Construção de futuros líderes
A carência de profissionais talhados a protagonizar mudanças de processos cria oportunidades aos dispostos à “construir uma experiência perene” na vida e na sociedade
Nem à deriva, nem ancorado, o que de fato importa é navegar até mesmo “abraçado” ao problema. Eis uma das coordenadas do navegador e empresário brasileiro Amyr Klink, palestrante convidado pelo Sebrae-PR (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para o lançamento do Polo de Liderança Sebrae, realizado na última quinta-feira em Curitiba. A iniciativa que abre uma programação permanente voltada à capacitação de pessoas para exercerem a liderança e melhorar o entorno, confirma a carência por profissionais talhados, tal qual o navegador, a “estarem preparados a mudar o planejamento a cada 30 minutos, ajustando-se a dinâmicas e rotinas completamente novas”, a fim de construir uma experiência que fica.
“Hoje é ainda mais evidente que o valor está na experiência que a gente constrói, isso é o que permanece. Não somos donos de nada, as taxas que envolvem ser proprietário de um imóvel nos fazem recomprá-lo a cada 40 anos, basta calcular isso e há vários outros exemplos da provisoriedade das coisas, o que é perene, o que é permanente, é a experiência, liderar o processo”, argumenta Klink.
Esse apetite por “fazer bem feito o tempo todo” e de maneira diferente, única, “protagonizando o processo para atingir um determinado objetivo”, é o que aproxima todo o conhecimento acumulado pelo navegador, que dentre tantos feitos, em 1984, conseguiu ser o primeiro a completar a remo a travessia do Atlântico, de tanto profissionais que têm na construção do próprio caminho o exercício da liderança.
Em Londrina, a diretora pedagógica do Colégio Sigma, Silvia Helena Raimundo de Carvalho, trilhou um caminho profissional inusitado. “Tenho quase 40 anos de formada em Pedagogia, em uma época que se imaginava a profissão restrita à sala de aula com crianças. A partir de uma demanda vinda de uma empresa de café para qualificar os funcionários, que passei a buscar desenvolver habilidades diferentes das aprendidas no curso como marketing e planejamento estratégico e conduzi minha profissão para outro rumo, o da educação corporativa e da gestão, muito antes de se falar nisso”, relembra Silvia.
Ela conta que quando a empresa a chamou para a missão, quase desistiu por considerar que era algum trabalho de alfabetização de adultos. “Na verdade, era um trabalho para formar os multiplicadores de capacitação nas empresas interessadas em implementar o programa de gestão de qualidade 5 S, pouco conhecido na época. Não foi fácil, precisei inventar um caminho, mas foi a capacidade de tentar de forma responsável e resiliente que me permitiu fazer o que hoje vejo que funcionou nas universidades corporativas”, explica.
O protagonismo em resolver questões que inspirou Silvia a introduzir na grade do Ensino Médio a disciplina de “Mentoring Class”, na qual profissionais de diversas áreas, da Psicologia à Pesquisa, assumem o papel de mentores, proporcionando aos alunos a oportunidade de trabalhar em oito módulos com diferentes metodologias e dinâmicas, temas relacionados às escolhas referentes ao futuro profissional. “Começamos trabalhando o autoconhecimento, para avançar na realidade de profissões ou habilidades necessárias aos profissionais do futuro. Hoje, trabalhamos com a perspectiva de alunos que estão sendo preparados para um mundo bem mais complexo e para desempenhar funções ou profissões que ainda não existem. Daí a necessidade de mesclar informações sobre a realidade de formações consolidadas nas áreas da Saúde, Arquitetura e Direito, com habilidades inerentes a todas as funções como sustentabilidade e liderança”, descreve. “O Mentoring surgiu de uma insatisfação geral, pais, alunos e mercado, com a dúvida de quem chega ao final do Ensino Médio sem condições de tomar uma decisão, de fazer uma escolha munida de preparação. Os pais já têm percebido a mudança de postura dos filhos, o que considero imprescindível diante de um contexto em que é fundamental construir a própria profissão”, defende. Nesse aspecto, Silvia revela que o trabalho com os alunos tem surpreendido. “Quando abrimos para as oficinas de liderança e youtuber, tive receio de que esvaziasse o interesse pela liderança, mas a procura foi meio a meio, mostrando que o trabalho para a tomada de decisão está alcançando os objetivos, fazendo os alunos mais criteriosos”, aponta. Para a aluna da 2ª série do Ensino Médio, Gabriela Rossato, que optou pela liderança, foi uma escolha natural. “A liderança desenvolve autoconfiança, podendo nos tornar melhores profissionais de qualquer área, até um youtuber”, avalia Gabriela, dizendo que ainda cogita cursar Veterinária. “Aprender que você é capaz e que pode aprender com o outro são dois ensinamentos de liderança, que quero praticar por toda a vida”. Também aluna da 2ª série, Maria Julia Carraro preferiu liderança e já entendeu que as características de um bom líder envolvem respeito, ética, responsabilidade e resiliência. “Quero achar meu potencial e descobrir quem eu sou. Liderança envolve autodisciplina, ajudar outras pessoas e exercer uma influência boa”, acredita. Para a diretora Silvia, que também presta consultoria para empresas e é professora universitária, o entendimento disso atende a toda a sociedade. “Desconstruir estigmas como o de ser pago para executar e não para pensar é necessário, tanto que as empresas estão voltadas a desenvolver a liderança de seus colaboradores. Não cabe mais aquele comportamento de ser submisso às ordens, o profissional tem que ser protagonista do seu modo de fazer e resolver”, ensina.