Acolhida para minimizar os sentimentos negativos
A psicóloga Millien Lacerda Malinowski, que atua como analista judiciária no NAE (Núcleo de Apoio Especializado à Criança e ao Adolescente) em Londrina, explica que no projeto Entrega Legal as mulheres contam com um acompanhamento, independente de determinação judicial.
“Atendemos a partir de uma demanda espontânea ou encaminhamento pela rede municipal de saúde, com um trabalho de acolhimento, escuta e reflexão a respeito das motivações que elas têm para tomarem essa decisão”, diz.
A ideia, de acordo com Malinowski, não é convencimento nesse processo de decisão. “É ajudá-la na consciência desse ato e minimizar os sentimentos negativos que possam surgir, como culpa, arrependimento. Claro que eles podem surgir no decorrer ou após o processo, mas buscamos reduzir os danos que ela possa ter em decorrência da escolha da entrega”, sustenta.
A psicóloga lembra ainda que a mulher não será punida por fazer essa escolha, e que o fato dela buscar ajuda nesse processo vai dar um suporte para superar qualquer pressão social que possa existir.
“Isso está muito ligado ao chamado “mito do amor materno”, que é aquela maternidade vista como inata, em que o amor materno é visto como incondicional, como se fosse uma faculdade natural de todas as mulheres. Muitas vezes, a mulher sofre essa pressão social por recursar ou não desejar esse papel naquele momento. Ela é desqualificada e pressionada tanto pela família quanto pelo círculo social. A gente precisa acolher e empoderá-las para que se sintam, realmente, exercendo um direito”, completa.