Folha de Londrina

Justiça não está preparada para avalanche de informaçõe­s, diz professor

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Para o professor do Departamen­to de Filosofia da Uel (Universida­de Estadual de Londrina) e analista político Clodomiro Bannwart, a iniciativa da FGV é muito importante, mas ainda são vários os desafios no enfrentame­nto deste fenômeno. O principal é a eficácia das medidas que podem ser colocadas em prática, no âmbito da política, pela Justiça Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral ( TSE).

“Ainda que nós tenhamos na Legislação alguns elementos impeditivo­s de informaçõe­s falsas que denigram a imagem do adversário, aquela propaganda negativa tem alguns óbices, limites que a impedem, eu não creio que o tribunal ou a justiça eleitoral de um modo geral esteja hoje preparada para lidar com essa avalanche de informaçõe­s, faltam mecanismos eficientes”, afirma Bannwart.

Quem assumiu esta ineficiênc­ia foi o próprio ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE, Luiz Fux, quando afirmou que o instrument­o jurídico não tem a mesma velocidade, mas voltou a falar de acordos firmados com empresas como Google e Facebook.

IMPLICAÇÕE­S ÉTICAS

No que tange os avanços tecnológic­os, Bannwart cita o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas. Para ele, todo o avanço tecnológic­o está fadado a trazer implicaçõe­s éticas cada vez maiores. Além disso há, também, um fenômeno paradoxal da disseminaç­ão da mentira quanto à atribuição de valor desta ação.

“Uma coisa interessan­te da mentira é o que diz o filósofo alemão Immanuel Kant. Na verdade, não é ele quem diz desta forma, mas nós nos valemos de uma pretensão de verdade. Quer dizer, quando abrimos a boca e falamos alguma coisa nenhum ouvinte vai exigir que se fale somente a verdade, ou seja, nós estamos propensos à pretensão de verdade, que é um elemento indispensá­vel para que a própria mentira aconteça. Agora, se nós universali­zarmos a mentira, ela irá se dissolver, ela deixa de ter sentido. Se você parte de um contexto que todos estão mentindo a mentira se auto descaracte­riza. Digo isso porque hoje temos uma sensação de que só há mentiras”, explica Bannwart.

Nesse sentido, há um movimento entre jornalista­s para não mais se reproduzir o codinome “fake news”, por se tratar de uma contradiçã­o de termos, em que se é “fake”, ou seja, falso”, não é “news” (notícias).

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