Santos nomes
No Norte Pioneiro, 22% dos municípios foram batizados com denominações ligadas ao Catolicismo
No Norte Pioneiro, 22% dos municípios têm nomes de santos ou ligados ao Catolicismo. Onze das 49 cidades da região se enquadram nessa característica: Nova Fátima, Nova Santa Bárbara, Santa Amélia, Santa Mariana, Santa Cecília do Pavão, Santana do Itararé, Santo Antônio da Platina, Santo Antônio do Paraíso, São Jerônimo da Serra, São José da Boa Vista e São Sebastião da Amoreira.
A proporção é superior à do restante do Brasil. No total, 652 dos 5.565 municípios do País possuem toponímia religiosa, o que equivale a 11,7%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em termos percentuais, o Norte Pioneiro tem mais cidades com nomes de santos ou religiosos que os de Minas Gerais, onde 15% dos municípios têm essa característica.
De forma geral, os nomes dos municípios evidenciam a realidade sociocultural de uma região na medida em que revela características de crenças e fatos religiosos. Acabam remetendo ao ser humano, em um determinado contexto sociocultural, revelando indícios e marcas que permanecem presentes nesse espaço mesmo quando a motivação que gerou o nome não existe mais.
Os nomes de santos dos municípios fazem referência à religião católica romana predominante entre as classes dirigentes locais e indica que, pelo menos em nível toponímico, essa hegemonia continua, já que não são identificados nomes que fazem referências a outras correntes religiosas.
O professor de História da Uenp (Universidade Estadual do Norte do Paraná) e pósdoutor em História pela Unesp (Universidade Estadual Paulista, Maurício de Aquino, tem experiência em temas de história e doutrina social do catolicismo. Ele aponta que historicamente, até o ano 1890, o Brasil tinha o catolicismo por religião oficial e as igrejas tinham função civil. “O registro de propriedades era realizado nas paróquias. Muitas das cidades surgiram a partir de capelas rurais e toda área ao redor passou a ser chamada pelo nome do padroeiro dessa capela”, destaca. Isso acontecia principalmente nos municípios mais antigos do País.
“O culto aos santos é comum em Minas Gerais, principalmente da região sul daquele Estado, que faz divisa com São Paulo, de onde veio boa parte dos migrantes que colonizaram o Norte Pioneiro. Meus avós são de Minas Gerais. O culto ao Bom Jesus da Cana Verde, que possui santuário em Siqueira campos, é comum também em Minas Gerais”, aponta.
“O contexto de surgimento das cidades de nossa região ocorreu na segunda metade do século 19, quando mineiros, paulistas e goianos vieram para a nossa região. Quase 100% dessa comunidade era católica. A fé era muito importante para eles e era um elemento de unidade, proteção e coesão entre eles. Eles se deslocavam pelo País e a fé permanecia imutável”, declara.
Em Santa Cecília do Pavão, por exemplo, inicialmente o povoado se chamava Pavão e a construção de uma capela em 1947 acabou recebendo o nome de Santa Cecília depois que foi colocada no altar a imagem da santa. Outro exemplo é o município de Nova Fátima, cujo nome foi sugerido por d. Geraldo de Proença Sigaud, então bispo da Paróquia de Jacarezinho. Ele teria afirmado, à época, que encontrou muitas semelhanças entre a topografia regional de Nova Fátima e a da cidade de Fátima, em Portugal, conhecida pela aparição de Nossa Senhora de Fátima.
Já o nome do município de Santa Mariana constitui uma homenagem a Mariana Junqueira, esposa de Francisco Junqueira, primeiro proprietário das terras onde se instalou o município.
Em Santo Antônio da Platina existe a versão de que quatro pessoas da família Antônio chegaram a um ponto onde a água era muito clara e límpida e parecia prata. Outra versão aponta que o povoador da região era devoto de Santo Antônio e ao ver a água que corria da serra da Pedra Branca, brilhava como prata quando batia o sol, e acabou denominando a região como Santo Antônio da Platina.
Mesmo quando a intenção de nomear o município foi homenagear parentes, Aquino afirma que há a presença do catolicismo santoral no momento em que esse parente recebeu o nome de algum santo. “As pessoas escolhiam os nomes ligados à devoção desses santos”, explica o professor.
O padre Celso Miqueli, coordenador eclesiástico do projeto Rota do Rosário e pároco da Paróquia São João Batista, em Arapoti, reforça que a influência dos mineiros foi um dos principais fatores para a escolha dos nomes do municípios. “Somos uns poucos bastiões da fé e temos muitas festas religiosas, procissões e muita devoção popular. Temos festejos dos santos e isso é celebrado com missas nesses municípios”, ressalta.