Cruzada contra o fenômeno da desinformação nas eleições
FGV entra na guerra contra as “fake news” e lança observatório de monitoramento para o período de campanha
Combater um inimigo que não tem nome, posicionamento ideológico definido e apenas um modo de agir. Este é o grande desafio de quem trabalha com a informação em um período em que deve-se desconfiar de tudo o que circula nas rede sociais. É com o objetivo de engrossar o combate ao fenômeno da desinformação durante o período eleitoral que a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV DAPP) lança nesta semana a Sala da Democracia Digital.
Para o pesquisador da FGV, Amaro Grassi, a ideia é que este seja um espaço de monitoramento e análise de informações em tempo real para se entender o que as pessoas estão falando sobre os candidatos, propostas e polêmicas, e descobrir, de fato, qual é a agenda pública que vai ser construída durante a campanha.
“Mas, também, monitorar este fenômeno da desinformação que vem sendo falado nos últimos dois anos desde a eleição americana, pelo menos, que é basicamente o uso de robôs nas redes sociais, contas automatizadas, entender o impacto das fake news neste debate e ações de desinformação em geral, como ataques consertados pelos chamados ‘trolls’”, explica o pesquisador, em referência à suposta interferência da Rússia na manipulação de informações nas redes sociais que teria favorecido Donald Trump na campanha presidencial norte-americana em 2016.
A equipe da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV já analisou 15 episódios em que robôs foram usados para influenciar o debate nas redes, um deles no caso Marielle Franco. O levantamento revelou que 1.833 ro- bôs atuaram na reprodução automática de tuítes sobre o assassinato da vereadora carioca do PSOL e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, no centro do Rio. Esse monitoramento foi feito durante dois dias do mês de março e segundo os pesquisadores os robôs foram responsáveis por 5% do engajamento acerca do assunto na rede social, cujo total de tuítes chegou a 1,172 milhão entre 336.475 usuários únicos.
RELATÓRIOS
Grassi conta que a expectativa é de que nas eleições deste ano novamente esta “técnica” seja usada, por isso está em prática uma metodologia própria que conta com três parâmetros para identificar o compartilhamento de mensagens por robôs. “O primeiro deles são contas que publicam mais de um tuíte em menos de um segundo algumas vezes, isso é um indicativo forte. O outro é o uso de algumas destas plataformas que gerenciam múltiplas contas ao mesmo tempo e que são suspeitas, ou seja, não são reconhecidas pelo twitter, algumas são, outras não, e a terceira é quando identificamos uma mesma mensagem sendo reproduzida por centenas de perfis num espaço muito curto. Às vezes a mesma mensagem até com o mesmo erro de português”, afirma.
Segundo a FGV, relatórios semanais vão ser lançados e o público interessado pode acompanhar tudo por meio de um hot site e um aplicativo. Para que haja interatividade até uma hashtag oficial foi criada, é o #observa2018.