Morre fundador do PT que pediu impeachment de Dilma
São Paulo – O jurista Hélio Bicudo, fundador do PT (Partido dos Trabalhadores) e um dos autores do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, morreu nesta terçafeira, aos 96 anos. Seu corpo começou a ser velado às 17h, em São Paulo. O enterro, restrito aos familiares, está marcado para às 10h desta quarta (1º). A saúde do advogado era frágil desde 2010, quando sofreu um AVC. Debilitou-se ainda mais em março deste ano, quando morreu sua mulher, Déa Pereira Wilken Bicudo, após 71 anos de casamento. Ele deixa sete filhos, netos e bisnetos.
Ativista dos direitos humanos, Bicudo ganhou notoriedade nacional ao condenar integrantes do Esquadrão da Morte, organização paramilitar dos anos 1970. Na vida política, o advogado também foi deputado federal de São Paulo por dois mandatos consecutivos, de 1991 a 1999, e vice-prefeito de São Paulo, na gestão de Marta Suplicy (então PT), de 2001 a 2005.
Em 1989, pouco após a eleição presidencial, Bicudo entrou com representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o candidato eleito, Fernando Collor, alegando que ele mentira durante a campanha e abusara do poder econômico. Em 1992, como deputado federal, votou a favor da admissibilidade da abertura do processo de impeachment de Collor.
Bicudo foi eleito para a Câmara Federal em 1990, com quase 100 mil votos; reelegeu-se quatro anos depois, com cerca de 55 mil votos. Em seus mandatos parla- mentares apresentou emendas constitucionais que propunham modificações no sistema penitenciário e na estrutura policial. Um de seus projetos aprovados transferia para a Justiça comum o julgamento de policiais militares que cometessem crimes dolosos no exercício de suas funções.
Em 1996, assumiu o posto de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Suas posições contrárias ao aborto e à esterilização na rede pública de saúde tornaram-no uma espécie de porta-voz da Igreja Católica dentro do PT.
Tornou-se membro, para um mandato de quatro anos, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, pela Assembleia Geral da OEA. Depois presidiu a comissão entre 1998 e 2001.
Em 2000 elegeu-se viceprefeito de São Paulo na cha- pa encabeçada por Marta Suplicy, posto que ocuparia até janeiro de 2005.
ROMPIMENTO
Em setembro daquele ano, anunciou sua saída do PT junto a nomes como Plínio de Arruda Sampaio, Ivan Valente e Chico Alencar - após a revelação do escândalo do mensalão, que culminou na condenação de líderes do partido como José Dirceu e José Genoino. Diferentemente de outros dissidentes, preferiu não se filiar mais a nenhuma sigla.
Em entrevista à Folha de S.Paulo na ocasião, declarou que o PT se afastara “dos ideais éticos e morais”. Afirmou também que não votaria em Lula novamente.
“Do meu ponto de vista, o presidente da República não pode se eximir de fatos que acontecem na sua administração. E os fatos são desabonadores. O presidente não pode ignorar, fazer ressalva de que está sendo traído, e não fazer coisa nenhuma. Existem erros por ação e erros por omissão. Se não houve atuação na compra de deputados, houve omissão.”
IMPEACHMENT
Em setembro de 2015, apresentou à Câmara dos Deputados um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O documento era também assinado pelo jurista Miguel Reale Jr. e pela professora de direito da USP Janaina Paschoal.
Bicudo argumentou que Dilma cometeu crime de responsabilidade. Elencou, entreoutrosmotivosparao seu afastamento, as chamadas “pedaladas fiscais”, manobras do governo federal para adiar pagamentos e usar bancos públicos para cobrir as dívidas.