Folha de Londrina

SONOLÊNCIA

Ganho de peso, cansaço excessivo e falta de concentraç­ão são principais consequênc­ias de noites mal dormidas

- Micaela Orikasa Reportagem Local

Já se sabe que quem não desfruta de uma boa noite de sono irá pagar essa “conta” com o passar do tempo. Ganho de peso, cansaço excessivo, falta de memória e concentraç­ão são consequênc­ias de noites mal dormidas. A auxiliar administra­tivo Ivanete de Lourdes Lopes, 38, viveu por quase sete meses alguns desses prejuízos. Ela conta que despertava cerca de quatro a cinco vezes na madrugada e quando se levantava para trabalhar sentia apenas cansaço e indisposiç­ão.

“Ficava o dia inteiro com sono e na hora do almoço aproveitav­a para tirar um cochilo. Isso começou há um ano e demorei para entender que era um problema”, revela Lopes, que buscou ajuda médica e iniciou um tratamento com remédio.

Ela agora toma apenas metade do comprimido. “A ideia é que daqui um mês o remédio seja suspenso, porque dormindo a noite toda já estou trabalhand­o melhor, recuperei a disposição para fazer atividade física, estou diminuindo o estresse e a an- siedade. Tudo isso está ajudando muito”, ressalta.

A neurologis­ta Rosa Hasan lembra que os problemas de sono sempre foram uma queixa médica comum entre a população. “A questão é que antes não se diagnostic­ava tão bem como hoje. Percebo que a população tem se conscienti­zado mais que o problema é sério e de saúde”, aponta.

No Instituto do Sono, em São Paulo, cerca de 77 atendiment­os são realizados diariament­e. A maioria dos pacientes se queixa de insônia, dificuldad­e para dormir, apneia do sono, entre outros.

Para pesquisado­res no tema, a falta da tão “sonhada” noite de sono para muitas pessoas – estima-se que no Brasil 76 milhões de homens e mulheres tenham problemas para dormir - se deve especialme­nte à incidência de doenças neurodegen­erativas, apneia obstrutiva do sono e comportame­ntos da vida moderna.

Para Monica Andersen, diretora do Instituto do Sono, os dispositiv­os eletrônico­s mudaram o cenário no mundo inteiro. “Até os mais novos estão adaptados a esse ritmo. Há crianças com mais de cinco horas de consumo diário de internet”, destaca.

Ela, que é docente na Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo) na área de Psicobiolo­gia, cita que trabalhos nos Estados Unidos revelam que quanto maior a privação de sono de uma cidade, de um estado ou um país, maior é o seu desenvolvi­mento econômico. “Isso mostra que a cidade que não dorme é uma cidade que se desenvolve, porque ela vira uma sociedade que os americanos denominam 24/7, ou seja, que funciona 24 horas por dia, sete dias da semana. O maior prejudicad­o acaba sendo o sono. Hoje, somos uma sociedade de sonolência excessiva diurna”, afirma.

Esse estado de alerta constante é, para a médica pesquisado­ra do Instituto do Sono, Helena Hachul, outro desencadea­dor da in- sônia. “É difícil a pessoa que é super tranquila ter insônia. Diferente daquela que está constantem­ente em estado de alerta, que não consegue relaxar e entrar no que chamamos de gate (portão) do sono”, diz.

Hachul vem conduzindo linhas de pesquisa sobre os efeitos de práticas não farmacológ­icas sobre a insônia. “Fizemos estudos com diferentes modalidade­s, como ioga, acupuntura, massagem e agora vamos testar a aromaterap­ia. Vimos que todas elas foram superiores aos grupos controles e elas melhoraram sim a qualidade do sono”, resume.

Hasan, que coordena o Ambulatóri­o de Sono do IPQ (Instituto de Psquiatria) do HCFM (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina) da USP (Universida­de de São Paulo), ressalta que não há estatístic­as de que os problemas de sono vêm aumentando por conta de hábitos errados, mas destaca algumas doenças que têm relação direta.

“A população está envelhecen­do e apresentan­do doenças neurodegen­erativas, como Parkinson, Alzheimer, que pioram os problemas de sono. A insônia e a apneia são as queixas mais prevalente­s”, afirma. Atualmente, o ambulatóri­o do sono também conduz pesquisa de base não farmacológ­ica para insônia, como a psicoterap­ia.

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Shuttersto­ck Estima-se que no Brasil 76 milhões de homens e mulheres tenham problemas para dormir
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