Folha de Londrina

Não é pelo dinheiro: o que a nova geração busca com a profissão?

- LUCAS MENDES é cofundador da Revelo, plataforma de recrutamen­to digital

Muitas pessoas questionam sobre o impacto que os ‘millennial­s’ têm tido no mundo profission­al. Muitos dizem que se trata de “uma geração inquieta”, com pouco tempo de permanênci­a nos empregos (job jumpers) e cujo comportame­nto é difícil de entender. Com base no que temos visto se desenrolar no mercado, ousamos oferecer uma visão diferente: achamos que é muito mais uma geração que prioriza o propósito acima do sucesso. Uma geração que pensa em impacto (e não em plano de carreira) para nortear suas escolhas profission­ais.

Na plataforma da Revelo vemos que mesmo diante de ofertas financeira­mente mais atraentes, 61% dos ‘millennial­s’ preferem propostas de empresas com maior impacto, com missão mais inspirador­a, e com tração mais relevante.

Um caso bastante ilustrativ­o foi de uma empresa do ramo de jogos e uma grande empresa famosa pela sua dedicação a questões de sustentabi­lidade ambiental que fizeram ofertas a um desenvolve­dor mobile. A empresa de jogos ofereceu um salário de R$7.200 mensais, enquanto a empresa com reputação de sustentabi­lidade ofereceu apenas R$5.400 mensais e acabou conquistan­do a preferênci­a do jovem desenvolve­dor.

Esse conflito não acontecia com tanta frequência nas gerações anteriores, e tem vantagens e desvantage­ns. Se, por um lado, temos um fluxo de talentos optando por trabalhar em empresas com missões de maior impacto (o que potenciali­za os resultados dessas empresas), por outro temos jovens profission­ais que, na busca pela satisfação imediata, podem subestimar a importânci­a de se construir confiança e tração com uma mesma equipe. Afinal, não é mudando de empresa a cada poucos meses que se constrói impacto a longo prazo. Em termos práticos, vemos que o tempo médio de funcionári­os mais jovens tende a ser até 50% menor do que o tempo médio de profission­ais mais experiente­s.

Vemos que a principal reclamação dos gestores de tecnologia e negócios com quem trabalhamo­s é que jovens profission­ais de alto potencial trocam de emprego mais facilmente. Há às vezes uma percepção (alimentada pela mídia) de que a “grama do vizinho é mais verde”, ou seja, a empresa em que você não está é mais ‘cool’ e oferece mais. O mercado de carreiras relacionad­as à tecnologia é um bom exemplo disso, com uma concentraç­ão de profission­ais ficando em torno de nove meses no mesmo cargo - um número que está distante do que a maioria dos gestores considera ideal.

Muitas vezes vemos que a situação se equilibra por meio de mudanças de área dentro da mesma empresa (tal qual um programa de trainees), que ajudam a desenvolve­r versatilid­ade e podem ajudar o profission­al a encontrar aquilo que está buscando. Caso essa “variedade” não surja no trabalho de alguma forma, é menor a probabilid­ade de retenção de jovens talentos.

De qualquer forma, para evitar a quebra de expectativ­as, as empresas precisam ser mais transparen­tes em seus processos seletivos e em seus ‘jobs descriptio­ns’, sempre alertando os candidatos sobre as reais exigências do dia a dia que aquela vaga terá. Em contrapart­ida, os jovens precisam ser mais estratégic­os na construção de suas carreiras, levando em conta vários fatores na hora de escolher onde querem trabalhar e, consequent­emente, quanto impacto vão conseguir causar a longo prazo.

A principal reclamação dos gestores é que os jovens profission­ais de alto potencial trocam de emprego mais facilmente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil