NO MEU TEMPO DE ESCOLA A descoberta da importância do solo
O pesquisador Marco Antonio Nogueira fala da infância no meio rural e de suas vivências escolares
Ocientista Marco Antonio Nogueira que, desde 2010, atua como pesquisador da Embrapa Soja realizando pesquisa científica em Microbiologia e Bioquímica do Solo, tem uma carreira que começou cedo. De origem humilde, nascido em família de agricultores em Cândido Mota, no interior de São Paulo, cresceu entre plantações. Ainda criança, pretendia seguir os passos do pai, agricultor que, contudo, o incentivou a estudar. Portanto, o pesquisador cursou o Ensino Médio em um colégio técnico agrícola, trabalhou na extensão rural e depois cursou a faculdade de Agronomia. Depois disso, prosseguiu com mestrado e doutorado em Solos e Nutrição de Plantas, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, na Universidade de São Paulo. Ao concluir a pós-graduação, tornou-se professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), em 2002, onde ministra até hoje aulas na graduação e pós-graduação. Entre 2015 e 2016, atuou como Cientista Visitante e concluiu o pós-doutorado, na Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA.
O que me marcou no primário (ensino fundamental, hoje), principalmente, era entender o funcionamento celular, a divisão de células. Me chamava a atenção quando comecei a entender de biologia, a origem da vida e como tudo isso funcionava.
As melhores lembranças que tenho eram os dias chuvosos, nublados, amenos, que criavam um ambiente gostoso para ficar em sala de aula estudando. E, também, porque minha origem é agrícola e meus pais e avós eram agricultores, por isso, a gente sofria quando parava de chover, porque a lavoura podia se perder.
Gostava mais de biologia e não tem uma que gostava menos. Talvez tivesse, quando criança, um pouco de dificuldade com português, dificuldade que depois foi superada ao reconhecer a importância de estudar a língua portuguesa.
Gostava de comer a merenda da escola. Era escola pública e não tinha cantina. Tenho na lembrança as sopas produzidas com proteína texturizada de soja (PTS). Eu adorava aquilo. O governo de São Paulo tinha um programa na década de 80 de enriquecer a merenda com PTS.
Sim, levei bronca uma vez no primário. A professora permitiu, no final da aula, que as crianças ficassem à vontade. Eu fiz um aviãozinho de papel e o soltei no ar, trombando com a cabeça da professora, que ficou muito brava.
Sempre tirei boas notas e ficava entre os alunos que estavam no terço superior. Gostava muito de biologia.
Sim, gostava. Lembro-me uma vez, com 8 ou 9 anos, que peguei a escova de lavar roupa da minha mãe, um balde com água e fui para o quintal de terra. Comecei a esfregar a esponja no chão. Queria entender o que tinha na terra. Queria entender se eu lavasse o solo e separasse as partes, o que iria sobrar. Inconscientemente eu estava fazendo um estudo da composição da estrutura do solo.
Eu sabia que provavelmente seria agrônomo, por causa da minha vida: fui criado no sítio, em meio às plantações e ajudava meu pai. Gostava de ver as máquinas trabalhando; de sofrer junto por falta de chuva, de ficar animado quando chovia. E como estudante de Agronomia já pensava que se fosse fazer uma pós-graduação seria na área de solos.