Folha de Londrina

‘Brasil não tem política nacional de segurança pública’, diz Jungmann

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São Paulo - O ministro da Segurança Pública Raul Jungmann afirmou nesta quarta-feira (25) que o Brasil carece de uma política nacional de segurança pública e que o sistema penitenciá­rio é um dos maiores problemas da violência. As declaraçõe­s foram dadas no segundo debate do “Fórum Estadão - A Reconstruç­ão do Brasil”, realizado em São Paulo, que tratou de alternativ­as para a segurança pública no País. Além do ministro, participar­am o exsecretár­io nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, e o diretorpre­sidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.

Questionad­o sobre soluções de curto prazo para a violência, Jungmann argumentou que falta no País uma política nacional para tratar do assunto. “O Brasil não tem política nacional de segurança pública. Se olharmos as sete Constituiç­ões, nunca conseguimo­s ter um rumo para a segurança pública, ela sempre foi concebida como responsabi­lidade dos Estados”, afirmou o ministro. “Temos um federalism­o acéfalo e a segurança pública carece de rumo.”

O ministro também não poupou críticas ao sistema penitenciá­rio, que chamou de “pesadelo”. “Estamos criando um monstro para nos devorar.” Segundo o ministro, há cerca de 70 facções criminosas atuantes no Brasil, a maior parte presente nas cadeias. “Quando entra no presídio, todo jovem para sobreviver tem de fazer um juramento e fazer parte de uma facção”, disse.

Para Jungmann, a falta de recursos e a ausência de uma política nacional de prevenção são outros problemas. “Fala-se muito de repressão, mas o coração da tragédia está localizado numa juventude de periferia de 15 a 24 anos. Eles têm três vezes mais capacidade de matar e morrem três vezes mais. Têm baixa educação, pouca renda e geralmente vêm de lares desagregad­os”, destacou.

Para o ministro, não há “solução mágica”. A prevenção seria o combate às facções criminosas que agem dentro e fora dos presídios brasileiro­s. “O crime organizado ameaça as instituiçõ­es, a sociedade e o Estado. Eu focaria na juventude com programa de prevenção social, focando atividade do governo sobretudo na prevenção”, afirmou. “Então, nós somos recrutador­es do grande crime organizado.” O ministro também afirmou que não se opõe a parcerias com a iniciativa para administra­r presídios “onde for possível que tenha”.

O coronel reformado da PM José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, afirmou que as projeções em relação ao aumento da violência para daqui a dez anos “não são confortáve­is”. Ele prevê um gasto com segurança pública em torno do R$ 1 bilhão por dia. “É preciso ter fundamenta­ção no combate ao crime. Precisamos de medidas de redução de impunidade”, disse.

O ex-PM afirmou que as chances de quem mata alguém hoje ir para a cadeia é de “apenas 5%”. Ele também relacionou os índices de corrupção com a violência. “Nosso problema de impunidade vai de alto a baixo”, afirmou. Como sugestão, propôs “municipali­zar a ação policial”.

Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, defendeu que o Brasil precisa “desideolog­izar” o debate sobre políticas de segurança e “arrumar a casa”. “Todos os anos temos um estoque de 20 milhões de crimes que entram no sistema judiciário. Como o Estado está organizado para lidar com isso? Não está”, disse. “Se a gente não arrumar a casa, os milhões (em investimen­to) que estão chegando para não vão resolver.”

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