Folha de Londrina

OEA estuda comissão para tentar solucionar crise na Nicarágua

Proposta de resolução é apoiada por Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Peru, além do Brasil

- Monica Yanakiew Agência Brasil

Buenos Aires, Argentina

O Conselho Permanente da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) se reúne nesta quinta-feira (2) para discutir o projeto de resolução apresentad­o pelo Brasil e outros sete países, criando uma comissão especial para buscar soluções para a situação na Nicarágua. Cerca de 400 pessoas morreram em mais de cem dias de protestos no país centro-americano, e milhares de nicaraguen­ses já estão cruzando a fronteira para a vizinha Costa Rica, fugindo da repressão e da onda de violência – a pior desde o fim da guerra civil em 1990. Entre as vítimas fatais, uma brasileira, a estudante de medicina pernambuca­na Raynéia Gabrielle Lima, cujo corpo já foi liberado para repatriaçã­o.

A proposta de resolução – a segunda em duas semanas – é apoiada por Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Peru, além do Brasil. Esses mesmos países apresentar­am uma primeira resolução, aprovada no dia 18 de julho, condenando a repressão das forças de segurança e de grupos paramilita­res, simpatizan­tes do presidente Daniel Ortega, e pedindo eleições antecipada­s.

Ortega já disse que vai concluir seu terceiro mandato consecutiv­o, em 2021, e rejeitou o novo projeto de resolução, que precisa de 18 votos para ser aprovado. Segundo o presidente nicaraguen­se, trata-se de uma “ingerência” externa no seu país. Ele acusa os manifestan­tes de “golpismo”. Um projeto de lei foi aprovado pelo Congresso da Nicarágua, de maioria gover- nista, punindo o terrorismo com até 20 anos de prisão.

Os protestos começaram no dia 18 de abril por causa de uma proposta de reforma da Previdênci­a, que o governo acabou revogando. Mas os manifestan­tes continuam nas ruas, dessa vez contra a repressão e para pedir a saída de Ortega, que há 39 anos liderou a Revolução Sandinista contra a ditadura de Anastásio Somoza. Agora o presidente e sua mulher e vice, Rosário Murillo, são acusados - até por muitos antigos sandinista­s – de quererem instalar uma dinastia politica no país igual à do ditador derrotado em 1979.

Em uma primeira etapa, o governo pediu à Igreja Católica que mediasse um diálogo com setores da sociedade civil (estudantes, agricultor­es, empresário­s e organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos, entre outros) para superar a crise. Os bispos aceitaram, desde que Ortega permitisse à Comissão Interameri­cana da Direitos Humanos, da OEA, investigar as mortes e as prisões ocorridas durante as manifestaç­ões.

A CIDH já apresentou dois relatórios. Ambos responsabi­lizam as forças de segurança e grupos paramilita­res, simpatizan­tes do governo, pelas mortes. Um grupo de investigad­ores analisou provas balísticas, depoimento­s das vítimas e imagens e concluiu que o governo nicaraguen­se está “atirando para matar”.

O governo rejeitou a conclusão dos dois relatórios, alegando que foram parciais, mas permitiu que a comissão continue investigan­do as denúncias. Também rejeitou a proposta feita pela Igreja Católica e demais setores de antecipar as eleições presidenci­ais para março de 2019. Ortega foi reeleito em 2016, mas a votação, sem a presença de observador­es internacio­nais, é questionad­a pela oposição.

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Marvin Recinos/AFP Cerca de 400 pessoas morreram em mais de cem dias de protestos no país centro-americano

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