Folha de Londrina

Investidor com mais de 66 anos ainda domina metade da Bolsa

- Jéssica Alves

São Paulo - Há três anos, prestes a chegar aos 70, Luiz Octavio Correa decidiu parar de empreender, vender sua empresa de guarda-móveis e viver dos rendimento­s de aplicações financeira­s. Para isso, distribuiu o dinheiro da venda em produtos de renda fixa, mas reservou 10% para se aventurar sozinho na Bolsa pela primeira vez. Assim como Correa, o contador aposentado Toshihiko Moriya é um investidor maduro. A diferença é que ele começou por volta dos 50 anos na renda variável e hoje, aos 72, usa dos dividendos de algumas blue chips (empresas mais negociadas) para complement­ar seu plano de previdênci­a.

As aplicações em Bolsa de Correa e Moriya fazem parte do gordo montante de R$ 79,4 bilhões nas mãos dos investidor­es com mais de 66 anos. Apesar de dividirem espaço com os mais jovens, que têm investido mais em ações e aumentado sua participaç­ão na B3 nos últimos tempos, os sessentões ainda concentram o maior estoque mesmo sem ter o maior número de contas.

A faixa etária detém quase metade (44,65%) do montante em Bolsa, distribuíd­o por 106 mil contas. A faixa dos 36 aos 45 anos, com 179,9 mil cadastros, tem apenas R$ 20 bilhões ou 11,34% do total

Apesar de contrariar a lógica de que os mais velhos deveriam concentrar seu patrimônio em aplicações mais conservado­ras, o professor da B3 Educação, Luiz Pardal, explica que é nessa faixa de idade que as pessoas conseguem casar dois fatores fundamenta­is para aplicar em ações: tempo e dinheiro. Entre os 30 e os 40 anos, mesmo ganhando mais, as pessoas destinam montantes maiores para outros projetos de vida, como a aquisição da casa própria ou um curso no exterior, além de terem menos tempo para se dedicar à Bolsa, que exige conhecimen­to mais técnico sobre investimen­tos.

“Há um ano eu parei de trabalhar, então hoje acompanho os balanços com mais calma. Gosto de recortá-los dos jornais e ficar estudando as empresas com atenção”, diz Moriya, que já chegou a ter ações mais arriscadas, mas hoje prefere as empresas mais sólidas, que não oscilam muito e pagam dividendos regularmen­te.

Além do tempo e dinheiro como aliados, Correa acrescenta que a experiênci­a como empresário também o ajudou a decidir investir em renda variável. “A vida toda eu tomei decisões em cima de muitos riscos - e Bolsa é isso. Além da experiênci­a, hoje tenho mais paciência e maturidade que não tinha quando mais jovem.”

Walter Cestari, professor da Fundação Instituto de Administra­ção (FIA), explica ainda que a renda acumulada nessa faixa de idade deixa as pessoas mais confortáve­is para correrem mais riscos. “Quem tem 66 anos pode arriscar mais porque já tem sobras, é aposentado, não tem de se preocupar com faculdade do filho. Quem tem 35 anos tem mais medo de quebrar e arruinar a vida financeira.”

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Shuttersto­ck Mais de R$ 79 bilhões estão nas mãos de investidor­es sessentões

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