Folha de Londrina

DESTRUIÇÃO -

Quase 5.000 pessoas foram afetadas por tempestade de granizo; 1.100 casas ficaram destelhada­s

- Vítor Ogawa geral@folhadelon­drina.com.br

A população de Sengés (Campos Gerais) trabalha para reconstrui­r os estragos causados pelo temporal de granizo que atingiu a cidade na segunda-feira (30). As pedras de gelo destelhara­m 1.192 casas. De acordo com a Defesa Civil, 4.783 pessoas foram afetadas, mas ninguém se feriu. Parte do prédio da Câmara de Vereadores desabou.

Sengés - A população de Sengés (Campos Gerais), município com pouco mais de 19 mil habitantes, trabalha para reconstrui­r a cidade depois que um temporal de granizo arrasou a localidade na segunda-feira (30). De acordo com a Defesa Civil, mais de 1.100 casas foram destelhada­s e 4.783 pessoas foram afetadas. Uma das imagens mais chocantes foi a destruição da Câmara de Vereadores. O estrago foi generaliza­do.

Na tarde desta terça-feira (31), as lonas que estavam sendo distribuíd­as pela Defesa Civil para a população atingida acabaram por volta das 15 horas. Mas o movimento de pessoas em busca de material para proteger as casas não cessou. Uma das pessoas que pediram lonas era Lucinéia Bueno. Ela relatou que o granizo atingiu a cozinha e o quarto da casa dela. “Dormi com o colchão todo molhado, debaixo da chuva. Não tinha para onde correr. O colchão, as cobertas e o guarda-roupa molharam todos. Deu vontade de chorar de nervoso. As crianças começaram a chorar de medo e a chuva não passava”, relatou.

Tenente Gilson Diniz, da Defesa Civil, afirmou que assim que a tempestade de granizo cessou, uma equipe do órgão de Jaguariaív­a foi deslocada para Sengés para auxiliar no atendiment­o às vitimas. Foram distribuíd­os 50 rolos de lonas de cem metros, o suficiente para atender 500 famílias.

“Nós solicitamo­s lonas de todos os municípios da região, mas elas já acabaram. Pedimos para que Curitiba nos enviasse, para poder atender as famílias que ainda não haviam sido contemplad­as”, ressaltou. Ele apontou também que foram solicitada­s 10 mil telhas de fibrocimen­to da Defesa Civil de Cascavel. A entrega de mais lonas está prevista para ser retomada às 14 horas desta desta quarta-feira (1).

A dona Neusa Rodrigues Lopes, 62, moradora da Vila São Pedro, foi uma das afetadas que tentou obter a lona nesta terça, mas nada como isso. As pedras eram graúdas. Eu gritei para Jesus para que não acontecess­e nada com

a gente. Tentei conseguir as lonas, mas não consegui nada. Temos que rezar para não chover”, afirmou.

Logo na primeira noite depois da tempestade foram atendidas 300 famílias. Outras 900 famílias foram atendidas no dia seguinte. Segundo a assistente social Tacyane Martins Osternach, apenas uma família ficou desalojada e não possuía local para dormir e acabou pernoitand­o na Igreja Matriz. Muitas das famílias ficaram sem condições de fazer as refeições em suas casas e acabaram se alimentand­o no salão da igreja. Várias famílias que conseguira­m as senhas não conseguira­m receber um pedaço de lona e ficaram com suas casas destelhada­s.

O estrago foi generaliza­do em toda a extensão do município, incluindo os bairros São edro, Cohab, Tucunduva e Santo Antônio. Muitas pessoas tiveram que se deslocar a municípios da região para adquirir telhas, já que as filas diante das lojas de material de construção de Sengés estavam grandes.

A assistente social Rayza Proença, 26, revelou que estava em casa no momento da tempestade. “Os estragos foram grandes. As pedras tinham o tamanho de uma laranja. Meu marido foi a Itararé para comprar telhas para podermos consertar o telhado”, destacou.

O lavrador aposentado Lupércio Camilo de Oliveira, 77, relata que há 71 anos não via uma tempestade de granizo como essa. “Demoramos duas horas para tirar todo o gelo que estava dentro de casa. Ficamos com o gelo por todos os lados a uma altura de 40 centímetro­s”, relatou. A esposa dele, Maria do Carmo de Oliveira, teve de arrastar todos os colchões para fora de casa para secar, porque todos ficaram molhados. Ele teve de chamar familiares de Bauru para ajudar na reconstruç­ão da casa.

A casa de Douglas Brizola de Almeida, 53, também foi destelhada. Ele relata que estava a 500 metros de casa quando tudo aconteceu. “O granizo estragou 60 folhas de telhas. Comprei uma parte em Sengés, mas não tinha mais dinheiro e fui a Itararé, porque lá eles vendiam as telhas no cartão de crédito parcelado em oito vezes”, apontou.

O motorista Marcelo Aparecido Alves, 44, tinha acabado de chegar em casa quando a tempestade chegou. “Não tem corno descrever a cena. Estava todo mundo assustado. A tempestade parecia que não ia passar”, relembrou. Nessa hora tudo o que ele pensou foi permanecer no melhor local para se proteger de uma catástrofe. Segundo ele, as pedras de gelo atravessav­am o telhado diretament­e para dentro de casa. “Eu falei para minha esposa para minha filha ficarem perto da porta, porque se o teto desabasse, pelo menos poderiam fugir. Mas quando vi o tamanho dos granizos cheguei à conclusão de que se saíssem de casa poderiam morrer se fossem atingidas pelas pedras de gelo”, apontou.

Alves calcula que os gastos com o conserto do telhado cheguem a R$ 10 mil, sem contar a mão de obra. “Fora o dia de trabalho que estou perdendo”, reclamou. “Isso tudo é resultado do que o homem está fazendo com a natureza. Como a gente vai brigar contra a natureza?”, disse Alves.

O supervisor técnico da principal provedora de internet do município, Adriano Fernandes, relatou que a cidade inteira ficou sem o serviço. Na tarde desta terça, ele trabalhou no conserto de cabos pela cidade, tentando restabelec­er a conexão.

Como a assistênci­a social ficou focada no atendiment­o às vítimas, os Cras (Centro de Referência de Assistênci­a Social) não puderam fazer a doação de alimentos que costumeira­mente realizam. A dona de casa Zaíra de Mello, 59, teve a casa

destruída e habitualme­nte ia ao CRAS para pegar alimentos, mas como estava fechado, foi à Igreja Matriz. “Peguei alface, couve, repolho e mandioca, senão não tenho o que comer. Tenho filhos e netos para cuidar”, declarou.

As crianças começaram a chorar de medo e a chuva não passava”

Eu gritei para Jesus para que não acontecess­e nada com a gente”

 ?? Marcos Zanutto ??
Marcos Zanutto
 ?? Fotos: Marcos Zanutto ?? “A tempestade parecia que não ia passar”, relembrou o motorista Marcelo Alves
Fotos: Marcos Zanutto “A tempestade parecia que não ia passar”, relembrou o motorista Marcelo Alves
 ??  ?? Logo após o temporal, quantidade de lonas distribuíd­as foi suficiente para atender 500 famílias
Logo após o temporal, quantidade de lonas distribuíd­as foi suficiente para atender 500 famílias
 ??  ?? Uma das imagens mais chocantes foi a destruição da Câmara de Vereadores
Uma das imagens mais chocantes foi a destruição da Câmara de Vereadores
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil