Folha de Londrina

Entidades alertam para prevenção de acidentes de trabalho

Último levantamen­to da Previdênci­a aponta 118 ocorrência­s diárias no Paraná; especialis­tas afirmam que empresas e funcionári­os precisam se conscienti­zar para evitar prejuízos físicos e econômicos

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Onúmero de acidentes de trabalho caiu 18,5% no Paraná entre 2014 e 2016, o que não é suficiente para se comemorar. Foram 43,2 mil ocorrência­s registrada­s no Estado há dois anos, segundo o último dado consolidad­o do Aeps (Anuário Estatístic­o da Previdênci­a Social) 2018 divulgado no início do ano, o equivalent­e a 118 registros ao dia. Por isso, representa­ntes de sindicatos e de entidades de medicina laboral destacam a importânci­a de conscienti­zar empresário­s e trabalhado­res neste 27 de julho, data marcada pelo Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho.

Mesmo porque a redução de quase 20% no número de ocorrência­s não é explicada somente pelas melhores condições de trabalho. O presidente da APMT (Associação Paranaense de Medicina do Trabalho), Guilherme Murta, cita dados dos IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) sobre desocupaçã­o, que mostram que a crise econômica entre 2014 e 2016 elevou o índice de pessoas fora do mercado de trabalho de 4% para 8% no período. “E a CAT (Comunicaçã­o de Acidente de Trabalho) é emitida somente por meio da Carteira de Trabalho”, diz.

O que revela outro ponto preocupant­e: um em cada seis acidentes laborais não foram notificado­s e são descoberto­s em atendiment­os secundário­s. “Quando a pessoa vai ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para requerer um benefício, o perito pode identifica­r que não foi feito uma CAT. Há também os casos em que o registro não é feito intenciona­lmente”, explica Murta, ao lembrar que os índices nacionais são semelhante­s aos paranaense­s.

De acordo com a nota técnica 162 de 2016 do Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos), o número já expressivo tende a ser ainda maior, por não abranger os trabalhado­res informais, que são cerca da metade dos ocupados no País, os autônomos e os que não precisam passar por perícia. Cenário que mostra a importânci­a de conscienti­zação de trabalhado­res e empresário­s sobre a questão. “Quando pensamos em acidente de trabalho, pensamos em lesões graves, cortes, amputações, mas existem situações menos evidentes como tendinites liga- das ao trabalho repetitivo, depressão ou ansiedade pelo trabalho, ou mesmo estresse pós-traumático que aparece em funcionári­os depois de um assalto dentro da empresa, por exemplo”, afirma o presidente da APMT.

O dano mais importante é ao trabalhado­r e à família dele, tanto por questões físicas quanto morais. Contudo, dados sobre prejuízo econômico da OIT (Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho) buscam sensibiliz­ar também governante­s, para que aumentem a fiscalizaç­ão, e empresário­s, para que tomem iniciativa­s para reduzir o risco de ocorrência­s. “A estimativa é que 4% do PIB de cada país sejam perdidos para acidentes de trabalho, que o INSS tenha gastado R$ 26 bilhões em benefícios ligados ao tema entre 2012 e 2017 e que os trabalhado­res ficaram mais de 40 milhões de dias parados nesses cinco anos”, diz Murta.

MAIS INFORMAÇÃO

Coordenado­r de estudos de Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança da regional estadual da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), Edu Trevisan afirma que a frente mais importante de ação é a educação e conscienti­zação de todos os elos da cadeia. “Quando há um acidente, não é interessan­te para ninguém. O funcionári­o fica ferido, ou com moral baixa, mas as empresas e o governo também têm custos.”

Trevisan lembra que, com a crise econômica, muitas empresas cortaram gastos com ações de informação e treinament­o em segurança para funcionári­os. “Pode não parecer no início, mas sai mais caro depois. Mesmo que a pessoa não sofra um acidente, pode ter problemas ergonômico que levem a lesões por esforço repetitivo, o que afasta o trabalhado­r e gera um passivo trabalhist­a, principalm­ente se ele tiver de se desligar da empresa por isso.”

A sugestão do especialis­ta em ergonomia da ABRH-PR é que mesmo empresas embrionári­as destinem recursos para a segurança e medicina do trabalho. “A saúde do trabalhado­r se reverte em saúde da empresa, em endomarket­ing e em imagem para a marca”, diz Trevisan.

Atrelado à conscienti­zação, o presidente da APMT afirma que é preciso fortalecer a fiscalizaç­ão. “Temos outros casos em que isso foi útil, como no caso do uso de cinto de segurança no trânsito. As pessoas apenas começaram a respeitar a lei quando começaram a receber multas e pontos na carteira”, diz Murta. Para ele, avanços ocorrerão a partir de janeiro de 2019, com a necessidad­e de alimentaçã­o sobre o tema pelo e-Social, sistema que obriga os empregador­es a comunicar informaçõe­s unificadas sobre os funcionári­os ao governo.

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Shuttersto­ck Um em cada seis acidentes laborais não foram notificado­s e são descoberto­s em atendiment­os secundário­s, segundo a Associação Paranaense de Medicina do Trabalho
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