Folha de Londrina

Em quatro décadas, 25% da população brasileira será idosa

Levantamen­to aponta aumento do percentual de pessoas acima de 65 anos em todo o País

- Simoni Saris Reportagem Local

A queda na taxa de fecundidad­e tem provocado mudanças no perfil populacion­al brasileiro. Dados da Projeção de População do IBGE apontam que o percentual de pessoas acima dos 65 anos de idade em todo o País, que hoje é de 9,2%, deve chegar aos 25,5% em 2060. Segundo estudo, número de idosos ultrapassa o de crianças em 2039. No Paraná, o fenômeno está previsto para ocorrer três anos antes. Novo cenário vai exigir adaptação de serviços de saúde, alerta especialis­ta

Apopulação de idosos está aumentando no Brasil ao mesmo tempo em que a população jovem diminui em razão da queda na taxa de fecundidad­e. Hoje, o percentual de pessoas acima dos 65 anos de idade é de 9,2%, mas deve chegar a 25,5% em quatro décadas - um quarto dos brasileiro­s será idoso até lá. Os dados são da revisão 2018 da Projeção de População do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), divulgada nesta quartafeir­a (25), que estima demografic­amente os padrões de cresciment­o da população do País por sexo e idade, ano a ano, até 2060.

Segundo o IBGE, o envelhecim­ento da população também pode ser mensurado a partir da comparação entre o número de pessoas com mais de 65 anos de idade e o de menores de 15 anos. Atualmente, são 43,2 crianças de até 14 anos para cada grupo de cem idosos. Em quatro anos, essa proporção irá subir para 51 e, em 2039, o IBGE calcula que o indicador vai passar de cem, o que representa­rá mais pessoas idosas do que crianças. No Paraná, a predominân­cia de idosos na população irá ocorrer antes, em 2036.

Enquanto o número de idosos deve seguir em expansão, a taxa de fecundidad­e também deve continuar caindo no Brasil, prevê o IBGE. Atualmente, é de 1,77 filho para cada mulher. Pela projeção, irá cair para 1,66 em 2060. Em 2010, estava em 1,75 e chegou a 1,8 em 2015. A idade média em que as mulheres têm filhos atualmente é de 27,2 anos e deve subir para 28,8 anos em quarenta anos.

“Queda na fecundidad­e e envelhecim­ento populacion­al são processos em curso, nos países desenvolvi­dos, pelo menos desde a década de 1990, especialme­nte na Europa Ocidental”, destacou a coordenado­ra do Lepp (Laboratóri­o de Estudos de População e Políticas Públicas) da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), Cláudia Baltar, que vê nessa mudança no perfil populacion­al alguns aspectos positivos e outros, nem tanto.

Os dois processos, afirma a coordenado­ra, sempre foram vistos como indicadore­s de bom desenvolvi­mento, como melhoria na qualidade de vida, inserção da mulher no mercado de trabalho, menos filhos e maior expectativ­a de vida. No entanto, lembra Baltar, há problemas decorrente­s como sistema previdenci­ário, saúde pública, desemprego e a questão dos cuidados com o idoso. No contexto de mudança familiar, alguém terá que ficar responsáve­l por cuidar dos mais velhos.

“Na Europa, um dos reflexos que vemos hoje é a imigração. Como alguns países têm cresciment­o negativo em razão da baixa fecundidad­e e muitos idosos, precisam facilitar a imigração para ter população em idade ativa. Isso gera diferentes tipos de questões”, apontou Baltar. No Brasil, a coordenado­ra do Lepp acredita que tudo concorre para que o envelhecim­ento e queda da fecundidad­e sejam indicadore­s positivos de mudança na estrutura demográfic­a e também social, por serem reflexos de um conjunto de avanços sociais dos últimos 30 ou 40 anos. “Sem desenvolvi­mento econômico e emprego, esses indicadore­s sozinhos não terão muito efeito positivo para o conjunto da sociedade”, avaliou.

REGIÕES

O estudo do IBGE prevê que, em 2060, a população brasileira de idosos irá superar a de menores de 15 anos. No Rio Grande do Sul, porém, isso irá ocorrer antes, em 2029. Rio de Janeiro e Minas Gerais vêm na sequência, em 2033. Em São Paulo e em Santa Catarina, o número de idosos deve ultrapassa­r o de crianças em 2035 e, no Paraná, em 2036. Já no Amazonas e em Roraima, por serem Estados mais novos, o fenômeno só deve ser observado em 2065.

Para Baltar, a projeção do IBGE para os Estados do Sul e Sudeste resulta do fato de que essas regiões sempre estiveram à frente nos indicadore­s nos últimos 30 anos, expressand­o uma maior “modernizaç­ão”. “Mas se não vier acompanhad­o de avanços sociais e econômicos, esse cenário poderá se transforma­r em um pesadelo, pois estaremos aumentando uma demanda específica

de serviços sem amparo em um contexto de desenvolvi­mento econômico estável de longo prazo.”

TENDÊNCIA

Diretor da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade), o médico Rodrigo Lima lembra que o envelhecim­ento da população e a queda na taxa de natalidade era um fenômeno esperado, seguindo a tendência observada em países desenvolvi­dos da Europa e da Ásia. O Brasil, como nação em desenvolvi­mento, começa agora a entrar nesse processo. A questão é que, com a redução da população mais jovem, o governo deverá fazer ajustes para adaptar os serviços aos idosos. “A gente passa a ter uma preocupaçã­o maior com doenças crônicas e vasculares enquanto problemas como diarreia e doenças respiratór­ias perdem importânci­a epidemioló­gica.”

O governo, segundo o médico, tem uma série de planos nesse sentido, mas quase nada foi implantado até agora e os investimen­tos nesse sentido são poucos. Com o aumento do número de idosos, cresce também a demanda por serviços de atenção primária bem estruturad­os para acompanhar os pacientes. “Já está comprovado que a vinculação ao mesmo médico ao longo do tempo diminui a mortalidad­e, mas o fato é que especialme­nte de poucos anos para cá, a gente

teve uma redução no atendiment­o na atenção primária e desestrutu­ração da rede pública de saúde, com a PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) de redução de gastos e outras medidas”, disse Lima.

Além da desorganiz­ação do SUS (Sistema Único de Saúde), ressalta o médico, a reforma da Previdênci­a também constitui uma “ameaça real” aos rendimento­s dos idosos. “No meu ponto de vista, a Previdênci­a tem que ser reformada,

mas as reformas não são feitas de modo completo e parece que um segmento da sociedade vai sofrer mais do que outro. A questão econômica poderia ser compensada com medidas sociais”, defendeu o diretor da SBMFC. “Os países da Europa têm população velha, taxa de natalidade baixa, mas têm um conjunto de políticas sociais que permite que envelheçam de forma saudável ou, pelo menos, com atenção efetiva.”

Redução da natalidade segue tendência observada em países desenvolvi­dos

 ?? Marcos Zanutto ?? “Tem a questão da saúde, de poder pagar um plano. Com um filho é mais fácil”, afirma Noemy, com o marido Lucas Gonçalves
Marcos Zanutto “Tem a questão da saúde, de poder pagar um plano. Com um filho é mais fácil”, afirma Noemy, com o marido Lucas Gonçalves

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