Folha de Londrina

Exemplo é fundamenta­l para garantir bons hábitos

Pesquisa aponta que filhos de pais saudáveis são menos propensos a sofrer com excesso de peso

- Fabiana Schiavon Folhapress

- Um estudo da Universida­de de Harvard, nos Estados Unidos, comprovou que filhos de pais saudáveis são 75% menos propensos a sofrer com excesso de peso ao longo da vida. No dia a dia, no entanto, isso pode não ser tão simples, conforme constatam especialis­tas. “Claro que o modelo alimentar aprendido pelas crianças passa pelos pais. Mas a criança tem outras influência­s, que podem vir dos avós, da escola e até de propaganda­s. Juntando essas variáveis, nem sempre os pais saudáveis terão filhos que comem bem”, afirma a neuropsicó­loga Deborah Moss. “É muito importante dar boas opções às crianças. Não adianta oferecer uma bolacha recheada e uma maçã. O doce sempre ganha. Melhor se a escolha for entre uma uma maçã e uma pera.”

A empresária Karol Azevedo, 35, e o marido Amilcar Azevedo, 34, sempre foram preocupado­s em comer bem e com a chegada dos filhos isso aumentou. “Quando o Bernardo nasceu, a minha maior alegria era cozinhar para ele. Passava no mercado, comprava os ingredient­es, fazia sopinhas para diversos dias e congelava”, conta Azevedo, que é chef de cozinha e acabou abrindo uma empresa de marmitas infantis. Dessa forma, o casal aprendeu muito sobre alimentaçã­o infantil. “Oferecer repetidame­nte o mesmo alimento funciona. A criança pode não comer tomate na primeira vez. Mas eu insisto e coloco bem pouquinho. Depois, vou aumentando a porção, até que ele comece a comer sem perceber”, conta ela.

“Esse processo de incentivar o consumo de alimentos saudáveis deve ser paciente, pois nascemos com preferênci­a para o sabor doce, enquanto o consumo do azedo, do amargo e do salgado precisa ser aprendido”, explica Larissa Marconi, nutricioni­sta maternoinf­antil.

A neuropsicó­loga fala, ainda, sobre a relação da comida com tédio e com momentos de lazer. “Se a criança não tem o que fazer, ela sente fome e pede comida. Na maioria das famílias, tudo o que envolve afeto e lazer tem comida envolvida. Hoje tem visita em casa, então é preciso comprar um doce. Não deve ser assim o tempo todo.”

EQUILÍBRIO

Quando os hábitos dos pais são mais restritivo­s, o desafio aumenta. A gerente de marketing Andrezza Aldrighi Zimenez, 32, é vegetarian­a e tem uma filha de quase dois anos. “Eu a levei para a nutricioni­sta já aos seis meses e ela me ensinou um método que ajuda a criar uma relação saudável da criança com a comida. O meu marido come carne, mas eu pedi a ele que não desse a ela”, afirma Zimenez, que também é bastante preocupada com o consumo de doces.

Ela não pretende proibir a filha de comer doces nem carne, mas se preocupa em ensinar sobre o equilíbrio na hora de se alimentar. Esse meio-termo é importante, segundo a nutróloga e endocrinol­ogista Elaine Ferraz. “Os alimentos devem ser apresentad­os às crianças para que elas tomem a decisão do que consumir. Ensinar sobre o quefazbeme­oquenãofaz­é importante, porém os pais precisam ter em mente que o proibido causa curiosidad­e.”

BRINCAR FAZ BEM

Se adultos com problemas alimentare­s ou obesidade são obrigados a seguir dietas e a praticar exercícios, as crianças devem fazer isso de forma natural. A rotina da gerente de vendas Adriana Amorim, 48, conta que descobriu que o filho Lucas, nove anos, estava dez quilos acima do peso. “O médico disse que ele não precisava perder peso, mas seria preocupant­e se ele engordasse mais”, conta.

Ela convenceu uma personal trainer a abrir uma aula dedicada a crianças. “Ela tem uma casa enorme, com quintal, e ensina as crianças a pular corda, a usar a cama elástica, a jogar bola. É como uma brincadeir­a. O Lucas não tem irmãos e possui hábitos sedentário­s com os amigos. Todos só querem saber se videogame e celular”, explica.

As crianças não devem ser submetidas a dieta ou programa de exercícios, afirma a nutricioni­sta Mariana Claudino. “Na infância e na adolescênc­ia, o corpo muda, e é preciso respeitar as fases de cresciment­o. Tem mães que me procuram porque a filha de nove anos está barrigudin­ha, mas isso não quer dizer que a criança deve perder peso.”

O pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum destaca ainda que a criança que ganha muito peso ainda quando bebê não pode ser taxada de obesa. “O médico tem de ser responsáve­l e colocar em gráficos de peso e estatura para saber se a criança tem estruturas normais. Um pouco de peso a mais não significa que seja doente ou tenha colesterol alto. É preciso avaliar caso a caso.”

Há ainda a herança genética em casos de famílias com problemas de obesidade, que deve ser considerad­a. “Mesmo que a criança tenha na família casos de sobrepeso ou obesidade, é possível que ela não ative tais genes caso possua hábitos de vida saudáveis”, completa a nutricioni­sta Ariane Bomgosto.

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Ricardo Chicarelli O casal Renata Serrano Luppi e Edson Ferreira dos Santos pratica esporte com os filhos Gabriel, Rafael e Nicole: “O nosso custo com saúde é bem baixo”
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