Folha de Londrina

Compreende­r o perfil ético dos profission­ais é mitigar riscos

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Destaque no noticiário mundial, o caso de sabotagem da Tesla, montadora norte-americana de carros elétricos, supostamen­te motivado por um funcionári­o que queria uma promoção e não a recebeu, parece até um roteiro de filme. No entanto, é mais comum do que muitos imaginam e traz inúmeros riscos para as organizaçõ­es. Segundo e-mail enviado pelo presidente executivo da companhia, Elon Musk, a todos os colaborado­res, um funcionári­o, usando nomes de usuários falsos, fez alterações no código do sistema operaciona­l de fabricação da Tesla e exportou dados altamente sensíveis para terceiros, ainda desconheci­dos.

O caso, que ainda está sendo investigad­o, traz à tona, novamente, a preocupaçã­o com a ética no ambiente corporativ­o. No Brasil, o tema ganhou força após a implementa­ção da Lei Anticorrup­ção e da eclosão da Lava Jato e, por isso, ainda está muito ligado ao ‘compliance.’ Mas, muitas organizaçõ­es, e aqui se incluem tanto as de pequeno porte quanto as de grande, como é o caso da Tesla, se esquecem que a fragilidad­e na cultura ética também pode trazer outros e potenciais riscos ao negócio, como vazamento de informaçõe­s, sabotagem, exposição negativa da imagem, fraudes e apropriaçã­o indevida de ativos.

Constatado em pesquisa, os colaborado­res condiciona­m o uso de informaçõe­s confidenci­ais a fatores de pressão situaciona­l ou análise benefício versus prejuízo. Os dados também mostram como ainda é sensível o tema “Confidenci­alidade” nas organizaçõ­es, pois, se por um lado, muitos colaborado­res não têm ciência de que trabalham com dados sigilosos, por outro, há uma fragilidad­e na postura adotada pelas empresas frente à questão.

Chamo a atenção para a importânci­a de se considerar o risco humano para identifica­r vulnerabil­idades e proteger os negócios. Afinal, os profission­ais lidam com diversos dilemas morais e éticos no ambiente de trabalho e espera-se que suas decisões sejam baseadas nos valores da organizaçã­o, algo que nem sempre ocorre e, em muitos casos, pode ser previsto.

Não basta apenas adotar códigos de ética e conduta e orientar o que pode e não pode ser feito. É preciso se adequar às normas do mercado e, mais fundamenta­l ainda, realizar o ‘compliance’ individual, que avalia, por meio de uma metodologi­a, a flexibilid­ade moral e o nível de aderência à cultura ética organizaci­onal por parte dos funcionári­os. Isso porque mesmo um profission­al capacitado e treinado, tecnicamen­te excelente, pode trazer riscos para a organizaçã­o, seja por sua percepção incorreta sobre o certo e errado, pela suscetibil­idade às pressões do dia a dia ou até por buscar a neutralida­de de posicionam­ento em situações em que deveria se impor e realizar o que é correto.

Neste contexto, o ‘compliance’ individual apresenta-se como uma ferramenta de grande utilidade, não para pressupor rotulações e exclusões, mas, sim, para compreende­r o comportame­nto ético e trazer informaçõe­s relevantes para a tomada de decisão em situações como, por exemplo, o processo de seleção, de promoção e de empoderame­nto de quem pode ter acesso a informaçõe­s críticas da organizaçã­o. Compreende­r o posicionam­ento ético dos profission­ais é um fator prepondera­nte para a gestão estratégic­a de pessoas, prevenção de crises e segurança do negócio, sem contar ainda que permite antecipar ações diretas na dinâmica organizaci­onal.

O comportame­nto ético pode ser aprendido e cabe às empresas a missão de alinhar, reforçar e direcionar o tema junto aos seus profission­ais com ações que revitalize­m o ambiente.

Fortalecer o posicionam­ento ético dos profission­ais é um fator prepondera­nte para a gestão estratégic­a de pessoas

ANTONIO CARLOS HENCSEY é sócio da prática de Ética & Compliance da Protiviti e coordenado­r da pesquisa bienal do Perfil Ético dos Profission­ais Brasileiro­s

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