O CINÉFILO FIEL
“Missão Impossível – Fallout” é cinema popular de muita qualidade
Aos 34 ele fez o primeiro filme da franquia. Agora, aos 56, está no sexto. Ele se quebra mas se diverte. Sozinho. Sem dublês. E está divertindo muitos milhões de espectadores, dando continuidade à serie de aventuras do time IMF (Impossible Mission Force), uma espécie de CIA alternativa (!) capaz das maiores proezas para liquidar vilões de maldades variadas e cuja eficácia é aceita, mas jamais reconhecida pela oficialidade do governo dos EUA. Tom Cruise encontrou sua praia saltando de paraquedas em meio a uma tempestade magnética, pendurado em helicópteros, cavalgando motos na contramão em ruelas de Paris, saltando edifícios, escalando a verticalidade de picos arrepiantes. Tudo em carne e osso, à moda clássica do gênero de ação, fazendo um super-herói sem invocar a adrenalina dos superpoderes divinos.
Em “Missão Impossível – Fallout”, a vertigem e o espetáculo de cada sequência contém uma visceralidade que o cinema de aventuras contemporâneo parecia ter esquecido, exatamente no que se refere à escala humana. Ethan Hunt é inegavelmente crível (apesar de tudo...) na pele de Tom Cruise que encarna com admirável – e invejável, por que não? – desprendimento físico quase aos 60 anos. A verossimilhança que o ator dá ao agente não está no argumento dos filmes, nas incríveis sequencias de ação, lutas ou perseguições. Aqui é preciso deixar-se levar pelo que se sente, por certa adrenalina, e esquecer as regras do relato convencional do cinema. E muito provavelmente é isso que ele faz. E nos leva, espectadores, a fazer também.
Este “Missão Impossível” é um imperdível circo acrobático, uma sucessão de blocos de cenas de ação magnificamente filmadas e dispostas em narrativa que se segue magnetizado. O ponto de partida, como sempre, é básico e ao mesmo tempo épico (frustrar os planos de traficantes de plutônio. Hunt e seus fiéis parceiros (Vigg Rhames e Simon Pegg) vão a Berlim, Londres, Paris e Caxemira em busca do objetivo. Mestres do faz de conta, os protagonistas terão agora a incomoda companhia de um novo agente (Henry “SuperHomem” Cavill) e terão que se equilibrar entre uma disputa entre seus superiores (Alec Baldwin e Angela Bassett) e vários personagens da pior espécie. Há uma minuciosa e eficaz engrenagem dramática concebido pelo também diretor Christopher McQuarrie, que incluiu também uma subtrama romântica que combina as duas mulheres que marcaram a vida afetiva de Hunt, vividas pelas belas Rebeca Ferguson e Michele Monaghan.
Na contramão das franquias que penam para se manter em pé, a de “Missão Impossível” tem sido capaz não apenas de uma reciclagem, mas também de reinventar-se com convicção e vitalidade acima da média, revigorando a vertente de aventuras em todo seu esplendor. Coisa rara, coisa de quem ama de fato o ofício de fazer cinema de alto nível. Cinema popular de muita qualidade.