‘A estrutura e competência já existem’
Palestrante do EncontrosFolha, o diretor industrial do Tecpar, Rodrigo Silvestre, fala sobre o potencial de Londrina para o desenvolvimento de produtos e defende a articulação do setor
Com o olhar voltado para a inovação, o diretor industrial da Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), Rodrigo Silvestre, palestrante do 12° EncontrosFolha – O Mercado da Saúde em Londrina, tem por objetivo apontar onde estão as principais oportunidades do setor na cidade.
Para ele, um grande estímulo em Londrina é na área de produtos para a saúde, como medicamentos, stents, cateteres, até equipamentos e softwares. “Nos parece que é a vocação do território, por causa do APL (Arranjo Produtivo Local) de software e pela atuação das empresas da região”, observa.
A ideia, de acordo com ele, não seria desenvolver um novo acelerador linear, por exemplo, mas firmar parceria com uma das empresas que o fazem. “Isso permitiria a qualificação de empresas de Londrina para serem fornecedoras de parte dessa tecnologia, ou seja, para incorporar tecnologia de software que vai embarcar nesse sistema. E aos poucos, vamos inserindo essas empresas no cenário internacional”, aponta.
Todo o potencial do município para inovar em saúde vem atraindo os olhares não só do Tecpar, mas de entidades como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), além de fomentar uma articulação com o governo para a implantação de um Centro de Referência de Tecnologia de Inovação e Saúde para a região de Londrina.
“O setor de saúde é um dos que mais investe em pesquisa e desenvolvimento. É um dos que gera mais trabalho de alto valor agregado e tem um potencial de desenvolvimento por território muito grande. A gente precisa articular esse ambiente de inovação de Londrina para se ter um direcionamento e aproveitar melhor as oportunidades”, completa.
Silvestre reconhece que a falta de política industrial é um dos principais problemas hoje do Brasil, que gera um desconhecimento sobre os setores mais importantes em cada região. Além disso, como o Brasil é um grande consumidor tanto de tecnologia quanto de serviços tecnológicos em saúde, há uma grande dependência de conhecimento gerado fora do País. “Estamos trabalhando fortemente para conseguir transferir essas tecnologias que são úteis para nós para dentro do tecido industrial e de serviços do Brasil e especialmente, do Paraná”, afirma.
AJUSTE
Para esse cenário, Silvestre coloca a necessidade de um “ajuste” para a lacuna que existe entre pesquisa e estudos clínicos, com a lógica da produção industrial no País. A ideia, segundo ele, é mostrar para o pesquisador e para o empresário da região ou do Estado, como eles podem se associar para fazer um desenvolvimento científico com foco na oferta do produto.
“Eventos como esse que a FOLHA está promovendo são importantes porque mostram que todo mundo está fazendo a mesma coisa, de pontos de vista diferentes. Quando todo mundo senta e conversa, eles convergem para a mesma direção e o resultado é mais eficiente”, diz.
Essa aproximação da academia, indústria e governo é um dos trabalhos que ele têm defendido para atender as demandas do complexo industrial da saúde. “Eu diria que 90% dessa aproximação depende de diálogo. A estrutura e competência já existem”, sustenta.
Com isso, Silvestre acredita que as universidades terão um melhor direcionamento para organizar seus conteúdos programáticos, as associações e entidades locais poderão oferecer serviços complementares e o governo poderá dar os incentivos na direção certa. “Com todas essas coisas se somando, a gente gera emprego e desenvolvimento do território”, ressalta.
Ele, que foi diretor do DECIIS (Complexo Industrial e Inovação em Saúde) na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do MS (Ministério da Saúde), vê essencialmente como estratégia de estado, usar esse poder de compra para incorporar tecnologia, ampliar acesso e garantir à população o que está previsto na Constituição. Formado em Ciências Econômicas pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), Silvestre é mestre em Desenvolvimento Econômico pela UTFPR (Universidade Federal do Paraná).