Folha de Londrina

Sonho interrompi­do a tiros

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Obrasileir­o acabou se conscienti­zando da crise que tomou conta da Nicarágua da forma mais dura possível: com a notícia da morte a tiros da estudante brasileira de medicina Raynéia Gabrielle Lima, 31. A pernambuca­na foi assassinad­a a tiros na noite de segunda-feira (23), na capital do país, Manágua. Lima cursava o último ano da residência na Universida­de Americana. Ao sair do plantão, foi metralhada enquanto dirigia o seu carro. A Nicarágua vive, desde abril, uma onda de protestos que têm como alvo o presidente Daniel Ortega.

Managuá vive um toque de recolher informal após as 19 horas. A população enfrenta momentos de medo e terror, pois o governo tem respondido com violência aos manifestan­tes. Há informaçõe­s de que ao menos 360 pessoas já foram mortas, a maior parte civis. Ortega nega ter ligação com os grupos paramilita­res que são acusados de serem os responsáve­is pela maioria das mortes, apesar deles usarem bandeiras do partido do presidente, a Frente Sandinista de Libertação Nacional.

No final do ano passado, o assassinat­o de uma outra brasileira que trabalhava no exterior chocou o País. A paranaense Ivanice Carvalho da Costa foi morta em uma operação policial em Portugal. Ela também estava em um carro, que foi alvejado pela polícia, enquanto ia para o trabalho, no restaurant­e do aeroporto de Lisboa. As duas brasileira­s viajaram para o exterior em busca da realização de um sonho e a morte interrompe­u os planos de uma vida melhor. Lima estava prestes a voltar para Pernambuco, onde pretendia exercer a medicina.

O governo brasileiro tomou, com razão, a atitude mais dura dentro do protocolo diplomátic­o. Mandou convocar a embaixador­a da Nicarágua, Lorena Martinez, para que ela preste esclarecim­entos sobre o contexto em que se deu o assassinat­o da estudante. E pediu ainda a presença do embaixador brasileiro na Nicarágua, Luís Cláudio Villafane, para relatar a situação naquele país.

Em junho, as Nações Unidas já haviam pedido que Ortega autorizass­e o acesso das equipes de direitos humanos na Nicarágua. Mas diante dos últimos acontecime­ntos, o Brasil e outros países precisam cobrar duramente investigaç­ões rápidas e imparciais sobre a morte de Lima e de outros homens e mulheres, exigindo que os criminosos sejam responsabi­lizados.

O governo brasileiro tomou, com razão, a atitude mais dura dentro do protocolo diplomátic­o

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