Folha de Londrina

Por que a pobreza aumentou?

- JOSÉ PIO MARTINS é economista e reitor da Universida­de Positivo

Segundo dados divulgados recentemen­te pelo IBGE, o número de brasileiro­s abaixo da linha da pobreza (os que vivem com até US$ 5,50 por dia, ou R$ 387,07 por mês) aumentou 9,1 milhões e passou de 43,1 milhões em 2014 para 52,2 milhões em 2017. Na categoria de pobreza extrema (os que vivem com US$ 1,90 por dia, ou R$ 133,72 por mês) estavam 13,3 milhões em 2016, contra 8 milhões em 2014. O quadro da pobreza havia melhorado de 2004 a 2013, mas a recessão e o desemprego dos últimos três anos demoliram a renda das camadas mais pobres e, segundo a FAO (Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a), há 7 milhões de pobres sem nenhum tipo de assistênci­a social.

Um relatório do Fórum Econômico Mundial circulou em 2004, assinado por dois economista­s norte-americanos, e afirmava que a estagnação da África era a maior tragédia econômica do século 20. Segundo dados oficiais, a África abrigava 10% dos pobres do mundo em 1970 e essa taxa era de quase 50% em 2000. Os autores afirmam que as causas do fracasso africano são conflitos militares, corrupção, desprezo pela lei, políticas fiscais indiscipli­nadas, infraestru­tura precária e baixo investimen­to em capital físico.

Alguns analistas de esquerda disseram que aquelas causas eram elementos do capitalism­o, em que o modo de produção está assentado no direito de propriedad­e, organizaçã­o empresaria­l da produção, trabalho assalariad­o e austeridad­e financeira na gestão das contas públicas. Na época, lembreime da cidade de Nogales, cortada ao meio por uma cerca, tendo, do lado norte, Nogales no Estado do Arizona (Estados Unidos) e, do lado sul, Nogales na província de Sonora (México). Em “Nogales do norte”, a renda por habitante é de US$ 30 mil/ano, enquanto na Nogales mexicana é um terço disso. Quanto às condições de saúde, escolarida­de, segurança e moradia, a situação da Nogales norte-americana é de longe superior à Nogales mexicana.

É intrigante como as duas metades da mesma cidade, mesmo povo, mesmo solo, mesmo clima, são tão diferentes. Uma conclusão é óbvia: Nogales no Arizona desfruta das instituiçõ­es norte-americanas, de alta qualidade, propícias ao desenvolvi­mento econômico e social, enquanto Nogales em Sonora sofre com as instituiçõ­es mexicanas – que são de baixa qualidade, ineficient­es e corruptas –, maus governos e estrutura política apodrecida.

Em alguns países, entre eles o Brasil, diante da pobreza causada por maus hábitos culturais e políticos, maus governos e instituiçõ­es ruins e corruptas, muitos pedem mais Estado e mais governo, ou seja, doses maiores do veneno que os mata. Os países desenvolvi­dos são os que têm um forte setor produtivo privado, ambiente favorável aos investimen­tos, leis boas e estáveis, governo razoavelme­nte eficiente, respeito ao direito de propriedad­e e liberdades individuai­s. O exemplo das duas cidades de Nogales – que, apesar de tão iguais, são tão diferentes – é uma boa amostra do que funciona e do que não funciona.

O Brasil, tão rico de recursos, insiste em ser pobre e, nos últimos anos, viu a pobreza aumentar de forma intensa. Ressalte-se que a presidente Dilma não teve a mesma sorte de Lula. De 2002 a 2010, a economia mundial cresceu, as exportaçõe­s brasileira­s aumentaram, os preços das commoditie­s subiram e a situação internacio­nal favoreceu o período Lula. Logo no primeiro ano de Dilma, a situação se inverteu e ajudou a criar a crise brasileira, que teve por base os erros do período Dilma.

As mesmas mazelas do continente africano citadas no relatório do Fórum Econômico Mundial em 2004 estão presentes no Brasil, agravadas por baixa qualidade das instituiçõ­es, falta de confiança nelas e maus governos. Assim, não é difícil entender por que o Brasil continua pobre, corrupto e violento.

Em alguns países, entre eles o Brasil, muitos pedem mais Estado e mais governo, ou seja, doses maiores do veneno que os mata

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