dinâmica econômica dos municípios no interior do Brasil e sobre as famílias que têm como fonte mais importante de renda a aposentado­ria dos idosos.”

ESTADO

Para Guilherme Boulos, o Estado deve ser “do tamanho das necessidad­es da população”. “Temos uma imensa carência de serviços públicos, como saúde, educação, segurança, além de uma imensa carência de infraestru­tura social e urbana. Nossas grandes cidades são caóticas, com falta de moradia, saneamento e transporte”, ressalta.

Por causa desses fatores, de acordo com ele, os problemas do País não se resolvem com Estado mínimo. “Temos que reestrutur­ar algumas carreiras públicas, precisamos dar prioridade­s a algumas áreas, mas é um mito achar que o Estado brasileiro é grande em relação a sua população e ao atendiment­o de suas necessidad­es”, declara.

“Trata-se, na verdade, de uma questão de controle social sobre a execução da política econômica do País.”

Leia amanhã a entrevista da pré-candidata do PCdoB, Manuela D’Avila.

 ?? Gabriela Biló/Estadão Conteúdo ?? Para Guilherme Boulos, modelo que privilegia solução para crise fiscal está superado
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo Para Guilherme Boulos, modelo que privilegia solução para crise fiscal está superado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil