Polo de Saúde de Londrina tem grande potencial a ser explorado
Com mais de 70 empresas fornecedoras de produtos e tecnologia para a saúde, cidade também começa a se destacar pela indústria voltada ao setor
Londrina sempre foi reconhecida como polo de saúde devido às universidades e prestação de serviços na área. Agora, também começa a ser reconhecida pela indústria do setor - segundo números do Sebrae em parceria com a Fundação Certi, existem 77 empresas fornecedoras de produtos e tecnologias em saúde na cidade.
“Temos força tanto na prestação de serviços quanto na indústria. Sempre fomos conhecidos pela prestação de serviços. O curso de medicina da UEL (Universidade Estadual de Londrina) nasceu antes mesmo de a universidade ser universidade. Mas não tínhamos noção que a indústria existia”, conta Simone Millan, consultora do Sebrae Londrina. Ela explica que era muito difícil identificar a indústria voltada ao setor na cidade, já que essas empresas estão pulverizadas em vários outros setores de atividade. “A indústria da saúde está presente em várias áreas de atividade. Pode ser de plástico, metal, software. Muitas vezes pesquisamos por elas pelo CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) e não vemos que elas também produzem para a área de saúde.”
Apesar disso, a indústria do setor da saúde carece de desenvolvimento. No estudo realizado sobre o polo de saúde de Londrina, pela Fundação Certi, pode-se ver que o setor industrial, em algumas vertentes, possui nível de maturidade menor que o setor de serviços. É o caso das vertentes de talentos, ICTIs (Instituições de Ciência, Tecnologia) e Inovação e Governança. O caso mais grave está nas ICTIs. A percepção é a de que existe muita dificuldade na interação dos grupos e linhas de pesquisa acadêmica com o setor produtivo.
A Timo GF Digital, de Londrina, é uma agência de desenvolvimento de aplicativos e de e-commerce, mas nasceu de projetos idealizados por um médico. “Um dos sócios é um médico que é simpatizante da tecnologia. Na área que ele atende, existem vários processos em que a tecnologia é pouco utilizada no dia a dia, processos que poderiam ser automatizados”, conta Renato Toshio Kuroe, sócio da Timo. Um dos projetos atuais da empresa é um software – chamado EcoCloud - que agiliza o processo de laudo médico para exames de ecocardiograma. Com o uso do software, a espera pelo resultado do exame reduz drasticamente. O paciente pode receber o laudo do ecocardiograma já no final da consulta, sendo que o processo costuma demorar uma semana. “O maior desafio de empresas que desenvolvem sistemas é acompanhamento técnico na área da saúde. Nunca iríamos conseguir se não tivéssemos um sócio da área”, comenta Kuroe.
Para Beatriz Emi Tamura, presidente da AML (Associação Médica de Londrina), os profissionais de saúde precisam enxergar que eles também podem ser empreendedores. “O profissional de saúde precisa ter uma visão empreendedora de que sua ideia pode ser posta em prática.” Na avaliação da médica, falta “conexão” entre esses profissionais e outros ramos de atividades, o que pode render boas oportunidades de negócio. “Há também outras empresas, de outros segmentos, que estão começando a ter olhos para a saúde. Londrina tem várias startups de tecnologia, aplicativos. Vale unir setores que antes talvez não tinham esse olhar. Isso acaba abrindo vários caminhos que muitas vezes a gente desconhece.”
“A solução para um problema da área de saúde não é dada sempre por um médico. A proposta de solução pode vir de várias áreas”, acrescenta Millan. “Há ganhos tanto para a saúde quanto para a indústria, que muitas vezes quer fazer um produto, mas não tem acesso a um médico.” Junto a outras entidades ligadas ao setor em Londrina, o Sebrae está realizando ações para estimular a inovação na saúde por meio do empreendedorismo e de parcerias entre empresas do polo ou com companhias de outros setores da economia londrinense. Na visão da consultora, o que falta no polo de saúde de Londrina é organizar a “ponte para a inovação”, e colocar os atores que fazem parte dela para conversar.
CAPACITAÇÃO
Junto ao Polo de Saúde de Londrina, a AML e o Indese (Instituto Nacional de Desenvolvimento da Saúde e Ecologia), o Sebrae realiza um Programa de Inovação em Saúde, voltado a empresas que queiram desenvolver novos produtos para o setor, e elaborar projetos para a captação de recursos. Durante o programa, que teve início no mês de junho, estão sendo realizados módulos para orientar os interessados no desenvolvimento de produtos na área de saúde e na elaboração de projetos para a captação de recursos.