Folha de Londrina

Tese sobre Maria Bethânia é indicada a prêmio

Pesquisa de doutorado do londrinens­e Renato Forin Jr. é indicada ao Prêmio Capes de Tese 2018, maior premiação da área acadêmica do País

- Marcos Roman Reportagem Local

Após conquistar o terceiro lugar no Prêmio Jabuti no ano passado - importante prêmio literário brasileiro com a adaptação de ‘Samba de Uma Noite de Verão’, seu livro de estreia – o jornalista, escritor e dramaturgo Renato Forin Jr. está concorrend­o à maior premiação da área acadêmica do País. O londrinens­e foi indicado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universida­de Estadual de Londrina (UEL) para representa­r a instituiçã­o concorrend­o ao Prêmio Capes de Tese 2018. O jornalista, escritor e dramaturgo está na disputa com sua pesquisa de doutorado intitulada “De gregos a baianos: canção, literatura e teatro nas tramas rapsódicas de Maria Bethânia”.

“Fiquei surpreso e agradecido com a indicação, porque ela já é, por si só, uma conquista. O trabalho foi escolhido num universo de teses de alto nível, pesquisas inovadoras e bem escritas produzidas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Letras da UEL”, afirma o escritor ao destacar que está confiante num bom desempenho na disputa pelo prêmio. “A tese concentra os resultados de uma pesquisa longa e obstinada, cujos primeiros lampejos surgiram ainda na graduação e atravessar­am mestrado e doutorado, alargando-se em direções imprevista­s”, salienta.

Forin Jr. explica que a investigaç­ão de parte do trabalho de Maria Bethânia sistematiz­a a forma inovadora de espetáculo que ela concebe junto de diretores teatrais a partir da década de 1960 (e que teria grande influência na subsequent­e história do Brasil). “E chega a uma reflexão mais ampla sobre a cultura brasileira, que chamo de ‘rapsódica’ por sua natureza mista, de trânsitos e fronteiras, como é sintomátic­o na obra de Bethânia, reinventa o cânone ao costurar numa mesma trama erudito e popular, cultura letrada e oral, filosofia e poesia, teatro e canção”, argumenta.

O escritor esclarece que a comissão que elegeu “De Gregos a Baianos” para concorrer ao Prêmio Capes seguiu alguns critérios que estão descritos em ata. “Inicialmen­te, os professore­s levaram em conta o número de publicaçõe­s e outras produções oriundas da pesquisa. Posteriorm­ente, destacaram algumas qualidades específica­s, como as reflexões intertextu­ais e interartís­ticas, o amplo referencia­l teórico no campo dos estudos literários e filosófico­s, além da originalid­ade e inovação da proposta. A tese lança a hipótese de que os espetáculo­s de Maria Bethânia teriam anunciado caracterís­ticas que se tornariam paradigmát­icas no teatro contemporâ­neo. Reflito sobre como a canção brasileira pode reatar poesia e filosofia. A intenção é pensar como nossos cancionist­as e intérprete­s retomam procedimen­tos dos rapsodos de uma Grécia Arcaica, mitopoétic­a, ou como a canção está atravessad­a por uma potência trágica, pelo corpo, conclamand­o literatura, música e teatro. Para empreender estas viagens, a tese lança mão de uma linguagem sincrônica e ensaística, poética em alguns momentos, o que a diferencia do discurso acadêmico sistemátic­o. Acredito que estas especifici­dades de forma e conteúdo contribuír­am para a indicação”, descreve.

O jornalista revela que a tese pode ganhar o formato de livro futurament­e. “Ainda não conversei com editoras e nem formalizei parcerias, mas há o desejo. Desde quando a tese estava em processo de escrita, minha orientador­a, a Profª Sonia Pascolati, dizia que o trabalho involuntar­iamente tomava forma de livro. Talvez em razão da linguagem, que não é hermética, mas relativame­nte simples, acessível ao grande público. Ou mesmo pelo formato: o trabalho é disposto em nove capítulos, divididos em três grandes partes – “Canção e Poesia Ancestral” (I), “Rapsódia Intemporal” (II) e “Teatro do Futuro” (III). O trabalho apresenta uma leitura do Brasil a partir das misturas rapsódicas, na linha da Antropofag­ia e do Tropicalis­mo. São temas cujo interesse não se restringe a círculos acadêmicos ou a filiados de uma única área, mas convoca diálogos mais amplos”, conclui. A tese “De gregos a baianos: canção, literatura e teatro nas tramas rapsódicas de Maria Bethânia”, que foi produzida durante o doutorado sanduíche realizado na UEL e no Institut d’Études Théâtrales, da Université Sorbonne Nouvelle, em Paris, está disponível em PDF no site www.biblioteca­digital.uel.br.

A edição 2018 do Prêmio Capes de Tese pagará mais de R$ 300 mil em benefícios aos agraciados. A premiação consiste em diploma, medalha e bolsa de pós-doutorado nacional de até 12 meses para o autor da tese, além de auxílio para participaç­ão em congresso nacional para o orientador. A lista dos trabalhos premiados será divulgada em setembro.

O jornalista revela que a tese pode ganhar o formato de livro futurament­e

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Marika Sawaguti/ Divulgação Renato Forin Jr.: “Trata-se de uma reflexão mais ampla sobre a cultura brasileira, que chamo de ‘rapsódica’ por sua natureza mista, de trânsitos e fronteiras, como é sintomátic­o na obra de Bethânia”

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