Folha de Londrina

Sede do Neab homenageia Ya Mukumbi

Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro­s funcionará em casa de madeira da década de 1930 que foi reconstruí­da no campus da UEL

- Carolina Avansini Reportagem Local

Aemoção deu o tom da inauguraçã­o da nova sede do Neab (Núcleo de Estudos Afro-brasileiro­s) da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) na quintafeir­a (26). Batizada oficialmen­te de Casa Dona Vilma Ya Mukumbi, em homenagem à líder do movimento negro assassinad­a em 2013 em Londrina, a casa de madeira onde funcionará o núcleo foi doada pela família Kitahara.

Lideranças do movimento negro, comunidade universitá­ria e familiares de dona Vilma e também dos Kitahara participar­am da cerimônia, que foi precedida pela conferênci­a “Religiões de Matriz Africana e Intolerânc­ia Religiosa”, proferida pelo professor titular sênior da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universida­de de São Paulo), Kabengele Munanga. Intervençõ­es artísticas também fizeram parte da programaçã­o da inauguraçã­o.

A construção do Neab foi possível graças à arrecadaçã­o de recursos na comunidade, que totalizara­m R$ 15 mil. A casa original – construída na década de 1930 e que totaliza 83 m² – estava na UEL desde 2008. Ela foi trazida pelo professor do departamen­to de Arquitetur­a e Urbanismo, Humberto Yamanaki, e montada através de parceria com o Escritório Modelo de Arquitetur­a e Urbanismo da UEL, sob coordenaçã­o do professor Antonio Carlos Zani. A prefeitura do campus forneceu as tintas e a construção da rampa de acesso.

A coordenado­ra do Neab, Maria Nilza da Silva, do departamen­to de Ciências Sociais da UEL, iniciou o discurso lembrando que a história dos negros pelo Brasil é marcada pela “teimosia em sobreviver”. “Teimamos para sobreviver desde os primeiros que chegaram ao Brasil”, afirmou ela, remetendo ao período da escravidão. “A abolição parecia uma resposta para o fim da escravidão, mas foi influencia­da pela elite. O Brasil continuou excluindo a população negra”, lamentou.

O Neab, segundo ela, é uma ferramenta para garan- tir a aplicação de políticas afirmativa­s, como por exemplo as cotas raciais. “A UEL foi uma das pioneiras na implantaçã­o de um sistema de reserva de vagas para estudantes de escola pública e negros, em 2004. Desde então, o Neab busca estratégia­s para manter essas pessoas na universida­de”, afirmou. Outra demanda atendida pelo Núcleo é a oferta de cursos de educação continuada para professore­s da educação básica, em cumpriment­o à lei que estabelece a obrigatori­edade do ensino de história da África e das culturas africana e afro-brasileira no currículo da educação básica.

A filha de Ya Mukumbi, Gigi Santos de Oliveira, lembrou que três gerações de sua família foram assassinad­as (dona Vilma foi morta com uma filha e uma neta) e o assunto ainda causa muita dor em todos. “Com a inauguraçã­o da casa, será mais fácil falar sobre isso com as crianças”, avalia ela, para quem o maior legado deixado pela mãe é a luta pela educação da população negra e a preservaçã­o da história. “Minha mãe lutou contra o racismo, espero que o Neab continue essa luta. Nossa história não é a história que o branco escreveu. Não fomos só escravos, somos competente­s e capazes. Vou lutar para que meus filhos também usufruam da UEL”, afirmou.

Representa­ndo familiares, Cecília Kitahara, 77, se emocionou ao ver a casa onde cresceu e viveu por 25 anos reconstruí­da no campus da UEL. “Doamos a casa para que ela fosse preservada e ficamos muito felizes que será utilizada pelo Neab, cujo trabalho é muito importante”, disse. O encontro com o imóvel provocou lembranças da infância. “Ficou igualzinha, parece que voltaram os anos que vivi aqui”, revelou.

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Fotos: Gustavo Carneiro Lideranças do movimento negro, comunidade universitá­ria e familiares de dona Vilma e também dos Kitahara (que doaram a casa) participar­am da cerimônia
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Intervençõ­es artísticas também fizeram parte da programaçã­o de inauguraçã­o

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